Os descendentes de Saul são mortos

(II Samuel 21:1-14)
Viver em Israel nos tempos da monarquia podia ser perigoso, assustador, difícil, qualquer coisa, menos entediante. Nos últimos capítulos narramos o desenrolar de duas tentativas de derrubar Davi de seu trono, uma delas por parte de seu próprio filho.
(Cair do trono não é legal. Eu caí uma vez. É difícil levantar quando se tem as calças emboladas entre as canelas. Mas voltemos).
Eu ia dizendo que viver em Israel etc. etc. não era nada entediante. Depois das duas revoltas, uma grande fome abateu-se sobre o povo escolhido por Javé. Durou um ano, e o povo nem chiou. Fomes de um ano deviam ser rotina na época, ainda mais no meio do deserto. Mas veio o segundo ano de fome, e eis que o povo murmurou “Epa”. Veio o terceiro ano, o povo começou a reclamar. Davi não tinha o que fazer: contra os motins, bastava usar a força. Mas o que ele poderia fazer no caso da fome? Levar o exército para espetar a terra com suas espadas, “Vamo produzindo aê, terra, senão o bicho pega”? Flechar as nuvens para fazer chover? Não, não havia muito como usar a força para resolver o problema da fome. Davi pensou, pensou, e por fim se lembrou de um personagem que andava meio sumido. Tendo se lembrado, foi até o Tabernáculo.
— Oh, Javé, deus de Israel!
— …
— Aham. OH, JAVÉ, DEUS DE ISRAEL!
— Ô, PORRA! NÃO POSSO NEM DORMIR?
— Er… Javé? Você… Digo, o Senhor estava dormindo?
— Dormindo? Eu? Claro que não! Tá pensando o quê?
— É que o Senhor disse que…
— NÃO INTERESSA! Eu não durmo nunca, ô… ô… Como é mesmo seu nome?
— Davi.
— Exatamente. Pois eu não durmo nunca, ô Davi. Estou sempre vigilante, de olho em Israel, meu povo tão querido, que eu protejo tal como um pai amoroso etc.
— Ah… Então o Senhor está sabendo da fome, não?
— Você está com fome? Pô, ainda falta muito pra hora do almoço, deixa de ser guloso!
— Hum. Não exatamente, Javé. Estou falando da fome que nos aflige.
— Aflige quem?
— Israel, Javé.
— Quem é esse?
— Israel? Ué! Seu povo tão querido, que o Senhor protege tal como…
— Ah, ESSE Israel. Hum. Fome?
— Sim. Não há alimento, Javé.
— Sei, sei. Olha, eu acho que ainda tenho umas sobras de maná em estoque aqui, caso interesse…
— Bom, na verdade eu queria saber por que essa tragédia está acontecendo conosco. Por que o Senhor permite que coisas más aconteçam a pessoas boas? Por que deixa que o justo sofra enquanto o ímpio é recompensado? Por que o trabalho do homem não produz fruto, e o suor de seu rosto não lhe traz o alimento?
Porque é divertido…
— HEIN?
— Er… Porque… Olha… Por causa de Saul.
— SAUL?
— Sim, sim, Saul. O rei, aquele doido.
— O rei sou eu, Javé.
— VOCÊ? Quando foram as eleições? Não tenho lido jornal ultimamente.
— Que eleições??? O Senhor me ungiu, me escolheu para reinar sobre Israel!
— EU??? Ah, sim! Claro, claro que fui eu. Quem mais? Eu o escolhi. É verdade. Só queria ver se você se lembrava. Você se lembra. Parabéns.
— Hum. Mas e então? Por que há fome em Israel?
— Culpa de Saul, já disse.
— Mas Saul morreu há anos!
— Morreu, foi? Puxa… Aham. Mas antes de morrer ele… Sei lá. Matou os gibeonitas.
— COMO?
— Sim, sim, matou os gibeonitas. Aquele menino fez um acordo de paz com esses caras. Como era o nome dele?
— Josué?
— Esse. Josué fez um acordo com os gibeonitas lá no tempo dele. E Saul, em um acesso de loucura, massacrou os gibeonitas.
— Ué, mas os gibeonitas vivem por aqui até hoje. Eu nunca ouvi falar nesse massacre.
— Ah, é? Tá, talvez não tenha sido um massacre, massacre. Mas ele matou uns caras lá.
— E o que isso tem a ver com a fome?
— Como assim, o que tem a ver? Tem tudo a ver! Eu não posso aceitar uma injustiça como essa, o cara chegar e matar todo um povo. Ou quase todo. Tá, vá lá, meia dúzia de caras.
— E por causa disso todo o país paga?
— É, ué. E agora me deixe, que eu vou voltar para a cama. Digo, para a constante vigilância. Sobre Israel. Meu povo querido. Aquele negócio todo.
Davi saiu do Tabernáculo pensando no que Javé lhe dissera. Era necessário reparar o que Saul fizera aos gibeonitas. Não fazia muito sentido, mas quem é que alcança os mistérios dos pensamentos de Deus e coisa e tal? Então o rei foi até a região onde moravam os gibeonitas e perguntou o que poderia fazer para compensá-los pelo mal que Saul lhes fizera.
— Podem pedir o quanto quiserem. Façam seu preço, eu pago.
— Ah, majestade, deixa disso! O que Saul fez não pode ser consertado com ouro nem com prata. Não precisa pagar não.
— Ah, que bom. Então está tudo resolvido?
— CLARO QUE NÃO! ELE ACABOU COM NOSSO POVO!
— Acabou? E como vocês estão aqui?
— Er… Tá, talvez ele não tenha acabaaaado com a gente. Mas, bom, deu uma desequilibrada e tal.
— Tá. E como eu posso lhes pagar por isso?
— Olha, o senhor podia nos trazer sete descendentes de Saul. Nós os levaríamos até Gibeá, a cidade onde ele nasceu, e os enforcaríamos em árvores com cordas de cânhamo. Ao meio-dia. Virados para o oeste.
— Puxa. Vocês tiveram muito tempo para pensar nisso, não?
— …
— Tudo bem, vou atender ao pedido de vocês.
A Davi não soava bem esse sacrifício coletivo. No entanto, se essas sete mortes significariam o fim da fome, era o melhor que ele tinha a fazer. Contra Mefibosete ele não podia nem queria fazer nada, uma vez que era filho de Jônatas, seu melhor amigo. Então escolheu dois filhos que Saul tivera com Rispa, e mais os cinco filhos de Merabe, filha de Saul, e entregou os sete aos gibeonitas. Felizes da vida, eles enforcaram os homens em Gibeá.
Rispa, que fora concubina de Saul e era mãe de dois dos mortos, foi até Gibeá, improvisou uma barraca sobre uma rocha e ficou vigiando os cadáveres. Os homens haviam sido enforcados no fim da primavera, começo da colheita da cevada. Pois a danada da mulher ficou por ali desde a primavera até as chuvas de outono, espantando os urubus durante o dia e os coiotes durante a noite.
(Não sei se ela enxotava os bichos, ou se era muito feia e eles nem chegavam perto. Ou se fedia demais até para animais carniceiros. Sei lá. Voltemos).
Quando soube do que ela havia feito, Davi ficou admirado com a teimosia da mulher. Mandou, então, que trouxessem os restos mortais de Saul e Jônatas lá de Jabes-Gileade, e que os enterrassem no túmulo de Quis, pai de Saul, juntamente com os sete homens enforcados pelos gibeonitas. Com os sete mortos e enterrados, os gibeonitas se deram por satisfeitos, e Javé, em sua infinita misericórdia, afastou de Israel o flagelo da fome.
Louvado seja.

