O poeta full-time

Há uma cena em Cazuza – O Tempo Não Pára que resume bem o espírito do filme. Cazuza corre pelo meio da avenida Atlântica, com o empresário em seu encalço. O poeta chora, o empresário grita seu nome. Enfim, Cazuza cai na areia e diz:
— O médico disse que eu fui tocado pela Aids, Zeca! Eu vou voltar pra onde tudo começou!
E corre para o mar, enquanto a câmera o acompanha aos solavancos, fazendo a cena parecer uma mistura de Blair Witch Project com Menino do Rio. Muita gente há de adorar essa cena. Eu apenas pensei: o cara acaba de saber que é soropositivo, e ainda tem o sangue frio de soltar duas frases de efeito, uma seguida da outra?
Se fosse só essa cena, porém, eu nem ligaria. O negócio é que durante todo o filme, o personagem de Cazuza se comporta da mesma maneira. Quando conhece o Frejat e os outros componentes do Barão Vermelho, em casa com os pais, na delegacia preso com os amigos malucos, no bar, não importa: ele tem sempre uma frase preciosa na ponta da língua, como se esperasse há tempos o momento de usá-la.
Eu não creio que Cazuza tenha sido assim. Ele parecia ser um cara legal, e eu não consigo imaginar nada mais chato do que um poeta full-time.

40 comments

  1. Olhammmm, concordo. E eu nem vi o filme. E acho que é porque tenho ouvido tantos comentários do gênero que estou cada vez mais pensando em esperar o dia que vai passar no SuperCine. Sabe, outro dia ouvi uma menina falando: é bom, mas só fala de homossexualismo e drogas, eu achei que ia falar da carreira do Cazuza. Espasmo! E o cara lá teve carreira?

  2. Qualquer um fica chato sendo biografado pela mãe.
    Achei o filme muito, muito, chato. Ficção demais para biografia, tentativa de biografia demais para ficção.
    A Trilha Sonora é legal, quando eu vi, a platéia cantava junto.

  3. Nao vi o filme mas eu acho que Barao Vermelho/Cazuza eh a melhor expressao do Rock Brasileiro (e com R e B maiusculo) que apareceu na decada de 80. Nada de piegas Renato Russo ou “non-sense” Paralamas do Sucesso. Vida longa ao Barao!!!

  4. Discordo. Embora pareça forçoso, e acho mesmo que Cazuza não tinha uma frase de efeito para casa ocasião, temos que considerar que o objetivo foi muito mais passar o espírito Cazuza do que a carreira dele, simplesmente. O filme condensa 10 anos em duas horas. Muita coisa relevante ficou de fora. Muita gente, muitos amigos. Leandra Leal, por exemplo, tá lá representando várias amigas de Cazuza. Tiraram Ney Matogrosso de última hora… Enfim, talvez Cazuza não fosse tanto de falar, mas de fazer. E o que ele fazia está muito bem colocado no filme. Chato ou não ele é um clássico. Gerações anteriores e pós Cazuza cantam suas músicas. Abraços.

  5. Nossa, concordo PLENAMENTE!!! Foi a primeira coisa que eu disse quando saí do cinema, e é a única crítica que eu tenho ao filme.
    Quanto ao mais, reproduzo as palavras da minha namorada psicanalista: “Com uma mãe daquelas, qualquer filho só pode sair bicha ou drogado”.

  6. Você se afoga em razão Corélio, nada mais chato que um filme biográfico onde o personagem tema protagoniza ações cheias de coincidências improváveis e duvidosas. Tira toda a credibilidade do filme, e não venha dizer que é licença poética.

  7. Prá quem não lê o blog0news (http://blog0news.blogspot.com):
    Apos receber outros informes sobre o filme Cazuza
    acho que vou fechar com o Lobao
    que me disse recentemente numa entrevista:
    Regina Echeverria era ghost-writer da mãe do Cazuza num livro sobre ele e veio me entrevistar: “Você e Cazuza conversavam muito, né? O que você falava com ele?” “Olha, eu dava meu único conselho que poderia dar prum amigo: ‘Mate a sua mãe antes que ele te mate em morte’!” A melhor coisa que eu fiz foi desejar que minha mãe morresse. Cazuza virou uma coisa cafona, virou Criança Esperança.
    Ou
    O filme é uma higienização da vida do Cazuza quando a coisa mais interessante dele era a sujeira que promovia.

  8. Bem discordo de você Marco Aurélio, o cara não era poeta full time, ele só fazia poesia, quando não estava dando a bunda ou enchendo o nariz de pó.
    Pelo menos foi a impressão que eu tive vendo o filme…

  9. “e eu não consigo imaginar nada mais chato do que um poeta full-time”.
    Percebo um certo grau de inveja de Marco Aurélio quanto a Cazuza.

  10. Brasileiro é um tanto necrófilo. Eta povo pra adorar um defuntinho.
    Esse filme do Cazuza faz sucesso porque aqui não é que vaso ruim não quebra; basta quebrar pra que toda cerâmica rústica seja declarada porcelana chinesa.
    Logo mais, lançam alguma coisa do Ayrton Senna. Poderiam até aproveitar o mesmo ator, que pelo menos é competente (e se fez papel de bichola uma vez, pode fazer uma segunda).
    Quanto ao Observador… Hum… Marco, você tá com inveja do Cazuza? Queria ter virado a Múmia de Tutankamon (como escreve isso?) ainda vivo? Queria ter empacotado mais de véspera que peru com pressa? Queria ter rimado “poesia” com “burguesia” e a moçada deixar quieto porque você já tava mais pra lá que pra cá?
    Quem tem inveja disso, Observador?

