Salomão constrói o templo e o palácio

(I Reis 6 e 7)
Depois do acordo com Hirão, rei de Tiro, para o fornecimento de materiais e mão-de-obra, Salomão finalmente começou a construir o templo. Era para ser rápido, mas acabou levando sete anos. Por quê? Já explico.
Pelo projeto inicial, o templo seria bem simples: vinte e sete metros de comprimento por nove de largura e treze de altura. Nada muito grande, se compararmos aos templos de hoje em dia (a Catedral da Fé do bispo Macedo, ou a Basílica de N. Sa. Aparecida), mas uma construção e tanto para o pequeno reino de Israel. O que valia no templo de Salomão eram os detalhes, não o tamanho: durante a construção não se ouviu barulho de qualquer ferramenta, porque as pedras eram preparadas e talhadas na pedreira; uma vez no local da construção bastava encaixá-las.
A construção chamou a atenção de muita gente e, claro, do principal interessado.
— Que beleza, hein, Salomão?
— Oh, grandioso Javé! Que quereis tu de eu?
— Nada, nada. Vim só ver como andavam as coisas. Tudo muito bonito, puxa vida.
— Eis que construo esta casa para vós habitáveis, oh grande Javé, Senhor dos Exércitos e pá.
— Pá?
— Escapou-me.
— Hum. Olha, continua aí a construção. Se você for bonzinho, eu venho morar aqui, e faço tudo o que você quiser.
— És acaso o gênio da lâmpada?
— GÊNIO UMA PORRA!
— Acalmai-vos, oh Javé!
— Grunf.
Salomão, que de bobo só tinha a cara, entendeu o recado: o templo estava muito bom e tal, mas precisava de mais opulência. O projeto minimalista original, de pedra e vigas de cedro, não seria suficiente para o vaidoso Javé. Então, de volta à prancheta: as paredes interiores da edificação seriam forradas de cedro para que as pedras não aparecessem, o assoalho seria de pinho. O lugar Santo dos Santos, salão separado onde ficaria a Arca do Acordo, e que seria efetivamente a casa de Javé, seria um cubo perfeito de arestas de nove metros separado do resto da construção por um biombo de cedro que ia do chão até o teto, enfeitado com entalhes em forma de cabaças e de flores. O lugar Santo, área comum do templo, teria dezoito metros de comprimento.
Salomão preparou o novo projeto e foi apresentá-lo a Javé.
— É. Bonzinho.
Bonzinho? Javé queria ostentação? Então teria: tanto o lugar Santo quanto o Santo dos Santos seriam completamente revestidos de ouro puro. Separando os dois, além do biombo, correntes de ouro. Até mesmo o altar e o assoalho seriam revestidos de ouro. No Santo dos Santos seriam colocados dois querubins de madeira de oliveira. Os querubins ficariam de asas estendidas no Santo dos Santos, sendo que as asas se tocavam exatamente no meio da sala, e a ponta da asa de cada um deles tocava uma das paredes.
As paredes do templo seriam enfeitadas com figuras entalhadas, assim como as portas. Enfim, tudo uma riqueza só. Ao ver o novo projeto, Javé arregalou os olhos:
— Agora sim, estamos conversando!
Com o projeto finalmente aprovado, Salomão tratou de colocá-lo em prática: as paredes de pedra foram forradas com tábuas de cedro revestidas de ouro, os entalhes foram feitos, os querubins construídos.
A construção foi iniciada no quarto ano do reinado de Salomão, e concluída no décimo primeiro. Com a casa de Deus pronta, o rei podia preocupar-se em construir a sua.
E se o templo podia ser tão ostensivo, então o palácio real também poderia. Salomão não se fez de rogado: só um recinto, o Salão da Floresta do Líbano (que tinha esse nome por ser todo revestido de cedro), já era maior que o templo: media quarenta e quatro metros de comprimento por vinte e dois de largura e treze e meio de altura. Esse salão tinha três fileiras de quinze colunas de cedro que sustentavam vigas de cedro, que por sua vez escoravam o teto de cedro.
O Salão das Colunas era um pouco menor: tinha vinte e dois metros de comprimento por treze e meio de largura, e recebeu esse nome por ter um pórtico sustentado por colunas. A Sala do Trono, onde Salomão trabalharia, era toda forrada de cedro. Num pátio atrás dessa sala ficava a casa de Salomão, no mesmo estilo das outras: um exagero de cedro. Do mesmo estilo também eram os aposentos da esposa do rei, filha do Faraó.
Enfim, o palácio era tão grande que algumas das pedras do alicerce chegavam a quatro metros de comprimento.
Para arrematar as obras, Salomão mandou chamar um certo Hurã, da cidade de Tiro, que era especialista em trabalhos de bronze. Hurã, cuja mãe era israelita de Naftali, fundiu duas colunas de bronze para colocar na entrada do templo. Cada uma delas tinha dezoito metros de altura e um metro e setenta de diâmetro. Depois disso, fez os detalhes das colunas: entalhes em forma de correntes, lírios, romãs. A coluna do lado sul foi chamada de Jaquim (que significa Deus estabelece) e Boaz (pela força de Deus).
O mais famoso dos trabalhos de Hurã, porém, e que é comentado até hoje por muitos, foi o tanque redondo de bronze. Não pelo talento requerido para construí-lo: no fim das contas, era só uma bacia grande e redonda. A grande sacada eram mesmo os doze touros de bronze sobre os quais repousava o tanque, mas ele mesmo não tinha nada de mais. A não ser por um detalhe: segundo o autor da narrativa, o tanque de bronze tinha dez côvados (quatro metros e quarenta) de diâmetro e trinta côvados (treze metros e vinte) de circunferência. Essas medidas têm alimentado por séculos as discussões em torno da veracidade da Bíblia. Sim, porque segundo o autor o número PI equivaleria a 3, e não a aproximadamente 3,1416. Àqueles que ainda discutem isso eu digo: NA BÍBLIA UM SUJEITO É ENGOLIDO POR UM PEIXE GIGANTE E CUSPIDO SÃO E SALVO NA PRAIA TRÊS DIAS DEPOIS! UMA JUMENTA FALA! HÁ GIGANTES DE QUATRO METROS DE ALTURA! E VOCÊS VÊM DISCUTIR MATEMÁTICA, CÁSPITA?
Pronto, acalmei.
Hurã fez ainda dez carretas decorativas de bronze, sobre as quais botou dez bacias. As carretas foram dispostas dos dois lados do templo. O artesão cuidou ainda da manufatura dos utensílios do templo. Os de bronze, claro. Quanto aos de ouro (que não eram poucos: o altar, a mesa para os pães, lamparinas, tesouras, bacias, pratos, dobradiças) foram feitos por outro sujeito, cujo nome não é citado.
Com o templo e o palácio prontos, Salomão quase podia descansar. Ainda faltava um detalhe dos mais complicados: trazer a Arca do Acordo para que ocupasse seu lugar no Santo dos Santos. Essa grande operação de logística, porém, fica para o próximo capítulo.

