Comentando o JMC

Meu camarada Renato K. me deu o toque:

O blog é seu, eu sei. Mas eu não gosto desse negócio de aprovação de comentários. Tem cheiro de censura, e eu odeio censura. Ou talvez seja somente porque eu tô lendo os livros do Elio Gaspari sobre a ditadura, e esse negócio me lembrou alguns expedientes usados pelo regime naquela época.

Fosse outra pessoa, eu mandaria tomar no cu. Foi o Renato, porém, um cara com quem já briguei bastante, e a quem aprendi a respeitar por ser sempre educado, gentil e pertinente em seus argumentos. Além do mais o cara mora no Marrocos, vou lá saber em que tipo de coisa ele anda metido? Eu, hein… Bom, o Renato não foi o único a dizer isso, mas foi o único a fazê-lo com educação. Então explico.
Coincidentemente, também estou lendo a série A Ditadura Coisada® (claro, eu leio tudo o que o Polzonoff manda, sou o cão de guarda dele, como andaram dizendo). E não creio que o que eu faço aqui se assemelhe nem de longe com o que acontecia sob o manto do AI-5. Usando a mesma analogia que usei num email enviado ao Renato: O jornal Estado de S. Paulo, por exemplo, tinha sempre um censor na redação. Algo parecido aconteceria aqui se, sem nenhum aviso, de repente entrasse aqui no meu quarto um direitista furioso. Ele tiraria o ímã que prende o cavalo maravilhosamente desenhado para mim pelo meu primo Igor, e o substituiria por uma foto de Olavo de Carvalho. Então puxaria um banquinho, sentar-se-ia ao meu lado com as mãos cruzadas sob o queixo (direitistas furiosos sempre têm as mãos cruzadas sob o queixo; reparem), e começaria seu trabalho:
— Não, não. Isso não pode.
— O quê?
— Botar o Senhor Deus falando “caralho”. Não pode.
— Mas por quê?
— Porque eu tô falando, oras.
— …
E aí eu substituiria os capítulos bíblicos por receitas, e isto aqui viraria a Cozinha Maravilhosa de Ofélia.
Voltando ao Estadão, agora imaginem a seção de cartas do jornal. Um sujeito envia uma carta assim:

ae ow esses mesquita é tudo cuzão huahuahuahua se liga

Ou:

Mesquita, quando é que você vai ler aquele meu artigo? Já o enviei uma dezena de vezes e você ainda não o publicou, nem sequer deu seu parecer a respeito. Não sabia que o Estado de S. Paulo era uma ditadura.

Ou ainda:

HAHAHAHAHAHAHAHA O JULIO DE MESQUITA PARECE O BEIRAMAR!

Vocês acham que cartas assim seriam publicadas no jornal? É claro que não. Postura ditatorial? De forma alguma: o jornal é dos Mesquita, e eles publicam ou deixam de publicar o que bem entenderem. Um desses missivistas que mesmo sabendo-se malquisto insistisse em berrar e espernear, que enviasse cartas com nome falso, disfarçando a caligrafia, esse sim seria um ditadorzinho frustrado, mequetrefe e muito do safadão.

Isso posto (!!!), vamos ao aspecto técnico: sei que o mecanismo de comentários está, como se diz no gueto, uma merda. O leitor comenta, o negócio demora eras para reagir, e depois aparece uma tela em branco dizendo que falta um tal de “entry_id”. Pois bem, não acreditem. Se você comentou, seu comentário veio. Não dê bola para o erro, e não comente novamente. Seu comentário foi recebido e aguarda aprovação, como avisaria João Gilberto de língua de fora se este treco estivesse funcionando direito.
E aí tem esse negócio de “aguardar aprovação”. É pra aguardar mesmo, ok? Ao contrário do que parece, eu não passo o dia todo sentado na frente do micro (só metade dele). Então aquele comentário imenso que você fez, cheio de considerações e rococós, repetido dezoito vezes, fica no limbo até que o dono desta pocilga (eu) ligue o micro e entre na tela de aprovação de comentários. Certo sujeito fez um comentário às 10h42min de hoje, e antes das duas da tarde já estava me chamando de ditador, dizendo que nunca mais visitaria o JMC, que eu sou nojento e caspento e o caralho aquático. Engraçado: eu implantei o sistema de aprovação de comentários n’O Polzonoff e no Leite de Pato, e ninguém chama o Paulo nem o Persegonha de ditadores. Só eu que sou. Só eu sou xingado. Achincalhado. Discriminado.
É duro ser preto no mundo blogueiro, viu?

