Criticando com os colhões

Fim de tarde de sexta-feira. Daniela Abade me telefona. Está agitada. Claro, ela sempre está agitada. Mas dessa vez é outra a agitação:
— Marco, eu estou indignada e quero dividir minha indignação com você.
— Espero que você mantenha essa filosofia quando estiver rica… — não, eu não disse isso, na verdade só pensei nisso agora, merda. O que eu disse mesmo foi: — Hum?
— O Marcelo Mirisola escreveu um artigo descendo o pau no Budapeste.
— Marcelo quem???
— Mirisola.
— Ah…
Lembrei-me do sujeito. Havia lido uma crítica do Polzonoff ao livro dele e pensado “Não é possível, o Paulo pegou pesado com o cara, sacanagem”. No mesmo dia estava na Siciliano da Barão de Itapetininga e vi um livro dele na prateleira. Alguma coisa sobre um filho morto, sei lá. Li um parágrafo e senti imediatamente a vontade de comprar todos os exemplares de todos os livros do Marcelo Mirisola que a Siciliano tivesse em estoque. Para queimar tudo na Praça da República, é claro. O cara é ruim, só isso. Sabe aquilo que Paula Foschia chama muito apropriadamente de vergonha alheia? Aquele constrangimento de se colocar no lugar de alguém que está numa situação muito embaraçosa? Pois então, foi uma das coisas que senti ao ler a prosa (!!!) do Mirisola. Mas o que eu mais senti mesmo foi raiva: raiva de alguém publicar aquilo, de outro alguém vender, de outro comprar, ler e gostar, de outro fazer uma crítica favorável (sempre um crítico que escreve com o cu, para combinar com a escrita culhonística de Mirisola).
Queria falar tudo isso para aplacar a ira assassina de minha amiga Daniela, mas achei melhor apenas chamar sua atenção para a diferença entre Marcelo Mirisola e Chico Buarque, uma diferença que se nota seja qual for o parâmetro de comparação escolhido: qualidade literária, importância histórica, caráter, beleza (o Mirisola é muito feio!). Marcelo Mirisola. Chico Buarque.


marcelo mirisola

FRANCISCO BUARQUE DE HOLLANDA

É isso. Não dá pra levar a sério o tal artigo, que tem por título um trocadilho que parece ter sido feito por um piá de doze anos©, e do qual o autor usa um terço para falar de si mesmo, talvez em busca das credenciais que não tem. E ainda acha que “benfazeja” é substantivo! Leiam, leiam. Nota-se que o autor se joga no chão, chora e esperneia: queria ser o Chico Buarque mas — desgraça! — é só o Marcelo Mirisola. Assim é a vida: uns nascem para ser olhos ardósia, outros nunca passam de remela.

41 comments

  1. Ou se eu falasse o que se espera de um cara que escreveu os livros que escrevi, eu não só estaria falando o que a platéia quer ouvir e/ou reproduzindo a benfazeja das musas que me aporrinham
    Hein ?
    …faço isso para não me omitir diante da minha vida. Que, aliás, não é grande coisa mas é o pouco que tenho para aliviar o peso que eu mesmo criei e que, somente eu, tenho o poder de aplacar e subverter
    Ainda bem que ele reconheceu. Mas peraí, que papo é esse de “peso que eu mesmo criei” ?
    Chico não precisa de duplos e joguinhos de espelhos e não precisa dos labirintos de Borges, nem das cidades invisíveis de Calvino, nem da metalinguagem de Cortázar, não precisa de nada disso para ser o Chico Buarque de Hollanda que ele é
    Acho que, além de não precisar, ele também não merecia (aliás, nem ele, nem ninguém) ter que ler esse monte de baboseira.

  2. Falou a última bolacha do pacote.. aliás, acho que nem se ele fosse o único escritor do mundo eu iria querer ler algo dele. Ridículo. Deveria ter vergonha de falar essas coisas do nosso amigo Chico.

