Na Veia

Acho que vocês sabem que eu venho trabalhar de fretado todo dia. Moro pra lá da Penha, trabalho no Brooklin, é longe pra caralho. A Fer fez o trajeto comigo uma vez e ficou espantada com a distância. Bobagem dela: só uma hora e meia da minha casa até aqui. Dá pra dormir bastante.
Pois muito bem: até a última terça-feira o motorista do fretado deixava o rádio ligado na Alpha, que toca aquelas musiquinhas fáceis de ignorar, boas para dar sono logo de cara. Não sei o que houve com ele, só sei que na quarta-feira entrei no ônibus e estava tocando uma música do Chico César, aquela que tem o inspiradíssimo refrão “ÔOOO / A maradzaia zoiê / Dzaia, dzaia / A i-i-i-inga do rãaaae”. O dial tinha pulado pra freqüência da Nova FM. Desde então não consigo mais dormir no ônibus, com aquela seqüência de artistas cujas músicas para mim são piores do que unhas arranhando um quadro-negro: Simone, Ivan Lins, Kleyton & Kledyr, conjuntos vocais, filhos genéricos da Elis Regina e sua patota da Trama. Lamentável.
Mas não é que hoje estava melhorzinho? Entrei no ônibus ao som de Quase Sem Querer, da Legião Urbana. Deixei de ser fã da Legião assim que abandonei a adolescência — isto é, há uns três anos — mas tem valor sentimental. Logo depois, Iolanda. Tá, eu sei que tem a Simone nessa, mas é só concentrar os ouvidos na bela letra e no Chico Buarque cantando.
Enfim, uma seqüência que se manteve por umas quatro músicas, até descambar para a ignorância: música nova dos Engenheiros do Havaii, os gaúchos que Dani adora. Nessa música nova, Na Veia (ouçam aqui), Humberto Gessinger conseguiiu superar-se. O refrão, “Vem / Ver com os próprios olhos / Vem / Ver a vida como ela é”, fará para sempre a alegria do Homem Chavão. Coisa impressionante.
Nunca mais eu vou cochilar no ônibus. Merda.

22 comments

  1. Odeio o H. Gessinger e sua mediocridade musical aliada a sua prepotência de popstar fabricado. Para mim ele é o Rei do “nada falo” e da rima esperada com pérolas como “presto atenção no que eles dizem mas eles não dizem nada”, “numa estante como diamante”, “guitarra elétrica” e outras.
    O chico realmente é um grande letrista e as vezes sua voz musicalmente fraca é apenas um detalhe que nem se nota. Que dizer de “meu guri” (acho que o título não é este), homenagem ao malandro, e várias outras.
    Neste instante começou a tocar a música “Na Veia” paro de escrever porque vou vomitar….

  2. Vai de discman. Ou de livros. Eu, pelo menos, quando tô lendo algo bom, não escuto nada do que se passa à minha volta. E com as 3 horas por dia que você tem no fretado, dá no mínimo um livro legal por semana.

  3. Como todo artista pop que caiu no ostracismo faz, aposto que daqui a algum tempo teremos um Engenheiros acústico MTV com os hits: refrão de um bolero, terra de gigantes, a revolta dos dândis…
    É só aguardar.
    Marcurélio, cria vergonha na cara porra! Pega essa grana que tu ganha dos patrocinadores e compra um discman da no camelô.
    Uma pergunta
    Tu já tirou a carteira da motorista? Faz um tempão que não acessava teu blog, daí tô meio por fora dos acontecimentos.

  4. Até que é bonitinho a Simone cantando aquela música do Gonzaguinha (?), “Tô Voltando”, meio que hino da Anistia, “faz um cabelo bonito prá eu notar, que eu só quero mesmo é despentear, quero te abraçar, pode se perfurmar porque eu tô voltando!”, você fica imaginando a mulher arrumando a casa toda e esperando o outro (ou a outra?) chegar.
    Lesgal!

  5. alias, perdão. existe sim. nos taxis! mas é aquele “shhhhhhhhprrrrrrr fulano na rua tal trhhhhshhhhh ciclano pega na rua Y crhhhiiiirttttt” do rádio mesmo

  6. Também odeio a Simone e o Ivan Lins, mas não posso mentir, ouço a Nova FM no trânsito, todos os dias. É que dirigindo não dá pra dormir mesmo, e o botão de trocar a estação está quebrado. Não tem jeito.
    Beijo,

  7. Triste é quando vc tá deprê e de repente se lembra de uma música dos Engenheiros. Tem certas coisas que vc faz quando criança que maculam a sua alma por toda a eternidade…

  8. Vc é que é feliz, porra! Quando pegava uma lotação do metrô Tucuruvi até a minha casa no Jaçanã, só tocava axé, pagode e música sertaneja! Era tanto lixo que eu chegava em casa com o reto inchado!! Ainda bem que esse aperreio acabou! Cruz-credo!
    abço!

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