Ah, só mais uma coisinha, voltando pela última vez ao affair Zeca Pagodinho: vocês não me conhecem, então não têm a mínima condição de saber o que eu faria ou não nesta ou naquela situação. Sou um homem honrado, com um fortíssimo caráter forjado pelo exemplo dos meus pais. Isso pode soar como pretensão, mas só porque hoje em dia caráter é jóia rara, e não obrigação primária de qualquer pessoa. Se vocês não têm pais decentes, isso não é problema meu. Só não esperem que eu seja canalha só porque vocês o são.

(Agora, é claro, os canalhas ficarão em polvorosa, e os burros dirão que eu chamei todos os meus leitores de canalhas. Ainda bem que tais manifestações de estupidez passam pelo meu crivo e dependem da minha aprovação)

30 comments

  1. Vamos por partes, como diria Jack, o Estripador, se ele soubesse fazer piadas cretinas como esta. Primeiramente, fiquei de queixo caído por ver meu comentário não só publicado (o que eu já esperava), mas virando um post aqui !! CARALHO !!! Podem me chamar de tonto (afinal, eu sou mesmo, grande novidade), mas eu sou fã do Marcurélio desde o 1.o dia que li o JMC, e ganhar um post do cara é phoodda (com PH de pharmácia, dois OO de cooperativa e ainda dois DD de Toddy). Vou salvar no meu HD, fazer um bécapi em CD, imprimir, emoldurar, pendurar na parede, etc.
    Segundamente, o cara ainda por cima me enche de elogios (eu sei que mereço, mas é tão duro ser reconhecido neste mundo de Alá …). O que é sensato, pois como ele mesmo diz, estou no Marrocos: basta prometer 70 virgens no paraíso pra que alguns malucos daqui fiquem prontos a explodir qualquer coisa – inclusive a sua casa, Marcão. Fica esperto.
    Terceiramente: OK, você venceu, batata frita. Não é censura, mesmo. Nem você é o Costa e Silva, nem o sistema de aprovação de comentários é o AI-5. Como eu disse no nosso troca-troca (de mails, povo pornográfico), desde que você publique os MEUS comentários, tá bom.
    Quartamente, isto aqui é uma fonte inesgotável não só de divertimento, mas também de cultura (aprendam, fariseus): sempre pensei que fosse o “caralho a quatro”.
    De resto, abraços. Também te amo. Chega.

  2. Bom, não acho certo entrar na casa dos outros para falar mal deles, mas como você deixa essa porta aberta e é inteligente o bastante pra receber críticas negativas e daí tirar suas próprias conclusões sem se ofender, lá vai:
    Comento o parentesis com que você encerra este post. Você não chamou todos seus leitores de canalhas e se tivesse chamado eu nem me importaria tanto com isso. Mas inicia o post que deu origem a esse bate-boca com o título “País de Canalhas”, e isso eu acho um absurdo que surpreende por vir de você. Não quero discutir o caso específico, mas se alguém acha que ele é um exemplo de anti-ética não tem o direito de generalizar isso para todo o Brasil. O brasileiro, como povo, não tem nada de anti-ético, nem de canalha, nem de mau-caráter. Não vou me estender mais, mas vejo diariamente exemplos de solidariedade, honestidade e ética que comprovam isso. Basta escolher pra que lado se quer olhar. Aqui há tantos canalhas quanto em qualquer outro lugar do mundo e, talvez, haja mais gente boa do que em qualquer outro lugar do mundo.
    Abraço.

  3. Muito bom o post. Pegunta: você assistiu “A Paixão de Cristo”? O que achou? Só mais uma coisinha: adorei o “caralho aquático”, apesar de não o ter visto.

  4. Pois bem. Veja voce. Deus é o dono do mundo, certo ?
    Ele faz o que quiser com a Terra certo ?
    Ele faz o que quiser com as mulheres gostosas da Terra certo ?
    Assim como também faz coisas deliciosas da vida irem por água abaixo. (Imagina quando um homem broxa ??)
    Pois então, este Blog é do Marcurélio, os comentários é dele, os leitores é dele, ele faz o que quiser com isso e ninguém tem que defendê-lo ou então critica-lo.
    De minha parte, também não acharia legal o lance da aprovação, mas meu, o bagulho é do cara e é bem feito, então deixa o cara fazer o que quiser… oras.
    Enquanto ele nos divertir para mim já é o bastante.

