Oh, glória!

Como diz Gonzagão em Estrada do Canindé, tem coisas que pra mode ver o cristão tem que andar a pé. Agora mesmo eu estava vindo lá do terminal Aê, Carvalho!, andando sem pressa, praticamente pedindo para ser assaltado. Eis que chega a meus ouvidos uma voz meio estridente, falando muito rápido coisas ininteligíveis. Parecia narração de jogo de futebol numa estação AM mal sintonizada. Mas não, era algo mais interessante: vinha de uma Igreja Universal do Reino de Deus do outro lado da avenida (não é o Reino de Deus que fica do outro lado da avenida, é a igreja). Parei, considerei a pressa que tinha de chegar em casa (para tomar limonada), atravessei a rua e entrei no templo de São Edir.
A cena que vi foi das mais intrigantes: os fiéis haviam formado uma fila, que serpenteava entre os bancos. Lá na frente, identifiquei o dono da voz estridente: um “pastor” (minha formação batista me impede de chamar de pastor alguém que nunca pisou sequer numa faculdade de Teologia) que segurava o microfone com a mão esquerda enquanto abençoava os fiéis enfileirados com a direita. E era jogo rápido, quem olhasse de repente poderia pensar que ele dava tapas na cabeça das pessoas. A fila andava, ele botava a mão na cabeça de cada um, e ia repetindo sua cantilena acelerada: “SAI DA VIDA DESSA PESSOA! SAI DA VIDA DESSA PESSOA! DO CASAMENTO DESSA PESSOA! SAI, ESPÍRITO DO MAL! SAI, MALDIÇÃO! SAI DA VIDA DESSA PESSOA! DA FILHA DESSA MULHER! DA LOJA DESSE HOMEM! SAI, PRAGA! ESSA PESSOA QUE TEM INSÔNIA! ESSA MULHER QUE TEM ENXAQUECA! ESSE HOMEM COM PROBLEMA NA COLUNA! EU ESTOU DANDO UMA ORDEM: SAI!”.
Ia assim, sem parar por um segundo. E o mais curioso: depois de passarem pela bênção do “pastor”, as pessoas sumiam! É sério: a fila era grande, mas eu não vi ninguém voltar para os bancos, talvez com uma expressão de alívio espiritual na face. Sei não, sei não… Imagino que, logo depois de onde o homem gritava, existia um alçapão onde as pessoas iam caindo e sendo devoradas por crocodilos. Bela maneira de evitar conversas constrangedoras depois, tais como “Ué, mas eu nem sou casado”, ou “Filha? Que filha?”, ou “Eu nunca fui comerciante, meu Deus!”. Pensei em averiguar, mas o homem gritou “SAI, PRAGA!” umas três vezes seguidas. Achei melhor obedecer, e fui embora.

48 comments

  1. Tem uma dessas igrejas em frente ao ponto de ônibus.
    Sei como é, é estranho estar andando na rua, pensando nas contas, na vida, no gatão da casa ao lado e ouvir um … SAI CAPETA!!!!!!!!
    Confesso que nem sempre consigo conter os risos!!!!!!!!

  2. Bahh, Uma vez um desses pastores veio com um papo de me “ezorssissar” só por causa do meu cabelo – Que é ruim, mas não é coisa do capeta, ainda. Você devia ter entrado na fila e quando chegasse no pastor, simulado convulsões, Marco.

  3. Poxaaaa Marco é de la que te conheço então…sabia que vc não me era estranho hehe…confesse vc já caiu no alçapão e ficou cara a cara com os crocodilos por isso sabe do paradeiro dessas pobres almas…hehe… bjkssss

  4. Ótima essa. Estou armando, com um amigo, uma excursão para a sessão do descarrego, na avenida João Dias. Se alguém topar, é só me escrever. Meu único medo é sair de lá e nunca mais querer ouvir rock, mas vou arriscar…

  5. Olá Marco… tô rindo sem parar… não consigo nem pensar numa frase decente para elogiar seu texto, de tanto que tô dando risada…desculpa… depois te elogio. HAHAHAHA
    Bjks!

