Discriminação

Nos velhos tempos de minha juventude, costumavam dizer que o Brasil era um país tão desigual que poderia ser considerado como a junção de dois países diferentes: a Bélgica e a Índia, formando a tal Belgíndia que fez a delícia dos cientistas sociais por anos. O tempo passou, e acho que hoje lá na Índia os sociólogos dizem que seu país é um Belsil ou algo assim.
O negócio é que a desigualdade ocorre em todos os setores da vida nacional. No jornalismo de tecnologia, por exemplo, existem veículos grandes e chiques, veículos médios e legaizinhos, e veículos pequeninos e humildezinhos. É normal que as assessorias de imprensa convidem para uma determinada coletiva apenas representantes dos grandes. A visita dos fundadores do Google foi assim: os chiques falaram com os caras, e nós ficamos sabendo depois. É triste, mas é parte da realidade desigual em que vivemos. O que se vai fazer? Vamos tocando a vida e tentando vez por outra passar por cima dos grandes, como quando nós aqui furamos todo mundo com as informações financeiras do Google. Momentos raros de regozijo, mas muito bem aproveitados.
Eu ainda não tinha visto, porém, nada parecido com o que aconteceu hoje numa coletiva da Intel. Jornalistas de todo canto do Brasil estavam presentes para entrevistar o CEO da empresa e mais alguns executivos daqui de baixo. Ao término da coletiva, eu e mais dois colegas fomos tomar um café e falar bobagem. Quando saímos, encontramos alguns companheiros do alto clero reunidos na calçada. Falavam de um tal almoço, perguntaram se íamos também.
— Almoço? Que almoço?
Mostraram-nos seu convite para a coletiva. Era diferente do nosso: trazia no último parágrafo a informação sobre um almoço com os executivos numa churrascaria de alto nível ali na zona Sul. Nosso convite não mencionava almoço algum.
Pois muito bem: não faço questão de ser convidado para todas as coletivas, nem de almoçar às custas das empresas. O que aconteceu, porém, é um pouco mais sério. Os jornalistas grandões (que estavam inocentes na história toda) foram almoçar com os executivos, conversaram com eles mais de perto, podem ter conseguido alguma informação exclusiva, ou no mínimo mais aprofundada. Quanto a nós, do baixo clero, ficamos apenas com as informações divulgadas durante a coletiva e nos releases de imprensa. Com esse tipo de tratamento, a Intel espera mesmo que divulguemos suas novidades? O WiMAX é muito legal, as novas tecnologias móveis idem. No entanto, se era para dar informação privilegiada a apenas um punhado de jornalistas, porque não convidaram só a estes? Todos nós, os outros, temos mais o que fazer nas redações.
Eu sei que esse assunto tem nada a ver com este blog; é mais a praia do Edu, no Pérolas das Assessorias de Imprensa. Acontece, porém, que isso não foi uma pérola. Cagada seria o termo mais adequado.
Pronto. De volta à nossa programação normal. Coleguinhas jornalistas, comentem. Leitores que têm nada a ver com isso, desculpem-me.

20 comments

  1. Digamos que esse post é exatamente o que eu penso. Estou no quarto ano de jornalismo, faço estágio de assessoria numa empresa de tecnologia (aliás, eu te vi uma vez numa coletiva e parecia que eu estava vendo uma celebridade, porque eu sabia quem vc era e vc não poderia saber que eu sabia, hehehe). E eu só descobri que o “mundinho” entre jornalistas e assessorias é assim, podre, quando comecei a trabalhar. Não digo pela minha empresa, mas pelo que vejo em volta. Me fez simplesmente desistir de querer seguir carreira nesse negócio. Acho que vou fazer comunicação interna, arranjar um trampo de colunista (quem dera), escrever livros. Mas ser repórter ou assessor, tem que ter estômago.

  2. Marcolino,
    vejamos aqui o case de um serviço porco… Como diria Silvio Meira: “pense”…
    Vou para o outro lado cuidar de um grande cliente. Mas espero ter poder suficiente para evitar esse tipo de… bem, ia chamar de descuido, mas vou falar filhadaputagem mesmo…
    Beijocas!

  3. É, eu que penso em fazer jornalismo após terminar o curso de design… Por essas e outras razões é que se torna tão complicado trabalhar na profissão que a gente escolhe aqui no Brasil.
    Talvez eu tenha uma decepção maior ou igual a que tive ao escolher Design… É DOSE!

  4. Isso se chama preconceito.
    Fora toda essa cagada, a empresa deixou respingar a atitude em sua imagem. Agora, os jornalistas proletários, especializados em TI, pensarão duas vezes antes de consultar a Intel para alguma matéria.
    Como a direção de seu veículo reagiu? Pois a Intel gera vendas de exemplares da sua publicação. Mesmo assim eles não publicarão matéria?