  5. Foi mau… Mas é que toda vez que clicava em enviar dava erro e não dava pra saber se tinha ido. Como tinha usado uns bons minutos da minha vida escrevendo um comentário grandinho não queria correr o risco de vê-lo perdido.

  6. A ditadura eu deixo para o Elio Gaspari (sem trocadilho!). O que me interessa nesse seu texto é a parte do caráter, o qual realmente é jóia rara hoje em dia. O exemplo dos pais é fundamental para se ter um bom caráter, mas não é o único fator. To cansado de ver pessoas de caráter inquestionável com filhos completamente sem caráter. Mais do que o exemplo dos pais, a pessoa também precisa ter bom senso, saber colocar as outras pessoas e/ou situações a frente dela própria quando necessário, além de outra caralhada de coisas. Mais ou menos como “jogar pelo time”. E mais, tem tanta gente metendo o pau no Zeca Pagodinho, pq ele trocou UMA CERVEJA pela outra, mas que não vêm o menor problema de trocar uma pessoa que ela ama por outra, mesmo que só por uma noite. E vivem numa teia de mentiras. Ou não! Mas algo por aí! Bah!

  7. É que o Persegonha foi acusado de apologia ao tráfico por causas dos comentários, as pessoas ficaram solidárias. O Polzonoff já tem fama de arrogante, os leitores (censurados) já esperavam isso, eu acho.
    Você só se parece com o FBM e tem fama de “o cara legal”. Aí o povo toma liberdade mesmo, acha que pode tudo… qdo coloca limites, eles estranham e chamam de ditador. Vc deveria dizer que o censor é Javé, quem lê sua versão da Bíblia entenderia perfeitamente.

  8. Canalha sim, todos nós brasileiros…Ao deixar de pedir nota fiscal quando fazemos compras, ao furar a fila em qualquer lugar, por ter um “jeitinho” para tudo…Até cego vê isso…Canalhas sim, todos nós, e nos vangloriamos por detalhes que deveriam ser regra. Solidariedade, honestidade e ética devem ser a regra, e não a excessão.

  9. Também concordo com a parte de ser um país de canalhas…vê-se pelos dirigentes que escolhemos, que não nos são impostos, fazemos opção por eles…e outra coisa, se você encontra uma carteira recheada de dinheiro e devolce costuma acontecer duas coisas, pode ir parar na TV pelo seu gesto grandioso (que não seria nada mais que a obrigação de um sujeito decente) e na maior parte das rodinhas em que contar isso vão chamá-lo de idiota…Adoro o Brasil, mas a verdade não tem como negar, está aí para quem quiser ver…mas não somos o único assim, dá quase para generalizar como um mundo de canalhas…

  10. Hehehehe.
    Adorei o último parágrafo e o parêntesis final.
    Eu não acho ruim aprovação de comentários e se soubesse fazer colocaria no meu blog. Há tanta gente tosca nesse mundo que dá até medo. Se fosse possível, escolheria os leitores. Aí nem seria preciso aprovação de comentários.
    Mantém isso aí que vale a pena.
    Ah, e como anda a idéia de fazer a biografia do Raul Seixas?

  11. Olha, a respeito de um comentário naquele post da canalhice geral do povão, pintou a dúvida das três milha. Não sei se você respondeu (visto que não leio os comentários que não veem pro meu blig), mas eu respondo (se não for impedido):
    -Não, por três milhas eu não andaria de fio dental na rua. Eu comeria sua mãe, irmã, e, se possível, sua namorada

  12. OI…nossa que rolo!
    Bem,analizando as amostras de comentarios toscos,ao meu ver é indispensável que tenha a sua autorização mesmo, afinal se tem algumas pessoas que só fazem criticas desnecessárias,com conteúdo altamente ofensivo e imbecil,me responda por que insistem em voltar ao JMC?Me explica???
    Beijos…com saudades…Bá

  13. 1. Suellen, quer dizer que você adorou “o “caralho aquático”, apesar de não o ter visto”? Tava de bruços, fia?
    2. O que será que o editor-chefe da revista What the Hell! diria a Paulo Polzonoff sobre essa picuinha ética? Mas, voltando ao comentário, penso que o mau-caratismo é aclamado pela mídia e pela massa acéfala. Acredito que aquela suposta estatística do cliente insatisfeito (um cliente satisfeito faz propaganda para 4, enquanto um cliente insatisfeito conta para 34) seja válida. Sempre – invariavelmente, nossos ouvidos são mais sensíveis ao mal que ao bem.
    6. Não, eu não sei contar além de 3..

