Isbosete é assassinado

(II Samuel 4)

MAANAIM – O rei Isbosete foi assassinado ontem ao meio-dia em sua cama. Os capitães de tropa Baaná e Recabe, filhos de Rimon, o beerotita, confessaram o crime. Depois de matarem o rei, os dois irmãos foram a pé até Hebrom, capital do reino vizinho de Judá, levando a Davi, rei daquele país, a cabeça de Isbosete. Davi, agora principal pretendente ao trono israelita, mandou imediatamente que se executasse os dois. A decisão tem precedentes: há sete anos, quando morreu o rei Saul, Davi morava na cidade de Ziclague, na Filistia. Um amalequita tentou obter suas graças fazendo se passar por assassino de Saul, e foi executado na hora. “Se eu puni aquele, que teria matado o rei a seu pedido e no meio da batalha, quanto mais esses dois, que mataram um homem inocente que dormia em sua cama.”, disse o rei ao Diário Israelita.
Desde a morte de Abner, há uma semana, comentava-se sobre o comportamento do rei de Israel. Pessoas mais próximas a Isbosete dizem que o rei estava temeroso depois do assassinato do comandante de seu exército e homem mais influente do reino de Israel. Alguns críticos diziam que Abner seria o verdadeiro governante, estando Isbosete no trono apenas para legitimá-lo, por ser filho do rei Saul. Ao fazer um acordo com Davi, porém, Abner teria despertado a desconfiança de Joabe, comandante do exército de Judá, que o apunhalou nos portões da cidade. Apesar da fama de severo de Davi, Joabe não recebeu qualquer punição.
As duas mortes consecutivas muito beneficiaram a Davi, mas o rei de Judá tem se preocupado em demonstrar que não teve qualquer participação nos crimes. A cautela talvez evidencie que Davi pretenda mesmo reunificar os reinos de Israel e Judá, governando a ambos.

— Viu só, rapaz? Mataram o hômi.
— Já foi tarde…
— Não diga isso! Pô, o cara era rei.
— Rei, rei… Que rei nada! Cê não viu a reação dele quando soube da morte do Abner?
— Não vi, e duvido que você tenha visto. Aliás, duvido que qualquer um daqui deste cu de mundo que é Naftali tenha visto alguma coisa.
— Tá, tá, eu não vi. Mas sabe o meu cunhado?
— Sei.
— Então. Ele tem um primo em Zebulom, sabe?
— Aquele altão que veio aqui uma vez?
— Esse. Então, esse primo serviu o exército junto com um sujeito cujo irmão está comendo a copeira do palácio.
— Puxa, sua informação é de primeira mão mesmo…
— Não enche. Pois então, a copeira disse que o Isbosete tava num salão lá, lendo historinhas para as crianças. Tava contando a história de Sansão, parece. Aí entrou um puxa-saco qualquer lá, todo esbaforido, com a notícia da morte de Abner. Sabe o que o seu rei fez?
— O quê?
— ABSOLUTAMENTE NADA! A tal copeira disse que ele ficou bem uns sete minutos parado, sem esboçar reação.
— Ah, por favor! Já ouvi essa história, tudo balela da oposição.
— Tô te falando, rapaz! Eu não ouvi dizer! O primo do meu cunhado serviu o exército com…
— Tá, tá, já sei. Mas e depois dos sete minutos, o que ele fez?
— Mandou trancar as portas do palácio e se escondeu no quarto!
— Mentira!
— Mas se eu tô te dizendo! Se trancou no quarto e ficou lá tremendo de medo. Dizem até que um guarda mais gaiato passou em frente a janela e gritou “Joabe!”. O rei quase se caga todo.
— Tsk.
— Era um covarde! Ao contrário do Davi, esse sim é um cabra bom.
— Tão bom que passou pro lado dos filisteus…
— E você queria que ele fizesse o quê, com Saul e todo seu exército na cola dele? Precisou fugir por um tempo, foi isso.
— Hum, sei…
— E agora que Isbosete empacotou, é hora de Davi ser rei do negócio todo.
— Mas como? O cara nem é da família real.
— Cê não sabe nada mesmo… Pra começar, o Samuel ungiu Davi ainda na época que Saul era rei.
— Taí, dessa eu não sabia.
— Pois é, pois é. Além disso, cê não soube que Davi mandou buscar a tal Mical na casa do cara com quem estava casada? O Abner foi até lá, saiu arrastando a mulher, o marido veio correndo atrás e chorando, uma palhaçada.
— Acho que vi isso numa revista de fofocas… Na sala de espera do dentista, sabe como é.
— Pois então! Agora ele é casado com a filha de Saul, portanto é da família real.
— Pô. Sujeito esperto, esse Davi.
— Tô falando, rapaz, ele vai ser rei. E vai ser logo.
— Sei não, sei não…
— Quer apostar?
— Opa. Se Davi se tornar rei mesmo, te dou dez das minhas ovelhas. Caso contrário, você me dá aquele seu camelo premiado.
— Fechado.
— Olha…
— Não tem erro, rapaz, tô te dizendo! Nunca foi tão fácil tirar dez ovelhas de alguém.
— Humpf.

15 comments

  1. Adoro o seu jeito de escrever, mas para falar a verdade Davi não tem a mesma graça de Moisés. Aquele velhinho era demais! Um beijo Marco.

  2. Ah, se o Carlos Lacerda estivesse vivo…
    Aí sim você ia ver o que era uma reportagem (e duvido o Davi escapar tão fácil do Mar de Lama)

  3. Amo esse blog, sou freguesa.
    Li tudinho. Desde a maçã envenenada que a bruxa deu pra Eva.
    Tá tristinho ainda? Pra que amigos quando se tem fãs? hehehe
    beijo

  4. è a primeira vez que faço um comentario aqui,queria te dizer que estou adorando ler a biblia de chicoteia,mas ainda não consegui alguns livros pois está dando problema para baixar o deutoronomio,juizes,numeros e josue.
    quero ler tudo mas já posso te dizer que adorei e como produtora de teatro gostaria de te perguntar se você já recebeu alguma proposta de fazer teatro com seus textos.Um abraço de mais uma fã conquistada.

  5. caceta!
    Rolei de rir!
    Leio esse blog a tempos, mas essa cena do rei lendo para as criancinhas e parado por 7 minutos!!!!
    11 de setembro e a reação de Bush no filme de Michael Moore!
    excelente Marcos!
    parabéns!

  6. DESINSPIROU-SE? Pois continue desinspirado que está ótimo. “O guarda gaiato”, “na sala de espera do dentista” e “aquele camelo premiado” foram lances geniais. O da copeira, então, nem se fala.

  7. Lacerda morreu, mas vai ter um profeta aí que vai fazer de Lacerda e vai denunciar as maracutaias todas do David… Mas chega, não vou antecipar. E ele ainda vai demorar, demorar…
    Bom mesmo foi o dialogo desses dois. O povo não mudou tanto assim.

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