  3. “(…) Não tô a fim de ser vassalo do meu gênio. Às vezes tenho que apelar para a histrionice e ir além do meu próprio crédito (…)”
    Pretensioso o moco, nao?
    bjs
    P.S.: Ou muito me engano, ou turquesa e com S e nao com Z, como escreveu o dignissimo e inteligentissimo critico, neste trecho “(…) leia-se subliminarmente os belos olhos azuis turqueza e todos os lugares-comuns citados acima (…)”. E, tambem, ou muito me engano, ou ele deveria ter escrito “leiam-se”, ja que queria usar a ordem indireta… Certo, estou sendo chata e procurando (e encontrando) erro gramatical na critica so porque nao gostei dela. Vou parar.
    + bjs

  4. Numa boa,se o Chico ou qualquer outro expoente de uma vertente qualquer resolver escrever, tá tudo bem. Ou simplesmente por ser genial, ele perde o direito de escrever prosa e se o fizer, deverá ser achincalhado?
    Todos têm o direito de ser brilhantes e medíocres em qualquer área que lhes convier, seja sua especialidade ou não. O que importa de verdade é a liberdade de expressão. E mesmo o Mirisola também tem o memso direito. O problema é que a grande arte dele é de punhetar o próprio ego, sem dar-se conta que o belo sempre sobrevive.
    E tem outro lance: a postura “do contra” é anunciada no começo da crítica. Provavelmente, depois de enviar pra redação o texto, ele deve ter trancado-se no banheiro aos prantos e soluços, agarrado com uma foto do Chico, balbuciando: “Des-cul-pa , Chicoooooo!!!!!”

  5. Não foi ele que foi entrevistado junto com ela no programa da Marilia Gabriela? Não me lembro se um deles mencionou ser amigo do outro naquele programa,… corrija-me se eu estiver errada, please.

  6. Eu já falei mal de “Estorvo”. Achei fraquíssimo. Foi relutando que eu li “Budapeste”. E digo sem o menor medo de errar: Chico acertou a mão. As frases de “Budapeste” parecem versos de uma letra de música, tal o ritmo impressionante do texto. Quanto ao seu Mirisola (nome de margarina, né, não?), isso não existe em termos de Literatura. É a tal da história do Umbiguismo, este estilo literário em voga neste começo de século. Um estilo insuportável, sem imaginação, sem lirismo, cheio de palavrõezinhos feitos para “chocar” o público, como se qualquer um de nós aqui não lançasse meia dúzia de “caralhos” e “cus” em mesas de bar. É esta a (fraca) literatura de seu Mirisola. Desafio qualquer escritor desta nova geração a apelar para a imaginação. Nenhum deles é capaz de escrever um romance histórico em terceira pessoa. Exatamente por isso: porque não vão além dos “bares ensebados”, das “bucetas apertadas” e dos “boquetes alucinados”. Que chatice!

  7. Meu, ainda não li Budapeste – continuo apreciando o fino dedilhado de Saramago -, mas só pelo primeiro parágrafo da pseudo-crítica do tal do “Me-isola”, já dá pra perceber que o livro do Chico é ducaralho! Afinal de contas, há um outro motivo que faça o “expoente da geração 90” praticar uma tão asquerosa auto-felação? Pelamordedeus! Foi ali que o cara se entregou!
    Abço!

  8. ô marcorélio… o artigo é ruim, eu não esperava nada melhor, mas ler “turqueza” doeu tanto. nem revisor esse cara tem? credo.
    eu nem acho que ele falou mal, acho que ele só não falou bem, tentou fugir do lugar-comum que é elogiar o chico e tal. eu sei lá, achei o cara dos culhões medíocre, e só. não fiquei com raiva não, fiquei é com dó.
    beijo!

  9. mesmo que o artigo represente uma puta dor de cotovelo de um medíocre, eu tb não acho que o Chico buarque está acima do bem e do mal na literatura. Quanto á poesia das música, até está, mas os romances são outro departamento.
    E o Mirisola conseguiu o que queria. Apareceu no seu blog!!!!!