  14. Concordo com a limitação dos comentários. Simplesmente porque o blog é seu, e aqui só deve MESMO aparecer o que você quiser.
    Um blog não é um jornal, uma revista, ou qualquer outra coisa que funcione sobre concessão pública ou imunidade tributária.
    O regime aqui é outro: propriedade privada, mesmo. Parece com a imprensa em alguns aspectos, mas não tem nada a ver do ponto de vista conceitual.
    Desculpa, Marco, mas não concordo com seu exemplo em relação ao Estado ou a qualquer outro jornal. Eles limitam as cartas por razões de espaço (de vez em quando mandam umas do tipo “vejam como eu sou democrata”, publicando cartinha que não são totalmente favoráveis).
    O Persegonha limitou os comments porque passou por um problema quase que policial. Acho que também não serve de exemplo.
    Mas, reiterando, concordo com sua atitude, e pela razão principal: o blog é seu, aqui só se publica o que você quer. Ponto final.

  15. Pedro Nunes (que se embrenhou no mundo das drogas e agora só pensa em elixires mágicos) tem um texto chamado “Filme pra gente inteligente e filme pra gente burra” (lá no meu site tem, se quiserem que procurem vocês sozinhos). Mas a questão é que você, Marco, escreve textos pra gente inteligente e textos pra gente burra. Tenta agradar a gregos e troianos, talvez não intencionalmente.
    Gente inteligente comentam coisas inteligentes. Gente burra tenta comentar, mas você não aprova porque você é um ditador safado e egoísta (hahaha).
    Raramente leio os textos do Leite de Pato e do Pause[on/off] (eu sempre quis fazer essa piadinha sem graça), mas dos poucos que li, tenho certeza que gente burra não lê nem o primeiro parágrafo inteiro. E se, mesmo assim, comentarem, foi porque leram uma palavra ou outra que acham feias, porque mamãezinha falou pra elas, em suas infâncias conturbadas, que se pronunciadas, papai-do-céu castiga e o bicho-papão pega.
    Concordo com aprovação de comentários e também concordo até com posts sem comentários.
    Liberdade de expressão é legal, mas respeito é mais legal ainda.
    Beijos pra você, morena!

  16. Marco, não tenho vergonha de ser puxa-saco não. Você paga bem, ué … E de qualquer forma, eu estava puxando o MEU próprio saco, catzo !

  17. Fiquei sabendo por aí dos problemas com os comentários. Sempre leio o JMC. Comentar não é muito comigo, sempre acho que não vai fazer diferença, enfim…
    Mas que tem que ser um cara “Atitude” pra selecionar comentários, tem. Porque seu blog é muito conhecido, os constrangimentos certamente surgirão. Espero que vc saiba ignorar numa boa. Até mais!

  18. Está certíssimo em cortar comentários como o exemplo mostrado. Censura não não é isso. Censura seria se vc cortasse a opinião de alguém que não compartilhasse dos mesmos critérios de caratér moral e político, decidindo sobre a conveniência da veiculação da informação ao público em geral. Está claro que aqui isso não acontece. É só observar a polêmica que foi instaurada, com as mais diversas opiniões sobre o assunto. Mas… Sobre a última coisinha… Deixa de ser Xiita! Esse pagodeiro vive disso, de ganhar dinheiro com sua imagem. Saiba vc que até Mahatma Gandhi já fez propaganda para a Coca-Cola (tudo bem que o dinheiro foi para ONG’s de ajuda internacional). Eu também fui premiado com a sorte de ter sido criado por pais cujo exmplo de retidão deve ser seguido, mas consigo compreender que uma pessoa, como o Zeca Pagodinho, sendo quem é, de onde veio e para onde vai, fazer o que fez, OK?

  19. Por que chamam VC de ditador e não ao Polzonoff e Persegonha? Porque foi VC quem implantou o sistema de aprovação no site deles. Simples assim. Ditador que é ditador, manda até fora do seu território! 😉

  20. Prezado,
    Preciso saber se você me autoriza reproduzir este post no meu blog. Venho enfrentado problemas com comentários imbecis. Além disso, gostaria de saber como você fez o sistema para aprovação prévia dos comentários. É isso. Abs.
    ps – obviamente, não precisa colocar essas palavras no teu blog, não. hehehe

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