  5. Marco, Marco…. Isso me lembra os casamentos na qual quem seria o padrinho ou quem seria um doador de primeira linha em potencial ganhavam aquele anexo minúsculo preso no convite convidando para a festa.
    A vida é assim.
    Milênios que não comento por aqui, milênios que leio diariamente teu blog.

  6. Tenho PÂNICO de jornalismo de tecnologia por ter estagiado em um site sobre isso e achar o assunto bastante PENTELHO.
    Fui a dois almoços da EMC, comi bem pra caralho, mas nada de realmente relevante foi dito, heh. E a atitude da intel foi deveras escrota, mas… é umpaís de escrotos, mesmo.

  7. Eu achei a url do seu site “interessante” (não que seja bom), e estou aqui para te falar a verdade que você precisava saber… JESUS nunca chicotiaria você, muito menos o maior infrator dessa terra. ELE veio justamente para nos perdoar, ELE já levou sobre si as nossas dores, e cada uma das chicotadas que foram sobre ELE aconteceram justamente para que as nossas trangressões e pecados de toda a nossa vida fossem apagadas.
    Renda-se ao amor de Deus agora mesmo, ELE o espera em seus braços de ternura. Não existe nada que possamos fazer para Deus nos amar mais, mas também não existe nada que possamos fazer para ELE nos amar menos – ELE nos ama.
    Alguém PODE até não viver sem Jesus, mas com certeza não será fácil morrer sem ELE.
    Até mais,
    sinceros abraços.

  8. É fogo, torcida brasileira… É fogo. tipo aqueles casamentos que a igreja lota, mas só 20 convidados sabem da festa, né?… O noivo chega reservadamente para os escolhidos à festa e ainda completa: “mas não espalha que não é nada grande… é só para os mais chegados mesmo”. Comparação meio que injusta, mas é mias ou menos igual.
    A propósito, Marco Aurélio: o que foi esse comentário antes do meu aqui????? Abraços………. Psyco.

  9. É isso mesmo rapaz! Quem é pequeno é pequeno mesmo! Trate de trabalhar direito meu! Invés de ficar escrevendo esses artigos que se julga genial vai trabalhar!

  10. é, acho que é um caso complicado. eu já fui em coletiva em que um cara se identificou como sendo de um blog e o assessor tirou o microfone dele dizendo que só quem podia fazer perguntas eram os ‘jornalistas de verdade’ (não foi essa expressão que o sujeito usou, mas foi quase isso).
    de qquer forma, é direito das empresas convidar quem eles quiserem para eventos e coletivas, do mesmo jeito que é direito de quem ficar de fora reclamar por ser excluído.
    ps: acho que é ‘belíndia’, e não ‘belgíndia’

  11. aliás, acho que é algo que todo jornalista deveria aceitar, independente do tamanho do veículo em que ele trabalhe: por mais pressão que se faça (e tem que fazer mesmo), não se pode obrigar ninguém a atender vc.

  12. Bom, Marco, é certo q vc tá acima disso. Vejo todo mundo se decepcionando dom suas profissões.Eu, por exemplo, quebrei a cara numa profissão que todos dizem que é linda, mas que de linda não tem nada: enfermagem! E olha que eu adorava, mas hoje em dia… Na Saúde o povo também é do caralho.

  13. Não posso deixar de concordadar com o repgnante fato que colocaram uns em um patamar, e outros na lixeira.
    Se isso não fala por si mesmo são todos umas antas. Sem ofensas. Ou com.
    Mas assim colocando de uma forma mais abrangente minha colocação não é deveras prematura. Com forme nós evoluimos, ouvimos o que?
    Não sei, pois ainda não evolui.
    Sem sentir.
    Gerlado

  14. Três observações:
    1 – impressionante como todos os “enviados do Senhor” que por aqui surgem sempre falam como se fossem apresentar um fato nunca antes imaginado por ninguém. Todos anunciam a tal boa nova como se ela fosse nova mesmo. Essa uma aí de cima parece um anúncio da Polishop.
    2 – Eu acho que esse papo de Belgíndia e Belíndia não estão com nada. Legal mesmo seria chamar de Indélgica. É outra sonoridade…
    3 – Esse tal de “Gerlado” está fumado, ou é um grane profeta. Se eu fosse você o entrevistaria.

  15. Três observações:
    1 – impressionante como todos os “enviados do Senhor” que por aqui surgem sempre falam como se fossem apresentar um fato nunca antes imaginado por ninguém. Todos anunciam a tal boa nova como se ela fosse nova mesmo. Essa uma aí de cima parece um anúncio da Polishop.
    2 – Eu acho que esse papo de Belgíndia e Belíndia não estão com nada. Legal mesmo seria chamar de Indélgica. É outra sonoridade…
    3 – Esse tal de “Gerlado” está fumado, ou é um grande profeta. Se eu fosse você o entrevistaria.

Deixe uma resposta para Marielle Cancelar resposta