  10. Eu ainda não vi literatura nessa nova geração em literatura, mas havendo briguinhas, há esperança. Eu também não saquei porque tanto auê (nem pro bem nem pro mal) em torno do Mirisola. Mas se faz bem, se inspira uns e faz outros quererem provar que são melhores, beleza.

  11. Marco, afinal, quem é mais metido: esse Mirisola ou o Polzonoff?? Os dois se acham, apesar de serem meio inimigos.
    Olha essa frase do Polzonoff:
    “Agora me sinto novo para poder ir ao cinema como um espectador comum, que não analisa fotografia, movimento de câmera e coisas chatas do gênero. Compro um saco de pipocas e refrigerante e fico lá, assistindo como um espectador normalíssimo. É bom ser normal. Vai por mim.”
    No comments. Apesar de ele ter gostado dos X-Men, isso é legal!
    Abs.

  12. Esse cara que tem nome de margarina (muito bem colocado *ui*, Persegonha) parece aquele ator do SNL, Jon Lovitz, que também fez o filme “Tá todo mundo louco”, hehehe…

  13. Para mim é óbvio que o Mirisola queria provocar polêmica ao criticar o livro do Chico. Batata: conseguiu. Não levo nada do que esse cara diz a sério. O que dizer, por exemplo, de um escritor que afirma que leu o primeiro livro aos 26 (!!!) anos? Melhor fingir que essa figura inexiste.

  14. O Chico é um compositor fodaço, escritor fodaço, fez e faz as melhores letras da MPB e do Brasil de uma maneira geral, e é um cara muito bacana; enfim, uma cabeça do caralho [ sem trocadilhos, por favor :-D].
    Mas esse clichê de que ele é o sonho de consumo de qualquer mulher inteligente que se preze, que ele é o único homem na face da Terra que entende o universo feminino plenamente, e etc já tá meio velho, né não? Falta de originalidade [delas]. [Sorry pelas fãs incondicionais] .
    E o cara já tá muito velho e feio, né galera? Me ajuda aí, vamos ser honestos…hehehe.
    PS: Mas que esse Óleo de Mirisola [mil vezes mais feio que o Chico, com certeza] é um vermezinho que quer pegar carona na fodice do Chico, lá isso é fato !

  15. Marcão, devo estar fora do mundo mesmo…
    Só fiquei sabendo da existência desse Mirisola aqui no Jesus me chicoteia, num post anterior que remetia ao Polzonoff… pelo jeito melhor continuar assim, fora das “novidades da geração 90”.
    E vivas ao nosso querido Dotô…

  16. Sei lá… Não conheço a literatura do Mirisola. Confesso que nunca li livro algum desse cara. Provavelmente todos os comentaristas já leram ao menos algum livro do dito cujo, então têm bagagem de sobra para descer o porrete.
    Eu não tenho.
    Fico só com essa crítica, sobre um livro que também li. Concordo com quase tudo que nela está escrito. Porque é uma crítica que elogia Chico Buarque, antes de tudo.
    Não chega a xingar “Budapeste”, mas deixa claro que o livro é apenas um “bom livro”. E é isso mesmo. Chico Buarque não mudou o sentido da literatura mundial. Não balançou as estruturas da literatura nacional. Nada disso.
    Escreveu um livro que, como tal, merece ser classificado como apenas “bom”. Uma leitura bem agradável, mas é um livro apenas “bom”.
    Para Chico, isso é pouco. Talvez não para a pessoa Chico Buarque, mas para a imagem que fazemos daquele que é o maior nome da MPB (não digam para o Caetano que falei isso).
    Dizer que o livro é “apenas bom” não deixa de ser o mesmo que dizer “o livro não é nada ruim”. Muda-se e ângulo a visão do elogio, e ele se assemelha a um xingamento; porque, talvez, irônico.
    Repito: não sei nada do que faz esse Mirisola. O artigo não é assim tão bem escrito, sobretudo para quem se propõe a escrever livros. Se sua obra segue a toada da crítica, dificilmente se enquadra naquilo que considero um bom livro.
    Mas como não li nada, não vou xingá-lo pelo que escreveu. Só digo que a crítica, deixando para lá os trocadilhos e baboseiras sobre Gilberto Gil e outros que tais, vai ao encontro daquilo que senti ao concluir o livro de Chico Buarque.

