No Morrão

Aproveitei minha hora do almoço para subir ao Morrão. Engraçado: tanto tempo sem mais nada para fazer, e nunca me ocorrera subir até lá. É verdade que a total vadiagem me constrangia, impedindo-me de desfrutar totalmente do ócio. Mas agora trabalho, passo o tempo lidando com grandes questões, então na hora do almoço eu tenho o direito de ser totalmente vagabundo. Assim sendo, subi ao Morrão.
O Morrão fica na rua de cima, e não se chama Morrão, é claro: chama-se Praça Maestro Assis Republicano. Nome bonito para um lugar que é só uma elevação com uma rua embaixo, uma rua em cima e uma escada no meio para unir as duas; enfim, um morrão, como bem o chamamos por aqui. Subi, pois, o escadão imenso (“imenso” é um pouco demais, mas eu subi de dois em dois degraus e ao chegar lá em cima mal me agüentava em pé) e me sentei num dos bancos, um livro nas mãos, para passar meia horinha de ócio.
Quando eu e meus irmãos éramos crianças, vez em quando meu pai subia conosco ao morrão. Lá de cima mostrava os pontos interessantes daqui de perto (a escola, a fábrica da Seven Boys, a igreja) e lá de longe (o prédio do Banespa, as antenas da Paulista). Chegando lá em cima hoje, me dei conta de que era minha primeira visita ao Morrão desde aquela época. Está diferente: a rua foi asfaltada há anos, e agora há bancos em cima e um playground e um campinho de futebol lá embaixo, enfim, Dona Marta resolveu transformar o Morrão em praça de verdade.
Eu sei, eu sei: este já é o terceiro parágrafo e a história ainda não começou. Eu tenho esse problema, sei muito bem. Mas prometo que a história começa no próximo parágrafo. Querem ver?
Estava eu lá meio lendo, meio olhando a paisagem, quando um menino de uns cinco anos veio se aproximando. Trazia nas mãos uma bola verde, grande, de borracha.
(Viram? Começou a história).
O menino veio vindo e eu já sabia que ia falar comigo. Crianças sempre falam comigo.
— Eu sei chutar essa bola, sabia?
— É mesmo?
— É!
— Sabe nada…
— Sei sim, ô!
— Quero ver — botei o livro de lado. — Só não vá chutar a bola lá pra baixo.
Todo mundo conhece o efeito de um “não” sobre a mente infantil: foi justamente lá pra baixo que ele chutou a bola.
— Te avisei… E agora, hein?
— Hum… Agora eu vou chamar meu pai pra ir lá pegar.
Saiu correndo para casa, e eu fiquei rindo sozinho da esperteza do moleque. Voltou acompanhado da irmã pouco mais velha, que se dispôs a descer o escadão para buscar a bola do caçula. Já ia começar a descer quando aquela voz grave, meio rouca, chamou:
— ÁGATA! Aonde você vai?
Era a mãe dos dois. Ah, a mãe dos dois! Morena alta enfiada num shortinho branco que contrastava com as coxas bronzeadas e mais do que surgeria o formato e firmeza da bunda que lutava por esconder. Os peitinhos miúdos estavam soltos dentro de um top que era pouco mais que uma fita branca envolvendo-lhe o busto, como se ela estivesse embrulhada para presente. Ante aquela visão eu tomei a atitude de sempre: voltei a enfiar o nariz no livro, encabuladíssimo pela presença da mãe das crianças.
Ao final de uma pequena discussão, a morena autorizou a filha mais velha a descer. Então ficou em pé perto de mim, de costas, orientando a menina lá embaixo. Aquela bunda atraía meus olhos, e eu não conseguia pensar em nada para falar com a morena. Nem um “Crianças!”, tão propício à ocasião, nada. Ela acabou voltando para dentro. Fiquei por ali ainda um tempo, entretido com o menino que agora me chamava de amigo e me mostrava como conseguia jogar pedras para acertar as pessoas lá embaixo. Eu tinha que voltar ao trabalho, porém, então me despedi dele e desci o escadão.
Não acredito até agora que tão perto de minha casa mora a mulher que anda seminua. Amanhã eu volto.

— Sexista!
— Hum?
— Sexista! CHAUVINISTA!
— Que foi que eu fiz, minha senhora?
— É só assim que você sabe descrever uma mulher? Peitos, bunda, mais nada?
— Peraí, olha a injustiça! Falei em coxas também, e até dei um jeito de enfiar um “busto” no texto.
— PORCO! Você acha que aquela mãe de família é um pedaço de carne, não é?
— É, é. Mas olha: é um BAITA PEDAÇÃO…

27 comments

  1. Se pelo menos outros homens soubessem apreciar desse jeito, garanto que nenhuma mulher ia deixar de ir à academia, nem parar a dieta…
    E as mulheres que não venham me dizer que gostam de ser notadas pela inteligência só, porque eu não conheço UMA que não sorria quando recebe um elogio feito ao físico. Tá faltando machismo no mundo!
    (vão me espancar aqui)

  2. Isso ai é um exercicio de estilo, não?
    Sempre soube que você era gay…
    Não vai me dizer que você gosta de mulher também…
    Onde esse mundo vai parar, se até as bibas estão gostando de buça?

  3. Ta…maneira a historia e tudo o mais…mas cade o capitulo biblico? Entenda. Começei a ler a partir do genese e terminei ontem…porra, viciei nessa bagaça e viciei um monte de gente nisso…entao…voltemos a DAVI!
    (Vou ser banido por isso)?
    Beijunda

  4. Coxas… busto… pernas… seminua… morena… dois filhos (no mínimo)… acho que existem duas peças a mais: o marido (amante, companheiro ou similar) e sua arma (revolver, faca, facão, tesoura, podão, navalha, prestobarba ou similar). Cuidado!!!!!

  5. Ainda estou processando a sua visão…mas de qualquer maneira não era sobre isso que eu queria comentar…a algumas semanas não lia seus textos então enquanto meus alunos fazem sua prova final aproveitei para me atualizar e percebi no dia 20 um comentário sobre a Braasil 2000, então fica a minha dica http://www.ipanema.com.br a melhor rádio de Porto Alegre com versão web.
    Boa sorte com a mãe da Ágata

  6. Pra falar com mulher você se esconde atrás do livro…mas pra subir com marmanjo num palco e ter seu momento de Priscilla, tudo bem né? Timidez…sei…pra mim, isso tem outro nome 🙂

  7. Marco,
    O foda nesses casos é sair a primeira palavra, depois a coisa flui.
    Fale qquer coisa, se não vem nada a cabeça, de um grunhido, faça qquer coisa !! O importante é atrair a atenção dela para depois iniciar uma conversa.

  8. Saudações Marquito!
    Se eu fosse você, tomaria cuidado. Com essa onda de pegadinhas, quando menos você espera é que ao invéz de estar “faturando” uma mulher, uma câmera pode estar flagrando você chupando a língua de um traveco mal operado.
    Beijundas!

  9. Tive que vir aqui lhe falar – internautas sempre falam com você?
    Muito interessante seu site. Parabéns!
    Me autoriza a transcrever em outras páginas ou enviar pra alguns amigos – com referências, claro?
    Um abraço.

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