O nascimento de um super-herói

(Juízes 13)

E então mais uma vez os israelitas abandonaram Javé e começaram a adorar outros deuses; e outra vez Javé se vingou, agora deixando que os filisteus dominassem Israel por quarenta anos. Nessa época, vivia na cidade de Zora, em Dã (dã!), um homem chamado Manoá. A grande tristeza da vida de Manoá era não ter filhos, pois sua esposa era estéril. Até que um dia um anjo apareceu para ela:
— Você que é a mulher de Manoá?
— Sou sim. Quem é você?
— Não interessa. Eu sei que você não pode ter filhos, e por isso nunca foi mãe.
— Er… Meio ÓBVIO isso, não?
— NÃO ME INTERROMPA! Vim aqui para lhe trazer boas notícias: você vai engravidar em breve. Não tome vinho nem qualquer outra bebida alcóolica, não coma nenhuma comida proibida, porque você vai ter um filho que será dedicado a Deus.
— Como é que é? Tá me dizendo que eu vou ter um filho? Cê é vidente, é? Olha, pode até ler minha mão se quiser, mas vou logo adiantando que não tenho dinheiro.
— Ô MULÉZINHA RANHETA QUE O MANOÁ FOI ARRANJAR, HEIN? DEIXA EU TERMINAR!
— …
— HUMPF! Como eu dizia, seu filho será dedicado a Javé, será um nazireu.
— NARIZEU???
— NAZIREU, PORRA! Será possível que você não saiba o que é um nazireu?
— Eu não. É contagioso?
— Ai ai… Aqui, ó. Nazireu é o homem que é dedicado ao serviço de Deus. Um nazireu não pode tomar vinho, nem beber suco de uva, nem comer nada que seja feito de uvas. Não pode cortar os cabelos nem a barba e não pode tocar em cadáveres.
— Vixe, quanta regra…
— Pois é. Seu filho será um nazireu desde o nascimento. Ele será um grande líder, e começará a livrar Israel do poder dos filisteus.
— Dos filhos meus? Mas eu não tenho…
— FILISTEUS! FILISTEUS! OS CARAS DA FILISTIA!
— Ah, sim. Os filhos-da-puta.
— Esses.
— Mas peraí, se eu vou mesmo ser mãe, como é que… Ei. Moço? Moçoooooo… Putz, sumiu.
Intrigada com a súbita aparição do estranho, e ainda mais com seu sumiço, ela foi falar com o marido.
— Manoá do céu, cê não sabe o que me aconteceu hoje!
— Quebrou uma unha?
— BAH! Um homem veio falar comigo…
— Um HOMEM??? QUEM FOI O DESGRAÇADO???
— Calma, Manoá! Eu acho que era um anjo…
— MANÉ ANJO!
— Sério mesmo! Era grandão, usava roupas brancas. Apareceu de repente, e mais de repente ainda sumiu. Estava com uma mochila nas costas. Uma mochila MUITO GRANDE. Sei não…
— Que que tem?
— Acho que a mochila era pra esconder as ASAS dele!
— Mulher, cê andou bebendo?
— Claro que não! Aliás, o anjo me proibiu de beber.
— Peraí: um cara que cê nunca viu mais gordo já chega logo dizendo o que você deve ou não fazer? Ele pelo menos se apresentou?
— Não. Mas ouve só: ele falou pra eu não beber vinho e pra não comer comidas proibidas, porque eu VOU TER UM FILHO!
— DELE???
— ¬¬. SEU, ORAS!
— o/
— o/
— QUE LEGAL! Mas será que era um anjo mesmo? E se tiver sido só trote de algum engraçadinho?
— Ah, acho que não. O cara manja até de leis e tal. Falou que nosso filho vai ser nazireu.
— Ah, é?
— Você sabe o que é nazireu???
— Claro, ué. Você não sabe?
— Er… Claro que sei! Só me faltava essa, não saber o que é um nazireu. Sei desde pequenininha.
— Hum… Sei não… Será que era um anjo mesmo?
— Ai ai… Homem desconfiado…
De fato, Manoá era um tanto desconfiado. Então resolveu apelar para Javé:
— Ô, Deus. Não leve a mal não, mas essa história toda que minha mulher contou… Se foi um anjo mesmo que falou com ela, será que dava pro senhor mandá-lo de volta pra me contar direito essa história de filho nazireu e tal? Obrigado.
