A rainha de Sabá visita Salomão

(I Reis 10)
Não tardou para que as notícias sobre a sabedoria do rei de Israel e as obras que realizava por todo o reino se espalhassem pelo mundo. Bom, pelo mundo conhecido então, que não era muito. Coisa como um boato sobre José Serra chegar a Salvador. De qualquer forma, era crescente a fama de Salomão. Tanto que a rainha de Sabá resolveu ir a Israel para conferir as novas que lhe chegaram aos ouvidos.
Onde ficava Sabá? Não se sabe ao certo. Especula-se que o reino incluiria parte das atuais Somália e Etiópia, e parte da Península Arábica. De acordo com a tradição, a capital do reino ficaria onde hoje é Marib, capital do Yemen. Se isso estiver correto, concluímos que a rainha percorreu uma distância equivalente à que há entre São Paulo e Aracaju.
Pois muito bem: num belo dia a rainha de Sabá arrumou seus mullets, vestiu sua melhor camisa xadrez e suas calças largas de lona, calçou seus Vulcabrás 752 nº 44, e pegou a estrada em seu caminhão. No baú, levava especiarias, pedras preciosas e mais de quatro toneladas de ouro. Dias depois chegava ao palácio de Salomão.
A rainha ficou impressionada com tanta riqueza. O Salão da Floresta do Líbano, por exemplo, era decorado com quinhentos escudos que continham entre dois e sete quilos de ouro cada um. O trono do rei era revestido de marfim e ouro puro. Os seis degraus que levavam ao trono eram ladeados por esculturas de leões, e havia um leão esculpido de cada lado do assento. As taças utilizadas pelo rei eram de ouro, assim como todos os objetos do Salão da Floresta do Líbano. O rei mantinha 1.400 carros de guerra e doze mil cavalos puro sangue. Os cavalos eram importados de Musri e da Cilícia, cidades que ficavam na atual Turquia, e os carros vinham do Egito.
De onde vinha tanta riqueza? Para começar, os impostos pagos pelos comerciantes, pelos administradores do reino e pelos reis árabes que viviam sob domínio israelita. A frota de navios de Israel, uma joint venture entre Salomão e Hirão, voltava a cada três anos trazendo ouro, prata e animais exóticos. Para completar, a fama de Salomão atraía visitantes que, assim como a rainha de Sabá, lhe traziam presentes.
Que Salomão era rico, a rainha logo notou. Mas seria mesmo sábio? Ela decidiu testá-lo:
— Aê, mano. Me disseram que tu é ligeiro que só a porra, tá ligado?
— Queisso, se liga. Eu tô aqui só na correria. Esse negócio aí de sabedoria é os mano de fé que fala, mas eu fico na humildade, tá ligada?
— Só…
— Essas parada me azucrina as idéia. Eu sou ligeiro, podicrê, mas o resto é exagero.
— Queisso, mano? Está louco de raiva1?
— Não, mina, se liga! Cê que chegou há pouco de fora e não tá ligada nas parada israelita e pá.
— Ah, então foi mal aê.
— Pela órdi.
— Então, mano. Meu caminhão tá com o tanque quase vazio. Um mano aí me deu a fita que eu podia abastecer logo atrás do palácio.Cê tá ligado quem tem posto aí atrás?
— Ih, véi, sei de nada. Atrás aqui da parada só tem a quitanda do japonês. A senhora gosta de verdura?
— Ah, sim. Disseram que teu véio plantava nas quebrada dele. É verdade que teu pai tem terra?
— O véio já subiu, mina. Vamo falar de outras parada. Zoologia, manja?
— Cê manja zoologia?
— Daquele jeito, né?
— Então cê sabe se jacaré no seco anda?
— Não, nadavê. Jacaré no seco atola.
— Se liga, véi!
— Ô, dona majestade. Foi mal aí. Fui muito duro com a senhora?
— PÁRA!
— Pela órdi, já parei. Desculpe por tudo.
— TÁ CERTO! CÊ É LIGEIRO QUE SÓ A PORRA! CHEGA!
— Hehehe. Tá vendo você errada? Vem aqui na minha quebrada, nem nunca me trombou na vida, e acha que já pode vir me tirando? Se liga!
— Tá certo, mano. Tava dando um migué pra ver coé. Mas tá certo, cê é mais ligeiro do que os mano fala por aí. E mais rico também, tipo aqueles mano gangsta, tá ligado? Mó preza. Suas mina só anda nos pano, tudo peteca. Os mano do palácio deve ficar tudo ligeiro só de trocar idéia contigo. Que o seu deus, Javé, te abençoe.
— Amém, pela órdi.
— Agora vou dá linha.
— Paz.
— Paz.
Convencida da sabedoria do rei de Israel, a rainha pegou seu caminhão e voltou para Sabá. Após sua visita, Salomão convenceu-se de vez que era o mais sábio dos viventes:
— Vixe! Apavorei!
E isso seria o princípio de sua queda.

1 Os trechos sublinhados são trocadilhos dos mais infames, caso vocês não tenham percebido.

20 comments

  1. Fala véio, o texto ficou da hora…
    Aê mano Mulambo, se liga aê, Join Venture é tipo, pá, quando o Mano Brow se junta com o D2 e montam uma empresa, tipo bagulho, tah ligado? E cada um entra fazendo algum tipo de lance, tipo ajúda mútua, se ligou? Quase sempre os trutas que fazem parte de uma Join Venture criam um nome próprio pra parada, tipo “Produções dos Trutas”, mas quem estah por trás eh o Mano Brow e o D2, tá ligado.
    Um abraço e se eu estive errado me desculpe, só na humildade…
    Chega lá veio….

  2. Dá-lhe de novo, Marco!
    Teste de sabedoria com trocadilhos é genial! Salomão é o fera dos mano até na sabedoria popular!
    Que mais posso dizer?
    “Um abraço pra você e todo mundo que for da sua família!” hehe

  3. Putão… Essa foi foda!
    Adorei o teste de sabedoria.
    O capítulo todo foi fantástico.
    Agora… Dois capítulos em menos de um mês? Tá de férias, vagabundo?
    Vai trabalhar!!!

  4. Hmm… Cheguei a desconfiar também… Mas acho que é ele mesmo… De qualquer forma, e embora eu ache que este texto não ficou tããããããããão bom assim, creio que tenhamos de dar uma colher de chá, já que, no final das contas, este capítulo concorre com um epidódio de Chapolin. Não é fácil fazer isto não…

  5. Nesta estória toda, parece que Salomão não era tão ligeiro assim…Perguntado que foi sobre sua sabedoria, disse que ficava na humildade.
    Começou a conversar com a Rainha sobre agricultura e logo passou para assuntos de zoologia, sem degustar pelo menos de um belo vinho ou falar acerca de sua experiência em plantar a mandioca.
    E ainda despediu-se da Rainha achando-se o máximo.
    Tá explicado o princípio da queda: faltou sabedoria…

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