(As fotos deste post foram retiradas do The Semitic Museum at Harvard University)

22 comments

  1. Ora Maldito sacripanta, bem na hora de dizer sobre a logistica voce interrompe a narrativa… Isso é coisa que se faça??? Mas tudo bem eu respeito porque sei que estas a pensar como foi ninja o cara que pilotou o caminhãorroagem para colocar as pedras, foi mór mestre de balisa…
    aguardo anciosamente…
    Lian maverick

  2. Só um comentário a respeito de algo q você disse no seu texto do dia 07.08.2005 sobre tiago adorar Jesus e não se portar como um irmão “normal”, isto é, ignorando-o e tal…
    aí é q eu entro com uma informação que você não possui… tiago, realmente, não seguia Jesus! achava q ele era meio louco e tudo mais… e só foi crer que Jesus era O Filho depois da sua morte e ressurreição… logo, ele foi um irmão normal… e como todo irmão normal, viu que seu irmão mais velho estava realmente certo quando se viu longe dele (haha.. eu sou o mais velho na minha casa… mas eu sei que, embora meus irmãos zombem de mim quando digo algo, basta eu sair de perto para eles conferirem e repensarem no que eu disse!!!!)
    é isso…
    falow…

  3. Quereis – vós
    Queres – tu
    ou é estilo ou caráter do personagem… já q estou caindo agora no meio da epopéia????
    ah.. porra…
    E essas fotos não são do age of mythology????? Q kct!!! jurava q eram….

  4. olá marco aurélio!!! foi a distinta aqui que falou com você ontem em plena av. paulista, que disse que era leitora do seu blog, etc e tal. lembra??
    foi um prazer te conhecer.
    tipo: você é meu ídolo 😛
    abraços.

  5. Alguns livros de história da matemática realmentre trazem essa citação bíblica quando contam a história do número pi.
    Realmente, de acordo com essa passagem, os hebreus acreditavam que pi valia 3, exatamente como acreditavam os egípcios e alguns babilônios.
    No entanto, o fato do texto conter medidas impossíveis de serem construídas devido à pequena diferença que ocorreria no cálculo da circunferência, é fácil notar que o problema com essa passagem da bíblia não é a “possível invenção” de artefatos a serem constrúidos, e sim um mero problema de interpretação.
    É razoável pensar que um artesão judeu construiria uma grande bacia medindo apenas o seu diâmetro e, quando fosse informar posteriormente quanto era seu comprimento, faria os cálculos com a fórmula que achava mais correta: comprimento = 3 x diâmetro.
    Ou seja, só porque o artesão estava com preguiça de efetuar uma medida de 44 metros e informou um valor errado, não podemos tirar créditos da bíblia por causa disso.

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