Viva Voz

Estava com medo de assistir a esse filme. Mas li um comentário sobre ele no Omelete (este aqui), e me animei. O contrário do que aconteceu com My Life Without Me, ao qual, se dependesse da resenha, eu jamais assistiria. Fui, pois.
Deus Todo-Poderoso! Jesus, Maria, José! Todos os santos! Gabriel, Miguel e a anjaiada toda! COMO É RUIM!
Eu vou falar sobre o filme, e provavelmente contarei detalhes, inclusive o final. Se você pretende ir ver, pare de ler neste parágrafo, pois. Mas lembre-se que eu avisei. Se você for assistir a esse lixo, eu estarei esperando você na saída do cinema. Vou rir muito na sua cara e ficar falando “Mas eu te disse! Mas eu te disse!”. Cê que sabe.
Pois então. No trailer há uma cena que mostra um acidente, e a subseqüente trajetória da calota do carro até cravar-se no tronco de uma árvore. Efeitos especiais impressionantes para um filme nacional. E parece que o filme todo foi feito porque o diretor fez essa cena e não sabia onde enfiá-la. Então inventou uma história qualquer quando estava bêbado (os créditos informam que a história é de autoria dele, não sei como é isso. O filme não consta do IMDB ainda), chamou um tal Marcio Alemão para escrever o roteiro e filmou. É fácil quando se é sócio do Fernando Meireles. Imagino que ele tenha dito “Pô, Fernando, cê já fez Domésticas e Cidade de Deus, deixa eu fazer o meu agora”. Só algo assim explica o fato de algo tão ruim ter saído do papel.
A história é besta mas bem poderia render algo de bom: depois de conseguir dois milhões de reais de algum jeito (não fica bem explicado, algo sobre “o caixa 2 de uma vida inteira”), um empresário, vivido por aquele sósia do Tom Hanks de nome esdrúxulo, resolve mudar de vida. Isso porque ele se sente culpado pela morte do irmão: estava dirigindo o carro da tal cena da calota, e seu irmão (Supla) morreu no acidente. Agora, com esses 2 milhões, quer se redimir. De alguma forma, acredita que cortar relações com a amante o ajudará a reconciliar-se com o irmão morto. Então vai almoçar com ela para terminar tudo. Antes, porém, enquanto os dois se pegam dentro do escritório, o peito da moça pressiona um botão do celular que está no bolso da camisa dele, rediscando o último número. Que é o da esposa dele, é claro. A esposa atende a ligação e começa a acompanhar tudo o que acontece, quase sempre de dentro do carro acompanhada por uma amiga, com o telefone ligado no viva voz.
Enquanto a situação se desenrola, o sócio dele fica no escritório tentando descobrir a senha de sua conta para desviar o dinheiro. E aí temos o maior furo do filme, maior porque sem ele simplesmente não há filme: já no restaurante, o Tom Hanks se levanta para ir ao banheiro e a amante aproveita para ligar para o sócio ladrão, dando um palpite sobre a senha (a data da morte do Supla). Ficamos sabendo que a amante é uma traidora. A esposa e a amiga ouvem tudo de dentro do carro. Ok. Mas como, se ele está o tempo todo com o celular no bolso da camisa, e acaba de ir ao banheiro?
A partir daí eu nem prestei mais atenção. Odeio quando pago para ver um filme e vejo que ele é estragado logo no começo (por isso nem vou assistir à adaptação cinematográfica de O Código Da Vinci). Mas ainda deu para perceber várias burradas: os policiais vêem dois caras mantendo reféns, um sujeito confessar um roubo e uma mulher confirmar que tentou matar alguém. Ainda assim, não prendem ninguém! Enfiaram esses dois policiais no filme para travarem diálogos casuais e supostamente engraçados (“É melhor ser surdo do que ser cego”, “É pior não ter um braço do que não ter uma perna”, coisas assim), e depois sumirem da mesma forma que apareceram. Parece que nisso há uma tentativa de imitar Quentin Tarantino. Tentativa infeliz, óbvio. Há os ladrões que conseguem hackear um caixa eletrônico e com isso aumentar o limite do cheque especial de uma pessoa. Tem o cara que recebe um telefonema no escritório. Poucas horas depois todo mundo vai parar no tal escritório e já está tudo vazio. Eu quero o telefone dessa companhia de mudanças! E por que ele roubou o dinheiro? Ah, ao que parece ele era muito amigo do Supla. Mas só dizem isso no final do filme, antes sequer se sabe que eles se conheciam. E como ele conseguiu botar a mão no dinheiro? Sabe Deus! Talvez tenham explicado, confesso que não estava prestando atenção.
As tentativas de humor são patéticas, o enredo é frouxíssimo, as atuações são de dar vergonha. Enfim, perdi meu tempo e meu dinheiro mais uma vez. Eu me odeio. Tomara que uma calota voadora decepe a minha cabeçorra.

23 comments

  1. Concordo plenamente, Marco. Tive a infelicidade de presenciar uma sessão dessa coisa…bizarra. Mais lógico que a seqüência dos fatos desse filme, só mesmo o videoclip da “Japa Girl”, do você-sabe-quem. Deprimente.

