As guerras de Davi

(II Samuel 8)
Depois de aplicar um golpe de mestre em Javé, fazendo-o confirmar suas promessas grandiloqüentes e vazias, Davi voltou para o palácio e começou a jogar paciência. Depois de duas horas não agüentava mais, então foi andar um pouco no terraço, atividade que normalmente o acalmava. Não adiantou muito, porém, e o rei resolveu-deitar-se. Depois de contar os ladrilhos do teto e de jogar uma bolinha de borracha inúmeras vezes contra a parede, cansou-se enfim: precisava fazer alguma coisa, e logo. Problema: o palácio já estava pronto, Israel não tinha grande necessidade de obras de infraestrutura (Saul cuidara muito bem disso), e Davi estava proibido de construir um templo para Javé. Que fazer, que fazer? Guerra, é claro. Mas guerra contra quem, se nenhum dos vizinhos representava ameaça. Hum… Pensando nisso, o rei passou a mão no telefone e ligou para seu homem de confiança.
— Joabe?
— Porra, quem é?
— Eu. Davi.
— Epa. Desculpe, majestade. Eu não sabia…
— Tá, tá. Venha aqui imediatamente. Precisamos traçar umas estratégias.
— Estou indo.
Cinco minutos depois Joabe chegava ao palácio. Foi recebido por um empolgadíssimo Davi:
— Rapaz, rapaz! Precisamos invadir a Filistia e Moabe.
— Peraí. Por quê? Eles não nos fizeram nada!
— Eles… ELES TÊM ARMAS DE DESTRUIÇÃO EM MASSA!
— Armas de destruição em massa mil anos antes de Cristo? Você quer que eu acredite nisso?
— E você quer que eu acredite que você sabe exatamente quando Cristo vai nascer, ô paspalho?
— …
— Pô, é claro que eles não têm porra nenhuma. Mas precisamos justificar a guerra para a população. O povo israelita jamais aceitaria a guerra se soubesse de seu reais motivos.
— Que são…?
— Um, precisamos expandir esse nosso reinozinho sem-vergonha; e dois, eu tô entediado. Precisa mais?
— Hum. Guerra é sempre bom.
— Esse é o Joabe que eu conheço! Vamos começar nossos planos, então?
— Vamos.
Os dois passaram a noite toda debruçados sobre mapas e documentos. Na manhã seguinte, tinham todo um plano traçado.
Não demoraram a executar o plano: pouco tempo depois Davi guerreou contra os filisteus e os derrotou novamente, tirando Metegue-Amá de suas mãos. Depois invadiu Moabe, terra de seus antepassados, e derrotou o povo de lá. Não contente com isso, resolveu expor os moabitas a uma humilhação final: fez com que se deitassem no chão, enfileirados, e mediu a fila com um barbante. Feito isso, matou todos os homens até a medida de dois terços do barbante, escravizando os restantes. Uma forma original de genocídio, sem dúvida. Cumpria-se assim um trecho da última profecia de Balaão:

Vejo que virá um rei
de Israel feito um astro
como um cometa deixa o rastro
ele cumprirá a lei
eu lhes digo o que sei:
derrotará os moabitas
que como moças aflitas
fugirão para as cavernas
com o rabo entre as pernas
vão morar com as cabritas.