  11. Geralmente os filmes biográficos tendem a mistificar o personagem, tornando-o um “acima de nós”. Como a famosa frase de funeral; “ele era um bom homem”.

  12. Concordo que o filme tem “n” frases de efeito, mas como alguém aí disse, são 10 anos contados em duas horas! E além do mais, o ator está perfeito e o Cazuza é genial, com todo o pó e álcool que pode consumir em sua vida! Pelo menos ele aproveitou a vida do jeito que achava melhor, coisa que muita gente não tem coragem (ou grana) pra fazer…

  13. Meu deus!!! Eu nunca li tanta porcaria na minha vida! Pra mim, vocês que acharam e enxergam tantos defeitos no filme e tem a cara de pau de dizer que Cazuza não teve carreira, me desculpem, mas vocês devem é ler fotonovela e ver Celebridade… é o que melhor fazem para ter o que comentar.

  14. Não vi o filme, mas imaginei que seria assim. Sempre gostei do Cazuza, das músicas, mas saber realmente como ele era fica difícil, e contado pela mãe deve ser bem enfeitado realmente, pelo menos agora vou ver o filme sabendo.

  15. Po, voces queriam o quê?
    O filme é baseado na visão da mãe do cara!
    Ela só viu o que quis. Ou voces acham por acaso que ela estava por perto quando o suporto beijafrô tava queimando a rosca?
    É só pegar qualquer entrevista daquela mala que ela sempre diz: “Meu filho era um anjo. bla bla bla”
    Artista bom, porém não excelente.
    O grande lance é que ele foi o primeiro que assumiu. E graças a isso, deu voz a todas as bichas-agressivas do mundo.
    Nada contra gays. Mas o gay que usa a própria homossexualidade como agressão, que quer chocar com suas escolhas… Abluééééé!!!
    E, sim. Sou da roça, interiorano e babaca. Foda-se quem concorda…

  16. Imagina qdo fizeram um filme do Renato Russo na visão da mãe dele tb.
    Afê vai ser uma merda !!!
    Sobre o Cazuza:
    Num bar GLS o Cazuza apostou USD 100,00 para ber quem iria ficar com mais caras durante a noite…
    É como já disseram, um artista bom, mas não excelente !!!

  17. Frase de efeito 2 (royalties para o Junão): “Eu também gostei!”
    Gostei especialmente da liberdade e da frase “Erra comigo, pô, mania de perfeição!” de Cazuza para Frejat.
    Ah! Agora, santa paciência, que visão de mãe não é sempre florida, qual mãe não acha o filho lindo? Pergunta para a mãe do “Maníaco do parque” o que ela acha dele?
    Deixem a pobre da Lucinha Araújo em paz, que ela já deve sofrer um bocado por ter perdido o filho único…
    Aliás, filho deveria ser proibido de morrer antes da mãe!

  18. marco, que nem o eu quando fico metendo o pau na novela e tal. aí o morevas diz: é uma porra de uma novela! então eu digo, é uma porra de visão lúdica da vida de cazuza, uma vez que foi baseado no livro escrito pela mãe dele. só podia dar nisso! ahahahah!

  19. Vi hoje, e não posso concordar mais! Se o cara andava daquele jeito cambaleante e se comunicava excluvisamente através de versos românticos, devia ser chato pra cacete.

  20. Ai, gente. Primeiro, o único erro da mãe do Cazuza foi ter consertado todas as muitas cagadas que o filho fez. Mas sei lá, mãe é mãe. Eu tenho certeza que teria mandado tomar no cu, mas eu sou louca, não conto. 🙂
    Dizer que o Cazuza não teve carreira é um pouco de..BURRICE. Desculpa. Concordo que ele não foi o gênio que dizem, mas que várias músicas dele são maravilhosas é meio difícil duvidar. Ok, ele foi um babaca? Foi, mas que gente que adora julgar esses que andam comentando por aqui, hein? Não acho que viver intensamente seja fazer todas as loucuras que ele fez, mas se o cara era feliz assim..
    Alguns comentários me chocaram. Um falando sobre o Cazuza ter virado uma múmia viva – essa pessoa deve ter achado o máximo aquela manchete da Veja: “Um ídolo agoniza em praça pública” -; e vários outros falando sobre “dar a bunda” e sinônimos. Isso é recalque, meu povo? Isso é ele-pegou-aids-porque-era-uma-bicha-louca? Ô, louco. Que medo. Não sou a pessoa mais aberta do mundo, mas comentários desse tipo me assustam. Tá, se ele dava bunda..E daí? O que esse comentário acrescenta à discussão?
    Sobre as frases de efeito: claro que o Cazuza não era assim. Acho impossível. Mas pra mim é meio óbvio que isso foi uma tentativa de mostrar o espírito dele – ok, pra alguns ele não fazia poesia e nem teve uma carreira – e romantizar a vida do cara. Pô, isso é errado? Vai falar que no imaginário de muitos não é essa a visão que se tem do Cazuza? Neguinho queria ver o cara todo entubado, morrendo? Achei mais do que natural florearem a vida do cara, como se ele fosse uma flor de pessoa, sempre bem-humorado e meigo. Isso, pra mim, não faz do filme um filme ruim.

Deixe uma resposta para Guilherme emoff Cancelar resposta