Mulheres para os benjamitas

(Juízes 21)

Depois da guerra contra Benjamim, os israelitas juraram que não permitiriam que suas filhas se casassem com benjamitas. O que, pensando bem, já seria bem difícil: os seiscentos benjamitas remanescentes viviam na rocha de Rimon; que mulher iria procurar um noivo justamente ali? No entanto, o povo ficou triste com o que acontecera, e foi a Betel falar com Javé:
— Ó, Deus, como é que isso foi acontecer? Por que é que uma das tribos de Israel já não existe?
Quanto cinismo! Eles sabiam muito bem por que uma das tribos já não existia: eles dizimaram a tribo de Benjamim. O fato de ainda terem restado seiscentos benjamitas devia-se à sorte, e não à bondade dos israelitas. Mas a hipocrisia é uma planta que a humanidade cultiva desde tempos imemoriais, e já era uma árvore bem grande naquela época. Então eles ergueram ali um altar e ofereceram sacrifícios. Do meio do povo, surgiu a pergunta:
— De todo o Israel, quem é que não foi à reunião em Mispa?
Começaram a se perguntar isso, e acabaram descobrindo que ninguém de Jabes-Gileade havia tomado parte na reunião. Então os líderes escolheram doze mil homens e os enviaram a Jabes-Gileade, com ordem de matar toda a população da cidade, com exceção das mulheres virgens. Havia aí um duplo propósito: punir os dissidentes e arrumar esposas para os benjamitas. Isso é que é justiça: quem não teve nada a ver com a guerra, quem nunca matou um benjamita, esse pagaria pelo massacre de Benjamim. Que beleza! Os homens foram para lá, fizeram seu massacre e trouxeram de volta a Betel quatrocentas moças.
— Cadê as outras?
— Só tinha essas.
— Pô, mas Jabes-Gileade é uma cidade grande.
— Pois é. Cê já viu alguma cidade grande ter muitas virgens?
— Tem razão.
Mensageiros foram enviados à rocha de Rimon para propor um acordo de paz aos assustados benjamitas. Depois de muito hesitar, eles finalmente concordaram em descer da rocha e ir até Betel. Lá chegando, foram presenteados com as quatrocentas virgens.
— Olha, a gente fica muito agradecido. Mas é que… Bom… Veja bem…
— Pode falar! Não se acanhe!
— Então. Como é que a gente vai… Fazer?
— Fazer o quê?
— Hum. Nós somos em seiscentos homens, vocês nos deram quatrocentas mulheres. Percebem a diferença?
— Putz, é verdade…
— Como é que a gente faz? Esquema de rodízio? Ninguém é de ninguém?
— Hum… Peraí, vamos ver se conseguimos pensar em alguma solução.
Os líderes se reuniram para decidir o que fazer. A tribo de Benjamim não podia acabar, e era dever de Israel cuidar de sua repopulação. No entanto, não era justo que quatrocentos benjamitas recebessem esposas, enquanto os outros duzentos conformavam-se com a punheta, as cabras ou a baitolagem pura e simples. O juramento de não entregar suas filhas aos benjamitas não podia ser quebrado. O que fazer?
A discussão já durava horas, quando um dos líderes disse:
— Ei! Não vai ter festa ali em Siló por esses dias?
— É, vai.
— Taí a solução!
— Hein???
— Já explico…
Ele explicou, e os líderes foram alegremente comunicar a decisão aos benjamitas:
— Vocês estão sabendo da festa de dois anos do Jesus, me chicoteia! em Siló?
— Claro! Não se fala de outra coisa por aí!
— Então. Vocês vão à festa, só que vão ficar escondidos no meio das parreiras. Como vocês sabem, é tradição nessa festa as moças saírem dançando em roda pela plantação. Vocês, então, fiquem escondidos nas parreiras e prestem atenção. Quando elas saírem da cidade dançando, cada um de vocês vai sair de seu esconderijo, agarrar uma das moças e levá-la embora para Benjamim.
— MAS QUE PORRA DE SOLUÇÃO É ESSA?
— Uma excelente solução, excelente! Quando os pais ou irmãos delas vierem reclamar, diremos: “Por favor, deixem que elas fiquem por lá. Os caras não têm mulher, e nós só conseguimos quatrocentas virgens pra eles”.
— E eles vão aceitar, simplesmente?
— Claro que vão! Tá todo mundo preocupado com o futuro da tribo de Benjamim. Além do mais, eles não vão ter que esquentar a cabeça: não quebraram o juramento, as moças foram raptadas. É genial!
— Juramento? Que juramento?
— Er… Deixa pra lá.
Os benjamitas ficaram desconfiados desse plano dos líderes, ms que alternativa tinham? Chegada a festa de Siló, portanto, esconderam-se nas parreiras e aguardaram. Quando as moças da cidade vieram, cada um raptou uma delas. As moças raptadas foram levadas para Benjamim, juntamente com aquelas capturadas em Jabes-Gileade. Lá eles reconstruíram suas cidades, e trataram logo de repovoar seu território.

Como eu avisei, os capítulos do 17º adiante parecem ter sido inseridos no livro porque o compilador do texto final não sabia o que fazer com eles, e não havia ninguém por perto para dar-lhe a sugestão marota que vocês estão pensando. Então assim, com essa história que não guarda relação alguma com qualquer juiz, termina o livro dos Juízes.

6 comments

  1. putz, eu curti muito esse livro. Aliás, foi o único que eu li, pois só descobri agora o seu blog. Muito bom. Genial. Agora chega de babar-ovo. Abraços, Marco. Boa Festa!

  2. Tenho uma duvida: o próximo vai ser o livro de Rute ou o de Samuel? Pela ordem histórica devia ser o de Samuel, mas na Bíblia este livro é seguido pelo de Rute.
    Acho que vai ser o livro de Rute.

Deixe uma resposta para MxCancelar resposta