A vitória sobre os filisteus e os moabitas, dois grandes inimigos históricos de Israel, devia bastar para conter a sanha de Davi. Não foi o que ocorreu, no entanto: sabendo que Hadadezer, rei de Zobá, pretendia estabelecer seu domínio sobre as terras próximas ao rio Eufrates, Davi reuniu suas tropas para combatê-lo. Saldo da batalha: mil e seiscentos soldados da cavalaria e vinte mil de infantaria feitos prisioneiros. Além disso, num arroubo de crueldade inexplicável, Davi separou os cem melhores cavalos de Hadadezer, aleijando todos os outros. Pobres animais.
Quando a notícia da derrota de Hadadezer chegou à Síria, tropas vieram de Damasco para apoiar o aliado. Davi nem tomou conhecimento do poderio sírio: matou vinte e dois mil soldados e botou guarnições do exército israelita na Síria. Os sírios passaram, então, a pagar impostos ao trono de Israel.
Tendo confirmado definitivamente a vitória sobre Hadadezer, Davi precisava apenas pegar seu espólio. E que espólio: os oficiais inimigos usavam escudos de ouro, que o rei levou para Jerusalém. Levou também uma grande quantidade de bronze das cidades de Betá e Berotai, antes governadas pelo rei de Zobá.
Com essas vitórias, a fama de Davi espalhava-se, chegando aos lugares mais distantes. O rei Toi, da cidade de Hamate, por exemplo, ficou sabendo que Davi derrotara o exército de Hadadezer, e enviou Jorão, seu filho, com presentes de ouro, prata e bronze para o rei. Isso porque Hadadezer e Toi haviam lutado muito, e o rei de Hamate vivia preocupado com o poderio de seu colega de Zobá. Davi juntou esses presentes a todos os objetos preciosos que tomara em suas campanhas, e ofertou tudo ao serviço do Tabernáculo.
Ainda não era suficiente: a fama de Davi tornou-se maior ainda depois de derrotar os edomitas no Vale do Sal, matando dezoito mil deles e enviando guarnições militares a Edom. Enquanto guerreava, Davi não se esquecia do povo: durante todo o seu reinado os israelitas foram tratados com igualdade e justiça, o que garantia a paz doméstica necessária a um reino em expansão.
Com tamanho sucesso em suas aventuras fronteiriças, Davi sentiu a necessidade de oficializar seu conselho, até então exercido informalmente por seus amigos e colaboradores mais próximos. Então Joabe foi confirmado no comando do exército. Josafá, filho de Ailude, foi feito cronista e conselheiro do rei. Zadoque, filho de Aitube, e Aimeleque, filho do velho Abiatar eram os sacerdotes. Um tal Seraías era o escrivão, enquanto Benaías era o chefe dos queratitas e peletitas, soldados estrangeiros pagos para fazerem a guarda pessoal do rei. Além desses, os filhos de Davi já em idade adulta também faziam parte de seu conselho, como ministros. Nada mal para um reino que começara improvisado.

16 comments

  1. Mente vazia, oficina do Diabo… A propósito, taí outro que podia entrar na história.
    Escudos de Ouro? Que coisa inútil, em uma guerra… Mais pesado, mais caro e menos resistente…
    A não ser, é claro, que se tratasse da moeda (hihihi)

  2. Grandiloquentes….puta cos pariu….e ainda com trema…caraio….grandiloquentes com trema….é demais…e eu nem sei como digitar essa trema…grandiloquentes…

  3. Não sei o que é maelhor…
    Davi “indo procurar armas de destruição em massa”, ou a refência à uma profecia – mas esta já tinha sido apresentada na “versão Marco Aurélio”!
    Quanto ao Davi, é pior do que eu pensava. Achava que o pior que ele tinha feito era por causa daquela mulher, que ainda vai acontecer, e não sou eu quem vai estragar a surpresa.

  4. A desculpa para a guerra já tinha me obrigado a controlar o riso, mas a profecia foi demais para mim !!!(risos) Baixei a cabeça para não ser encarado pela “chefa” e caí na risada !!!
    Excelente Marcurélio !!! Excelente !!!

  5. Neste seu relato o sanguinário matou 68.000 soldados. Havia tanta gente naquela época?
    Quantos soldados o Brasil tem atualmente? Possivelmente viraria suco também.
    E pode ser que o historiador da época era um tremendo bajulador e podia exagerar à vontade, pode ser até que anotava como grandes vitórias algumas derrotas, tal qual os demagogos dos dias atuais.

  6. Bem, relendo esta história dessa maneira (que só deixa mais claras as coisas) não pude deixar de pensar que o verdadeiro Filho de Davi, o Messias (especialmente para os israelenses), só pode ser Bush. Jesus e sua Palavra de amor não tem nada a ver com um cara como Davi…

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