  2. Primeiramente… ia precisar de uma calota de caminhão pra decepar essa cabeçorra hein???
    Eu vi esse sosia do Tom Hanks no programa do Serginho Groismann (sim, cortaram a TVA no fim de semana) e nem ele conseguia explicar direito qual era a do filme. Mas disse que aquela cena que aparece no trailler (algo sobrevoando São Paulo) demorou 4 meses pra ser feita, num sei quantas pessoas pra fazer e tal. Acho que foi pra essa cena que gastaram os 2 milhões, o resto virou filme de fundo de quintal. Se tivessem gasto os 2 milhões com um roteirista careca e cabeçudo pelo menos teriam um filme bom…

  3. Eu nem li o texto todo, confesso… agora tô com preguiça, mas quando vi o trailer do filme e o diretor – cujo nome não me recordo – contando a história na tevê eu pensei “é uma boa idéia, mas aposto que fizeram dela um filme merda”. Obrigada por confirmar 🙂

  4. Achei o filme uma bosta também, mas não teve o furo do celular no restaurante. Assim que eles sentam à mesa, ele tira o celular do bolso e coloca em cima da mesa (me lembro disso porque fiquei puto que o cara tirasse o celular do bolso e não percebesse que estava com uma ligação. Porra, pelo menos a bateria esquenta…)

  5. não verei este filme. grato.
    mas por indicação de um post seu, fui ver qual era a do tal do Gary. fiquei envergonhado em tanta gente dando ibope pra um bostinha como aquele. não me associei à comunidade e nem volto lá. afinal, ele só quer aparecer e rir da nossa cara.

  6. Nossa! Que merda de filme! Roteirinho xumbrega! Mas a sorte é que já foi filtrado por vc, senão até eu iria ter que vê-lo para crer. Ainda bem que sempre tem alguém para fazer o serviço sujo.
    Obrigado, Marco.
    Abço (e vê se melhora, meu!)!

  7. Lá vem você de novo malhando o cinema nacional… Aposto que você é mais um americanófilo, colonizado que só acha bom o que é empurrado goela abaixo por Hollywood.
    Brincadeira!!!!!! Brincadeira!!!!!!
    Não sei se você lembra, mas há um tempo atrás entendi mal um post seu sobre o Amarelo Manga e contrariei uma crítica que você NÃO fez ao cinema nacional. Mas dessa vez, sinceramente, não sei como é que você embarcou nessa. Ao ler a sinopse me pareceu ser uma historinha que no máximo dava pra fazer um curta meia-boca e que forçaram a barra pra transformar num longa, mas pelo que você falou é ainda pior que isso. Meus pêsames.

  8. Breves, obrigado por matar minha dúvida. Mas o furo continua, como você disse: como é que o cara tira o celular do bolso e não vê que tá numa ligação.
    Renato, eu perderia o emprego logo de cara. Ninguém fala de filmes com tanta irresponsabilidade assim. Se bem que, se eu ganhasse pra isso, nem falaria desse filme. Não merece.

  9. Sim, claro que não dá pra criticar assim, pô. Mas dá uma adaptadazinha aqui, uma amenizadinha ali e pronto. Ou então cria um personagem, um alter ego, sei lá…

  10. Vi seu comentário no Orkut. Concordo que o filme não é lá grandes coisas. Mas gostei, e, apesar das atuações forçadíssimas, exceto por uma ou duas exceções, acho que dá pra ver numa tarde ociosa…
    Só queria comentar sobre duas coisas:
    1- sobre o celular no restaurante, o “Tom Hanks” faz o que quase todo mundo faz quando se assenta: coloca o celular na mesa, é um reflexo que todo mundo tem. Pra isso não precisa olhar pra ele (e ele não olha, eu tb prestei atenção nisso). E ela usa o celular dela, nem toca no dele.
    2- O cara que recebe a ligação é o mesmo que aparece no começo do filme, e é quem cuida das finanças da empresa do “Tom Hanks”. Pela conversa entende-se que ele tb é hacker e intercepta o dinheiro.
    Quanto aos policiais, também achei inúteis. Só piorou a falta de sentido que faz a cena em que todos brigam, confessam e etc, sem fazer nada. Entende-se que são corruptos, mas daí tb já é demais.
    No final é o mesmo que ver um filme do Guy Ritchie, só que todo avacalhado.
    Recomendo esperar sair na locadora

  11. mais uma vez o cinema brasileiro, sei lá por que, resolve colocar cantores (se bem que o supla nem nisso se enquadra) nos elencos dos filmes, e ainda querem competir com filmes estrangeiros, sim gente, isto é Brasil!

  12. Já naum ia assistir mesmo… agora entaum…Filme nacional, infelizmente eu só assisto depois que meio milhão de pessoas assistiu e gostou. Aqui onde eu moro o ingresso é muito caro e a minha carteirinha de estudante tá vencida, entaum pagar 12 pilas pra assistir merda naum tá no meu orçamento
    Um abraço
    e Valeu pela dica!

