Profissão de quase-fé

Eu não queria falar aqui sobre espiritualidade nem nada assim. Não gosto muito de falar de minha intimidade, e a vida espiritual é o que cada pessoa tem de mais íntimo.
(Há quem pense que é a vida sexual. Pessoas que pensam isso são imbecis. Voltemos.)
Pois então. Só que é cada vez mais comum que me classifiquem como ateu. Ateu, e só. Acho estranho isso, e me incomoda. Porque fica parecendo que eu estacionei num ponto: “Deus não existe, pronto, acabou”. Oras, tal postura é inimaginável parar mim. Sou cético, é verdade. Mas não quero que o meu ceticismo me impeça de reconhecer Deus caso um dia ele resolva aparecer. Eu considero a possibilidade de sua existência, mesmo porque não considerá-la é mais do que mesquinho: é estúpido. Só que eu não vou sair por aí proclamando que creio só porque essa é a atitude socialmente aceitável. Não vou! Passei a maior parte da minha vida mantendo uma fé capenga, originada da minha criação e da freqüência à igreja. É claro que esse tipo artificial de crença não poderia sustentar-se por muito tempo: livrei-me dela, e fico feliz com isso. É ruim não ter um Deus para o qual apelar às vezes, mas pior ainda seria fazê-lo duvidando.
Entenderam? Não sou ateu: sou só um cara no meio de uma busca, assim como qualquer um que não seja um completo idiota.

34 comments

  1. De certa forma esse é um jeito muito mais libertário de ser. Quando você ‘escapa’ da religião as coisas são mais nítidas e belas.

  2. Acho que fiz mesmo caminho que você. Tive criação dentro de igreja, até em coral cantei. Com a diferença de não conhecer necas de bíblia, afinal, fui criada na igreja católica, onde a missa de domingo era um desfile e não um culto.
    O bom de ter passado por uma igreja e optar por sair dela, é conhecer os dois lados. Ser cético, é uma coisa. Ser totalmente “insensível” ao que te rodeia e ignorar coisas mágicas que são criadas de maneira no mínimo intrigante, é outra.
    Mas o melhor é a tal “liberdade” que outra pessoa comentou. Não ficar usando de trocas e apelos a um Deus, ou acordos idiotas para ver a “vida seguir” é o que há de melhor.

  3. Oi gentes! 🙂
    Falar de espiritualidade é muito mais que falar em Deus. Pra mim é reconhecer q existem coisas q nao podemos explicar por mais q a gente leia a respeito e teime em nao acreditar.
    Marco, adoro os seus escritos, espiono aqui faz tempo…
    Bitocasssss, Cris

  4. Você é bom cara. Muito interessante o seu ceticismo. Mas como disseram, a busca de Deus não precisa ser necessariamente através das religiões, e ter fé (ou seja, acreditar piamente no poder de algo que não se vê ), não significa necessariamente estupidez. A eletricidade e o ar estão entre nós e são muito importantes para a nossa sobrevivênicia. E mesmo assim, não estão exatamente dentro dos nossos padrões assim chamados de “realidade”.
    Está dada a chicotada.
    Darkside.

  5. Entendi também. Alias, tenho um passado de Mensageiras do Rei que hoje em dia (e ha muitos anos, diga-se) ja não faz o menor sentido, justamente por ser da época onde a freqüência na Escola Biblica Dominical era o que valia para mesurar a fé. Anfã…

  6. Se tomarmos “existência” nos termos de Sartre, Deus existe, acreditando nele ou não, o difícil é provar se você (ou quem quer que seja), existe para Ele.
    Mas enfim, durante muito tempo eu acreditei em Deus porque não acreditava no ser humano. Deixei de acreditar em Deus por esse motivo, passei a não duvidar da minha fé. Outro dia conversando com um grande amigo, percebi que senti todos os tipos de amor, inclusive por Deus. Isso me deixa feliz, porque a capacidade de amar é que me faz querer buscar algo, quando não sentia nada, ficava inerte, deixando os acontecimentos me levarem. Agora, o fato de buscar algo não me faz menos imbecil, aliás, a imbecilidade muitas vezes foi meu carro chefe e de muitas pessoas que conheci que buscavam verdades e, por isso, achavam que eram os únicos a conhecê-la.

  7. Eh isso ai!! Falar que deus naum existe eh filosoficamente incorreto, jah q naum se tem provas concretas de sua existencia. Mas tbm naum se pode fik acreditando em algo q vc naum acha certo… Penso da msm maneira!