39 comments

  1. Olha, sei que não tenho direito nenhum de dizer isso, mas… Marco, se não estiver a fim de escrever, não escreva. Lembra do tempo d´”O Cabotino”, em que você resistiu a uma piada facílima por conta do cartaz da farmácia? Por que o retrocesso agora? Escreva quando estiver a fim. Não tem obrigação nenhuma de encher o blog, pombas.

  2. Sabe, eu tive a mesma impressão do Mário, como se você não estivesse querendo escrever e tinha aberto a caixa para fazer o mesmo comentário… e se o motivo não era a compulsão sem entusiasmo, então qual é?

  3. ale, o Marco escreve bem, né? Eu também gosto do blog. Então, que tal comentar o que ele escreve, ao invés de ficar atendo-se a erros gramaticais de comentários que não foram feitos pra ti? Mas já que meteste o bedelho, vê se concordas: tão importante quanto respeitar a gramática, é fazer-se entender. No mais, acompanho o blog a algum tempo e até simpatizo com tua figura. “Inté”.

  4. Foi a impressão que tive, que escreveu por obrigação. Claro que o que eu penso não interessa, da mesma forma que o que você pensa sobre o que eu penso não interessa. Não deve nada para mim, e vice-versa. Mas acho que você nos acostumou mal… Bah, sei lá. Só que eu esperava mais que trocadilhos do nível “derrubado do trono”. Pra ler essas coisas, tem um monte de “blóquinhu xuxuzinhu” por aí. Volta a falar da escadaria de pedra, do menino jogando bola, essas coisas.
    Ou não fala nada, também, sei lá. (mas que eu sentiria uma puta falta, sentiria).