  13. Queria ver mas acho que, com o seu post, desisti. Basta de filmes ruins na minha semana. Ontem, fui ver “O Vestido”. Também brasileiro. Também péssimo. Ao ponto de eu me recusar a ficar até o fim. Com uma hora e pouco de filme, saí (coisa que só me lembro de ter feito uma única vez em toda a minha vida). Eu e o outro único espectador que também estava na sala de projeção saímos.
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    É… definitivamente, acabo de desistir de assistir o “Viva Voz”.
    bjs
    P.S.:Em compensação, “Tróia” é bem bom. Apesar da Helena insossa, do Menelau fraco e do Páris moleque.

  14. Assisti esse filme no Festival de Cinema do Recife, realmente é uma comediazinha bem fraca… não valia estar ocupando o lugar de um filme de verdade no Festival…. se depois disso tudo alguém ainda estiver pensando em ir ver, desista, melhor esperar passar na sessão de sábado da globo, pelo menos pode desligar a tv, virar pro lado e dormir durante o filme…

  15. Marco, pode ver o filme novamente (ok, você não gostou e provavelmente não fará isso): ele chega ao restaurante, senta, COLOCA O CELULAR NA MESA (sim, coloca), e bate papo com a moça.
    Quando vai ao banheiro, o celular, QUE FICOU NA MESA, continua captando o som ambiente e – para dar seguimento à trama – o papo da amante com o sócio.

  16. Ah!!! Os policiais prendem sim. Levam o tal bandido. A mulher confessou ter matado, mas não pode ser presa quando: 1) a ‘vítima’ está viva; 2) confessa para o marido, não para o policial (ou seja, o policial não tem a menor NOÇÃO de que alguém foi supostamente morto).
    Se contassem que o velhote conhecia o Supla, obviamente ficaria na cara que ele estaria tramando por trás de todos.
    No mais, é um filme de comédia. Não há um GRANDE compromisso com verossimilhança. Se não, veja os furos:
    1) empresário juntar dois milhões, UMA VIDA INTEIRA, e ser um idiota hesitante(um idiota ganha dinheiro de uma hora para outra, invariavelmente perdendo a bolada em seguida; quem arrecada numa ‘vida toda’, pode apostar, não é idiota)
    2) Ganhar dois milhões e trepar com aquela baranga.
    3) Ganhar dois milhões e marcar jantar com a Viviane Pasmanter.
    4) Ganhar dois milhões e comer bacalhau.
    5) Opa… Mas ele não “ganhou”… Ficou relativamente claro como ele amealhou esse pequeno montante. Vendas sem notas, subornos etc… Mas.. Mas.. Mas.. ONDE ESTAVA ESSA BOLADA TODA ANTES DE DEPOSITAR EM SUA CONTA? Num colchão? Hm.. Mas, numa vida toda (o que inclui um bom período antes de 1994), parece que a quantia desvaloriza, né? (acho que a história do babaca hesitante faz um pouco de sentido agora…)
    6) Seqüestradores universitários. Tudo bem que tem gente supostamente do bem caindo para a criminalidade. Mas, se aqueles dois não são a prova cabal de que o filme é uma comédia, então são um ‘furo’ bem mais casca-grossa do que o celular que (nãããããããããão) foi para o banheiro e captou o som da mesa.
    7) Betty Goffman. Um filme com essa daí, na boa, é um furo.
    8) Seqüestradores pé-de-chinelo com pistolas Glock. De porcelana? Hm… Mas e a munição? É de mariola da semana passada, dura que é a porra?
    9) ONDE FOI PARAR O PESSOAL DO KARAOKÊ QUANDO COMEÇOU O TELECOTECO???
    Furos totalmente compreensíveis numa comédia. Gostei do filme. Não é o melhor nem o segundo ou terceiro melhor filme do mundo. Ok, nem o quarto, quinto, sexto ou décimo nono. Tá, nem o centésimo vigésimo quinto.
    Mas é bonzinho. Passa o tempo e garante umas risadinhas.
    É melhor que Benjamin (pelo menos o diretor não colocou um doente de Parkinson para fazer papel de ‘velho com tremedeira’).

  17. Mania do caralho a minha. Agora que li seus comentários. Já tinham avisado do celu.
    Mas… Cara! Isso que é ter leitores com ‘personalidade’. ‘Valeu, Marco, agora nem vou ver…’.
    Aproveita isso, porra!!! Avise aos diretores de cinema nacional que você comanda um verdadeiro exército de semoventes!
    (sem falar que é ano de eleição…)

  18. Cara, tambem achei o filme pessimo!!! Mas, soh uma dica: antes de ir ao banheiro sem que nem porque o cara deixa o celular em cima da mesa! 🙂

  19. Putz… só chicoteando mesmo… Eu ia hoje cair nessa… hahaha… tô salva! Ia ser a segunda furada em menos de um mês, porque diga-se de passagem aquele filme da Cléo Pires, tal de Benjamim…valha-me Deus! Ô coisa chata…

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