A oração de Manoá foi atendida: no dia seguinte, quando sua mulher estava sentada no campo, o anjo reapareceu para ela.
— Opa, e aí?
— Hum? EI! VOCÊ! PERAÍ, JÁ VOLTO!
Saiu correndo para chamar o marido:
— Corre, Manoá, que o anjo tá lá no campo!
Manoá largou o que estava fazendo e saiu, esbaforido, atrás da esposa. Chegando aonde estava o anjo, perguntou:
— Foi você que falou com minha mulher ontem?
— Eu mesmo.
— Hum… Eu queria mais detalhes sobre o assunto que vocês trataram.
— Que detalhes? O que eu tinha a dizer, já disse à sua mulher. Você não confia nela não? Ou será que é tão machista que pensa que só você decide as coisas em casa?
— …
— Bah! O Chefe me falou que você tinha me chamado, por isso eu vim. Mas se eu soubesse que você só queria que eu repetisse tudo, nem teria me dado ao trabalho. Vou embora.
— Espera, espera! Não vai assim! Espera um pouco, que vamos cozinhar um cabrito pra você.
— Se eu ficar, não vou comer da sua comida. Mas se você quiser cozinhar o cabrito mesmo assim, que seja para queimá-lo como oferta a Javé.
— Por mim tudo bem… Escuta, como você se chama? Preciso saber o seu nome, para lhe fazer uma homenagem quando meu filho nascer.
— Por que você quer saber o meu nome? Basta saber que é um nome maravilhoso…
Ui, santa…
— COMO???
— Hã? Nada não. Peraí, vou buscar o cabrito.
Então Manoá pegou o cabrito e uns cereais, queimando tudo sobre uma pedra. Enquanto o fogo consumia o sacrifício, o anjo fazia umas mágicas para o casal, para impressioná-los e provar que era mesmo um anjo. Depois de uma série de truques embasbacantes, o gran finale: começou a levitar e subiu ao céu no meio das chamas. Só nessa hora Manoá se convenceu de vez de que tinha visto um anjo de verdade.
— Ai, mulher, fodeu! Nós vimos um anjo, vamos morrer!
— Ah, deixa de ser bunda-mole, Manoá! Tanta gente já viu anjo e não aconteceu nada, por que é que justamente nós iríamos morrer?
— Hum… É, você tem razão. Como sempre, né, meu amor?
— Pára, bobo…
— Minha mulherzinha falando com anjo. Que orgulho!
— Pára, tô ficando encabulada…
— Você fica tão linda assim, coradinha… Vamos voltar pra casa?
— Mas eu tenho coisas pra fazer aqui e… Ei, eu conheço esse olhar!
— …
— Tá, vamos.
Como resultado do que se seguiu a esta cena patética, nove meses depois nasceu o filho do casal. Chamaram o menino de Sansão.

18 comments

  1. Pow, tem gente que interpreta esse anjo com Jesus, pois como falam que ele sempre existiu, e ele diz aí que o nome dele era maravilhoso….
    ixi… cabuloso!

  2. Faz pouco tempo que freqüento o blog e adoro todos os seus textos bíblicos. São muito bem humorados e me divertem. Me divirto também com os comentários. Pessoalzinho simpático que vem aqui. Chega de rasgação de seda!!!! Até mais!

  3. Nessa época não existia nenhuma ONG protetora dos animais??? Por que, puta que pariu, vai gostar de sacrificar animais assim lá em Israel,viu???

  4. Esse texto é facilmente interpretado:
    ELE era estéril. Ela, não. Ela vai e se engravida de um “anjo”, que era uma espécie de boto da época, desculpa para quem aparecia grávida e não podia.
    Aí eles vão e arrumam essa historinha deslavada.
    E começa a grande história do Coelhinho da Mônica!

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