  5. As pessoas sempre agem de forma igual. Sobre a qualidade dos textos do blog tambem! É como CD’s, meus amigos! Todo fã que se preze acha SEMPRE os primeiros CD’s da banda os melhores e que a banda após o suçesso se /vendeu/estragou/passou do ponto, etc…

  6. (ok, here we come again) Olá, mala inguinorante.
    Pois é. Eu também simpatizo com a minha figura, mas não sempre e nem muito.
    Adoro o que o Marco escreve, e ele sabe bem disso. Às vezes nem comento aqui, mas continuo sabendo que ele sabe, heh.
    Não concordo muito não com as coisas que escreveste. Não me sinto “metendo o bedelho”. Trabalho com isso, sabe, e puxa, é quase que insuportável (ok, é insuportável e inadiável) o afâ que me vem quando vejo coisas que gritam assim, do tipo “haverão” (aaaahhh, tá, do tipo “ao invés” no lugar de “em vez” também, ai ai ai). Vou defender a língua portuguesa pra sempre, sinto dizer. Sou apaixonada demais por ela para deixá-la assim aos ventos, se é que me entende.
    Sim, acho que é importante se fazer entender. Mas puxa… ler é tão bom. Tão gostoso, tão útil. Por que não se esforçar e ler para escrever bem; estudar para escrever bem; pesquisar para escrever bem? Senão, oras, mandemos tudo às favas e “escrevinhemos axxxim a pArtIr de agorah porquê tantu faix…!”… Entendeu aonde eu quero chegar?
    Um beijo pra você… E Marco, valeu pelo espaço aqui nos seus comentários… Acho que você pensa mais ou menos como eu, por isso tomei essa liberdade. Beijão procê, saudades muitas.

  7. Faz tempo que não comento nesse Blog, mas como hj estou sem vontade de trampar, vamos-lá:
    Marco, achei muito legal esse post, como já foi dito, quando Javé entra na história sempre fica muito legal.
    A única reclamação que tenho a fazer é que estou sentindo falta dos fundamentalistas, por onde será que eles andam?

  8. Metendo também o bedelho onde não fui chamado, mas unindo-me à ale siedschlag na defesa da língua nacional, EM VEZ de “acompanho o blog a algum tempo”, muito mais belo e escorreito soaria “acompanho o blog HÁ algum tempo”. Fica somente a sugestão…

  9. Três vivas aos guardiões da língua nacional, que se levantam contra todo vício de linguagem!
    Estou me divertindo com a inconveniência e indiscrição do sujeito acima.
    Vale lembrar que boa educação não envolve APENAS o bom uso do idioma …
    E antes que o dono do blog perceba que estou desviando a atenção do público com a minha “inguinorança”, “xô sair saindo”.
    ale, estou gostando ainda mais da tua figura. Sinto-me diante de uma intolerante professora de português (acredite ou não, eu gostava de português)… :o)

  10. davidemogi, talvez eu seja feia. talvez eu seja linda; pergunte pro dono do blog – ele me conhece pessoalmente e já me viu um bom par de vezes (um pouco mais, talvez. Inclusive, Marco, desculpe a digressão, mas estou convidando o novo casal pra um churras aqui em casa **ai, de novo?, rs**. Tua menina passou lá no oggi e me foi muito simpática, beijo nela), mas realmente não sei o q tem a ver uma coisa com outra.
    Haha, Mala, é, eu dei aula de português sim, antes de dar aula de inglês e de italiano. E é isso mesmo, sou intolerante à beça, é uma característica minha.
    Em se falar nisso, estou descendo neste ponto. Boa viagem a quem fica, sobre isso me calo daqui pra frente.
    Marco, beijo procê. Saudades ainda.

  11. DEPRIMENTE…. Talvez vc pudesse mudar o nome desse blog para: SUA MÂE(o nome dela)ME CHICOTEIA !!! E ironizar todas as vezes em que ela tentou te ensinar algo importante sobre a vida, ou quando tentou demonstrar o quanto te amava. Talvez assim vc perceba que, eu não tenho o direito de sacanear a sua coitada mãe eh! eh! Eh! primeiro porque não há conheço, segundo porque voce não gostaria… E talvez poderia considerar que mãe é algo SAGRADO !! OPS!! DIGO!! SACANEADO!!! eh! eh! eh!

  12. Etá povinho ruim, que arruinava a vida do povo, deixavam passar fome e na hora do sufoco se lembravam de Javé,
    será que o Lula vai também sacrificar sete ministros???será que existiam urubus naquela epoca??
    Abraços
    Célia

  13. Caro , MArco
    Gostaria de saber qual o seu intuito ao escrever a biblia sacaneada ? Vc tem alguma religião ? Crê em Deus?
    Por favor não encare isto como uma crítica ou uma forma de agredi-lo. Gostaria de saber por simples curiosidade.
    obrigada ;

  14. De Deus não se zomba, pois Ele dará o castigo a quem o fizer.
    Cuidado, pois o Senhor está atento a tudo o que vc tem escrito.
    Pq não apreoveita a sadia leitura da Palavra de Deus para alimentar a sua alma, que necessita de salvação?

  15. Prezado:
    Nunca gostei muito de ler a Bíblia, mas você conseguiu me fazer mudar de idéia, principalmente, com as fabulosas tiradas do Sr. Javé.
    Um abraaaaaaço.

  16. Vocês precisam verdadeiramente conhecer a Jesus, Ele está voltando, e aí de vocês se não se arrependerem e entegarem suas vidas à Ele enquanto há tempo…

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