Marcurélio no maravilhoso mundo da psicanálise

De uns tempos para cá eu andava estranho. Não, não estava manco nem nada disso. Vocês entenderam. Macambúzio & Sorumbático, sabem? Então. Não sei o que houve. Talvez tenha sido o excesso de mudanças em pouquíssimo tempo: em um mês eu publiquei um livro, arrumei um emprego e comecei a namorar. Vocês podem imaginar o impacto disso tudo junto sobre alguém que detesta mudanças. Pois então: fui ficando tristonho, meditabundo, angustiado, deprimido. Falei com um, falei com outro, concluí que o negócio era procurar ajuda profissional. Concluído isso, liguei para marcar consulta com um sujeito lá. Isso foi na segunda-feira passada, e a consulta ficou marcada para hoje, nove dias depois.
No entanto, algo aconteceu nesses nove dias: fui me adaptando melhor ao trabalho. Conheci a família da namorada, e foi muito legal. Reencontrei meus velhos amigos, o que sempre me renova a vida. Desencanei um pouco do livro. Resultado: hoje, enquanto pensava num jeito de ir da estação do metrô até o consultório sem ter sequer um caiaque (chovia de um jeito que espantaria até Noé), pensava também em simplesmente dar meia-volta e ir para casa. Antes que me decidisse, porém, a recepcionista do consultório ligou para confirmar a consulta. Eu disse que estava a trezentos metros de lá, e esperava apenas que a chuva arrefecesse um pouco. Minutos depois, o psicanalista (na verdade o cara é psquiatra, mas eu não vou falar senão vocês pensarão que sou doido) me ligou:
— Marco, você está no metrô?
— Estou sim.
— Vou aí te pegar.
— Ué. Você presta esse serviço também?
— Pô. Melhor do que você desistir da consulta tendo chegado tão perto.
Mas vejam que danado! Adivinhou o que eu estava pensando. Achei que só os dentistas soubessem quando os pacientes estão pensando em desmarcar uma consulta. Enfim: cinco minutos depois ele apareceu e fomos para o consultório.
E aí começa a natureza surreal de minha primeira consulta com um conserta-doido: me sentia tão melhor do que há uma semana que não tinha o que dizer. Tentei explicar o que sentia então, mas é difícil falar depois que já passou. Mas fui falando, e ao final ele concluiu que:

  1. Eu estou bem.
  2. Não preciso de medicação.
  3. Não preciso de terapia.
  4. No entanto, preciso dar um jeito na minha autoestima AUTO-ESTIMA.
  5. Devo continuar esse trabalho de enfrentar meus medos.
  6. Seria bom investigar a importância dos meios de transporte em minha vida (não perguntem, é uma longa história)

Com isso, descobri que nossas profissões têm muito em comum: seja com um psiquiatra psicanalista, seja com um consultor, você paga para ouvir o que já está cansado de saber. A diferença, porém, se mostrou quando me despedi dele.
— Você acerta comigo mesmo, Marco.
— E quanto é?
A resposta dele me fez arregalar os olhos de admiração por essa profissão abençoada. Em verdade, em verdade vos digo que nunca vi ninguém ganhar 150 reais tão facilmente. Em meia hora de papo furado ele ganhou tanto quanto eu num dia inteiro de trabalho duro.
Já sei qual será minha próxima profissão…

38 comments

  1. Você pode estranhar duas coisas nessa chicotada: tanto o fato de eu não ter idéia de quem vc seja como o fato de eu estar agradecendo pela tradução de “Estate”, que tá lá em 2003 no seu “bibli-blog” (eu realmente sinto um ‘jenesequá’ quando ouço essa música mas meu italiano num dava conta de traduzi-la de maneira normal). Só tenho uma reclamação: Você fez a maior propaganda de que gravou a música e quando eu vou ouvir, cadê? Fiquei curioso pra ouvir sua versão, se ela ainda estiver disponível. Abraço. Rafael

  2. E olha que vc foi num psiquiatra barato, já vi cobrarem R$ 380,00 por consulta. Dá próxima vez vai num psicólogo (não num psicanalista, please), que inlusive as primeiras entrevistas só são cobradas se vc continuar com o tratamento. Mas a sugestão de passar na casa da namorada me parece bem mais proveitosa 😉
    beijinhos
    PS. e a festa? Como fica? agora que vc tem muié num liga mais pra nois é? humpf…

  3. putz… tá barato – vai ver lá com o Isaac quanto tá uma consulta. Mas vc fez o que todo mundo deveria fazer quando se encontra do jeito que vc estava – deixar o tempo passar até que o cérebro se acostume com os novos padrões – trabalho novo, namorada nova… Infelizmente o cérebro se sente seguro estando dentro de alguns padrões, nem que seja uma bosta de padrão. Ou vc acha que mulheres que apanham a vida toda do marido o fazem por serem masoquistas?

