Xadrez

Estava com meus amigos na chácara da Angela (namorada do Loxinha, o autor desse lindo Jesus aí em cima) no último dia 31 de dezembro. Chegamos lá e eu logo desafiei o Diego (filho da Fabi, namorada do Loxão, irmão gêmeo do Loxinha), 7 anos de idade, para uma partida de bilhar. Perdi. Depois, chamei a Jennifer (prima do Tonon, aquele) para um pebolim (ou totó, como dizem no Rio). 10 a 1 pra ela. Fomos jogar o Jogo da Vida (não o cotidiano, aquele de tabuleiro, bem mais interessante). Perdi. Então me saí com essa:
— Perco mesmo! Perco mesmo! Azar no jogo, sabem como é…
Lá pelas onze da noite, eu e o Zezinho nos engajamos numa partida de xadrez. Ele, o único cara que eu conheço que é capaz de levantar noventa quilos na academia enquanto recita sonetos de Shakespeare, estava me humilhando. Eu, sempre com o velho dito popular em mente, estava feliz em perder. Só que a partida se prolongou mais do que esperávamos, e faltando cinco para a meia-noite a interrompemos para celebrarmos o ano novo.
Mais tarde voltamos à partida. O Zezinho, talvez distraído, fez um movimento desastrado. Dali para a frente eu consegui capturar suas peças mais importantes, recuperei minha rainha, e acabei ganhando. Contrariado pela vitória, propus uma revanche, que ele alegremente aceitou. Dessa vez nem tive trabalho: xeque-mate em cerca de quinze lances, ganhei de novo.
É um negócio besta, eu sei, mas até mesmo um cético empedernido está sujeito a ondas de superstição de vez em quando, e ainda mais no ano novo. Fiquei com isso na cabeça: havia começado um ano com sorte no jogo, o que talvez significasse azar no amor. A idéia ficou mais forte em minha cabeça durante a última semana, quando tal azar se confirmou.
Mas hoje acordei disposto a esquecer isso: desde quando o xadrez é um jogo de azar, oras bolas? Se é para alimentar uma superstição, que seja esta: comecei o ano como bom enxadrista, pensando bem antes de cada movimento, definindo minha estratégia, prevendo os possíveis movimentos do lado oposto. Que eu permaneça assim, portanto. Chega de paixões arrebatadoras, de declarações apaixonadas, de loucuras em nome de um sentimento vago: agora eu quero é jogar xadrez.

21 comments

  1. Criar ilusões temporárias tb é uma arma na mão de grandes estrategistas. Elas podem dar o tempo necessário para a recuperação e ajudar a ganhar batalhas aparentemente perdidas.

  2. Oi Marco,
    Fico feliz pela sua descoberta. O xadrez é meu companheiro há 12 anos, sempre me ensinando em tantos campos do saber. Tenho jogado atualmente umas três partidas por semana, que é o que dá para jogar.
    O xadrez não ensina apenas cálculo, lógica, possibilidade, probabilidade, seqüencia, descrição geométrica e geometria plana. Ensina também a lhe tornar uma pessoa mais calma em suas decisões, além de ensinar o preço das decisões erradas, tomadas no calor da emoção.
    Se quiseres, dê uma visitada no gamecolony.com . Em quatro cliques estarás cadastrado e jogando com a malucada de todo o globo. Sorte e cuidado coom seu rei, Andre Dahmer

  3. Essa história de xadrez ta é fedendo a escapismo…
    Mas se for de verdade que voce está desencanado de se amarrar em alguem, saiba que os amores de verdade surgem quando a gente desiste de procurar por um.

  4. É mesmo, Sandrus!
    Querer não é poder, ainda mais quando se trata de ser racional nos assuntos do coração…
    O Dalai Lama diz que pra evitar o sofrimento não devemos resistir, mas nos curvar conforme o vento, como o bambu, aceitando o que não podemos controlar.
    Esquenta as caspas naum!

  5. ô seu desinfeliz, até que enfim adotou minha estratégia de aprovar comentários. fiz isso há quase 2 anos e não me arrependo. mas é o seguinte: se você não responder meus emails, vai levar muita bordoada no dia da sua festa, entendeu?
    BTW, você não teve sorte no jogo nem azar no amor. você foi distraído com um e esperançoso no outro. nenhuma das duas coisas é ruim, mind you, continue assim. não leve o jogo muito a sério e continue com fé no amor. o amor é seu, afinal, mesmo que não tenha contrapartida.
    vai adiante, meu anjo, a fila tem que andar 😀
    beijos.

  6. O xadrez é tão frustrante quanto o amor !
    Você planeja as jogadas, prevê o movimento da oponente e quando vai executar vem o tal do imprevisto e fode com tudo !
    Mesmo assim ainda prefiro o xadrez que se te der na telha você pode pegar o tabuleiro durante o jogo e virar de cabeça para baixo alegando que se “esqueceu” de uma regra e queria apenas consulta-la !!

  7. todo mundo fala pra “desencanar de achar alguem que daí aparece”.
    mas se no momento que voce está solitário, vc quer alguem. é meio contraditório tudo isso.
    mas vou tentar.

  8. Pelo menos o jogo de xadrez tem alguma lógica, ao contrário dos relacionamentos. Mas desistir de se apaixonar? Não vale a pena. Vou continuar tentando achar a lógica dos relacionamentos, e te desejo bastante azar no jogo… rs.

  9. Lógico que se você ganhasse na loteria este ano, e não fosse burro de gastar tudo até o ano que vem, você entraria em 2005 com dinheiro suficiente para comer quem quiser…

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