  8. Eh isso ai!! Falar que deus naum existe eh filosoficamente incorreto, jah q naum se tem provas concretas de sua existencia. Mas tbm naum se pode fik acreditando em algo q vc naum acha certo… Penso da msm maneira!

  9. Marco, vindo de uma labirinto virtual e parando aqui, nesse entreposto do humor e da história bíblica, só não dei com os burros n’água porque o riso assustou os bichinhos para bem longe. Você escreve bem, tem uma visão (ou excesso de luz) para lá de divertida e já marco (verbo) um X aqui, para visitar mais vezes. Ler a bíblia desse modo inovador (que também pratico com textos sacralizados) é estimulante e tenho fé absoluta na salvação pelo humor.
    Parabéns.
    André.

  10. Marco, eu já havia me declarado agnóstico num comentário feito aqui há muito tempo atrás, e lembro-me de você ter se classificado como tal, também, pouco tempo depois. Tem mais gente aí nos comentários deste post dizendo o mesmo. Agora, isso tudo é apenas tentar classificar e/ou explicar o inexplicável. Eu sempre tive uma fé muito simples: acredito em Deus (ou naquilo a que chamamos Deus), e pronto. Não preciso de Bíblia, padre, bispo, Pai-nosso, comunhão … Eu creio no que creio, e pronto. Isso me traz conforto, paz e paciência. E aí eu pergunto – precisa mais ? Portanto, creia no que você quiser, se quiser, e deixe os fariseus pra lá. A maioria só tem uma crença de fachada, mesmo …

  11. Quando Jesus passou por aqui ensinou uma verdade simples e direta que foi:
    A verdadeira religião é o ato de uma alma individual, nas suas relações autoconscientes com o Criador; a religião organizada é a tentativa de socializar o ato da adoração do homem religioso individual.
    E deixo com vocês agora uma passagem “oculta” da vida de Jesus que retrata isso:
    Havia em Jerusalém, assistindo às festividades da Páscoa, um certo Jacó, um rico comerciante judeu de Creta; e ele veio até André e pediu para ver Jesus a sós. André arranjou esse encontro secreto com Jesus, na casa de Flávio, para a noite do dia seguinte. Esse homem não pôde compreender os ensinamentos do Mestre, e tinha vindo porque desejava inquirir mais completamente sobre o Reino de Deus. E Jacó disse a Jesus: “Mas, Rabi, Moisés e os velhos profetas nos dizem que Yavé é um Deus ciumento, um Deus de muita ira e de forte raiva. Os profetas dizem que ele odeia os malfeitores e se vinga daqueles que não obedecem à sua lei. Tu e os teus discípulos nos ensinais que Deus é um rei, um Pai cheio de compaixão, que ama tanto a todos os homens e que os acolheria no seu Reino do céu, o qual tu proclamas estar perto e à mão”.
    Quando Jacó acabou de falar, Jesus respondeu: “Jacó, tu acabaste de expor muito bem os ensinamentos dos velhos profetas, que instruíram aos filhos daquela geração de acordo com a luz da época deles. O nosso Pai é imutável. Mas o conceito da sua natureza ampliou-se e cresceu desde os dias de Moisés até os tempos de Amós e mesmo até a geração do profeta Isaías. E agora eu vim, na carne, revelar o Pai, em nova glória, e mostrar o Seu amor e a sua misericórdia a todos os homens, em todos os mundos. Quando o evangelho deste Reino disseminar-se pelo mundo, com a mensagem de coragem e boa vontade a todos homens, surgirão melhores relações entre as famílias de todas as nações. Com o passar do tempo, os pais e seus filhos amar-se-ão mais uns aos outros; e assim será gerada uma melhor compreensão do amor do Pai no céu pelos Seus filhos na Terra. Lembra-te, Jacó, que um pai bom e verdadeiro não apenas ama a sua família como um todo – como uma família – mas ama também e verdadeiramente se importa afetuosamente com cada um dos seus membros individuais”.
    Através dos séculos é clara (até mesmo dentro da Bíblia) uma evolução no conceito de Deus. Até que cheguemos ao ponto ideal retratado acima por Jesus se passarão muitos outros séculos ainda; mas o importante é não ficarmos parados.
    Post gigante ? Quem eeeeeu ?

  12. Concordo com May, antes fosse ateu. E antes ainda fosse crente. Seria mais fácil. Parabéns pela exposição tão clara de uma postura tão complexa. Conseguiu me traduzir perfeitamente, embora eu mesma não pudesse me expressar de igual modo. []’s!!!

Deixe uma resposta para ale siedschlag Cancelar resposta