  6. Bwahahahaha! Pois é, o importante é impressionar. É sempre a melhor forma de conseguir dinheiro das pessoas. Agora, vc teve coragem… mas pelo menos pode falar com conhecimento de causa. 😀
    Provavelmente se eu ver uma situação dessa, meio desavisadamente, vou acabar ligando para um médico… psiquiatra, é claro. 😀

  7. é, esse negócio deve ser mentira mesmo senão falariam assim pro Marco: “Sai Marco q esse capeta não te pertence” huahuahuahlkjndlkshfldmv

  8. Deve ser cartático. Toda aquela fé reunida, um louco esbravejando, pessoas se sentindo liberadas de seus problemas mundanos, e dízimo sendo coletado…..
    Vou abrir uma.

  9. Tenho um amigo cujo apelido eh Lucifer. Sabe por que?
    Porque um dia, diante de situacao parecida com a que vc viveu, um “pastor” (concordo) livrava as pessoas dos “demonios”. Ele resolveu entrar, comecou a virar os olhos, babar, gritar. Quando o “pastor” foi “socorrer” ele, ele parou, lambeu a mao do pastor e disse “Eu sou o Lucifer”. E saiu rindo do templo.
    Foi o maximo…

  10. Pelos seus posts eu achava mesmo que vc tinha tido uma educação protestante (isso vc ja tinha dito) tradicional, mas não achava que tinha sido batista. Apostava em prebiteriana.

  11. Marco,
    Ta certo que o blog é seu e voce escreve o que bem quiser. Mas se tem comentários, é porque quer opinião alheia. Muitas vezes eu entro aqui e se tem algo pra espinafrar ou elogiar, fico desconcertada em ver que alguém já fez isso antes, e talvez melhor do que eu faria. Mas uma coisa é certa, voce ta começando o caminho de volta pra tua igreja. Tudo bem, foi só uma passadinha sem compromisso pela comercial Universal (também tenho formação Batista, e sou desviada convicta),mas tenho certeza que por algum motivo teu coração esta te levando aos poucos de volta às origens. Mal não faz…vai lá!

  12. É… O que não pode é generalizar, comparando esses falsos com outras igrejas. Afinal, ainda há pastores que levam a sério a pessoa de DEUS.
    O texto ficou cômico. rsss…

  13. Você não viu direito. Cada um tinha um crachá com a indicação de sua moléstia, como cancro mole, joanete, marido bebum, piolho…

  14. “Pastor” é aquele cara que fica na igreja, jeralmente não trabalha e sua função é fazer a cabeça do pessoal com uma interpretação da bíbliaque já é encomendada pela denominação a qual ele serve. Quem já esteve numa destas igrejas e ouviu a tal pregação sabe. Estes caras lêem um pedacinho de um texto bíblico e despejam um discurso de uma hora nos ouvidos do povão, discurso este que já vem pronto e eles ainda insistem que é Deus falando nos ouvidos deles ali na hora. Se você pegar depois o texto completo, vai ver que o cara só falou o que é do interesse dele, ou seja, as contradições do texto eles omitiram. Conclusão: de enrolação já estamos com a saco cheio então sugiro que nos unamos e gritemos a uma só voz “PASTORES VÃO PENTEAR MACACO”

  15. Pois existe coisa pior, querido! Minha irmã parece que endoidou de vez e virou obreira. Há um sorteio semanal entre elas pra saber quem vai limpar a casa do “pas(mem)tor”, lavar a roupa, passar e cozinhar. E mais: elas vão ao delírio quando são as “escolhidas”.
    Pô!Eu preciso de um “pastor” desses pra casar.

  16. Isso não é nada. Já presenciamos (eu e meu namorado) um tal de “culto das vassouras”, também na igreja universal. Acho que era só uma desculpa pra não precisar pagar uma faxineira. Fiquei esperando o culto do “perfex” e do “veja multiuso”.

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