  17. Gravataí, vou dar para você meu “Azul do Filho Morto”, romance de estréia do Mirisola, de presente de Natal. Agora que você acabou de ler o Budapeste (que também não acho uma obra revolucionária), pode ser um bom parâmetro de comparação. Li de cabo a rabo o romance de Mirisola e estou certa de que alguma coisa você vai aprender lendo a obra: o exercício da paciência.

  18. O que dizer de um sujeito que me aparece com um “Carlinhos Brow” no meio do texto?…
    Em tempo: não li “Budapeste” ainda. Não li nenhum livro do sr. Mirisola. Só achei a crítica extremamente mal escrita, com uma empáfia que não devia ser permitida por lei.

  19. Esse Mirisola é tão importante e relevante que eu nunca tinha ouvido falar nesse cara… E escreve pior que minha irmã, que tem 14 anos…

  20. Dani, se você fizer isso eu te dou alguma coisa da Zíbia Gasparetto!
    Mas, sério, até gostaria de ler algo dele. Mas não precisa ser um livro. Sei lá, uns contos talvez.
    Minha paciência é constantemente exercitada. Capaz de sofrer uma fadiga qualquer dia…

  21. OK. Eu concordo que o Mirisola é um lixo de escritor. Mas não entendo por que as pessoas ficam “indignadas” quando alguém fala mal do Chico Buarque (ou Caetano, ou Gil etc.). Ele é santo, por acaso? Intocável?
    É por essas e outras que é impossível discutir qualquer assunto no Brasil. As pessoas não conseguem entender que quem publica um romance na praça está sujeito a críticas. Pesadas, inclusive. E ponto final. O resto é frescura de classe média.

  22. Pouco abro livros. Pecado meu, mais por falta de tempo do que qualquer outra coisa. Não li “Budapeste”, nunca ouvi falar do Mirisola, mas que vocês conseguiram chamar a atenção com isso tudo e alçar o cara ao estrelato, ah isso sim! Eu só lamento pelos que gastaram dinheiro com isso (a falsa literatura de Mirisola). E acho que cada um tem que olhar MUITO LÁ DENTRO do próprio umbigo antes de falar qualquer coisa.
    Um abraço.

  23. Esse não é o cara que, numa entrevista na televisão, disse que não concordava que crianças lessem??
    Se não me engano, foi numa entrevista com a Clarah, na época.
    Tá louco.
    Se eu não lesse desde que nasci, não sei o que seria de mim. E falem mal de quem for, do Chico NUNCA!!
    Herege.

  24. Huahuahua! Não conheço o cara (o Minhas Bolas), não li o livro do Chico, não li a critica porque o mané escreve tão mal que realmente é dificil conseguir chegar ao fim, mas to achando muito engraçado isso aqui. Dá pena.
    E por falar em dar eu queria mesmo era dar pro Chico. Mas ele não quer 🙁

  25. Cara, esse Homem escreve dificil de mais. odeio texto que eu tenho que ficar decifrando. Mas eu tb não sou lá muito fã de Chico e uma coisa eu tenho que adimitir, é uma Tese que eu tenho “Se o Zezé di Camargo gravar uma música do Chico e fingir que foi ele mesmo que fez vai todo mundo falar mau da música, agora se o Chico pegace escondido uma musica do Zezé e gravasse todos aplaudirião de pé” E tá ai uma cosia quen não gosto, só por que o cara é bom não quer dizer que tudo que ele escreve é sempre perfeito, mas dai todo mundo fica com vergonha de falar por que vai ser criticado,e fica todo mundo batendo palminha.

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