  4. Naum deve ser facil ficar escutando (e fingindo estar interessado; e respondendo) o lenga-lenga de alguem, que nem eh seu amigo, durante uma hora! hehehe

  5. Concordo com a Aninhaa. Realmente o convívio com a família da sua namorada é um tratamento e tanto… Eles são o máximo e fazem muito bem para pessoas como nós (com problemas de auto-estima).
    E olha, eu sei o que estou falando, já vai para 7 anos que passei pelo mesmo apuro que você passou no último fim de semana !

  6. Você fica deprimido porque tem um emprego ( 150 reais por dia no Brasil? Você é elite!!!), uma namorada que tem uma família legal, e conseguiu publicar um livro que é muito legal??? ( e deve tá vendendo que nem água no deserto, pelo tempo que eu esperei…). Deprimido???? E o médico ainda disse que vc não é doido??? doida sou eu, então!!!

  7. Conheci essa hp por uma amiga minha, e eu achei ótima!
    Sorte sua que você não precisa mais de ajuda profissional….. porque eu preciso, e como!
    O problema é que é MEIO caro, o que me causaria mais problemas…
    É, o que não tem remédio…

  8. Falando sério… Concordo com o Daniel.
    Psicólogos, nada mais são do que substitutos de amigos, ou amigos de aluguel.
    Tudo que eles lhe falam, um amigo de verdade pode te falar.

  9. R$ 150,00 pra ouvir vc falar de suas misérias por meia hora? Vc tá devendo uma nota para todos os leitores deste blog que ouvem (lêem) suas desgraças diariamente há quase três anos!

  10. pessoas malucas!
    um psicólogo NÃO é um amigo de aluguel, não mesmo. Você não se sente falando com um amigo. E não é a mesma coisa de falar com um bom amigo, me desculpem.
    Eu fico meio passada do quanto se cobra caro por uma consulta, também, mas vos digo, se não fosse assim tão caro eu recomendaria a muitas, muitas pessoas.
    é uma forma diferente de auto-conhecimento e não tem semelhança nenhuma com uma boa conversa com um bom amigo, por melhor que seja o amigo.

  11. acho terapia demais. já me ajudou bastante. e sinto falta dela. minha ex-terapeuta virou amiga mesmo. claro que não é a mesma coisa conversar com um terapeuta e com um bom amigo. o terapeuta está melhor preparado para tratar vc a fundo. mas, o que eu propus, é que, às vezes, a gente gasta uma fortuna com um psicólogo ou psiquiatra para que ele faça unicamente o papel de um amigo. nesse caso, não estamos jogando dinheiro fora? eu tenho bons amigos para me dizer a verdade, mas sinto falta (e preciso) de alguma terapia profissional.

  12. Liga não Marcurélio,o problema é que nosotros qdo vamos ao psiquiatra ficamos com a ilusão de que ele tá ali por prazer, assim como seria bom que a prostituta se apaixonasse,gozasse e ainda dividisse a grana com o cliente,mas infelizmente a vida não é justa…mas olhando pra esse texto dos crentes que você fez tenho que dizer:tu é sabido mesmo hein Marco?

  13. Ó, se quiser, o meu psiquiatra é muito bom e cobra um pouco menos que o seu e… EPA! Hããã, quer dizer, eu não vou em psiquiatra, não sei do que vc tá falando!
    (sai correndo e bate a porta)

  14. Eu não fui em nenhum, mas conheci pessoas que foram e pelo que elas me contaram, os psicólogos falaram o que eu teria dito.
    É claro que nenhum caso era caso de terapia ou internação. Tudo bem, fui precipitado…
    Mas pq só eu tomo fora? E o Daniel?

  15. Assim como você, sempre fiquei bastante espantado com facilidade com que os profissionais ligados à área da saúde ganham dinheiro. Está certo que devem ter estudado muito, mas 150 paus por meia hora de trabalho (se é que se pode dizer isso) é praticamente um assalto.

  16. Após uns minutos de reflecção (escrevi certo?), eu concluí que chamar pscólogo de amigo de aluguel pode ser o mesmo que chamar modelos de próstitutas de luxo ou músicos (classe que eu me incluo) de vagabundos.
    Mandei mal. Foda-se todo mundo!
    Hehehehe…
    Beijundas para todos!

  17. Ei, moçada, nem psicólogos, nem psiquiatras, nem psicanalistas são “amigos profissionais”, que são pagos pra nos ouvir.
    São profissionais que têm formação especializada e são responsáveis por preservar a saúde mental das pessoas. Um amigo pode te dar conselhos, mas não saberia identificar se você está desenvolvendo uma neurose, ou se precisa tomar antidepressivos. E nem poderia receitar os remédios, óbvio.

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