Tchan, tchan!

Eu e a Brisa (Ah, se a juventude que essa brisa canta / ficasse aqui comigo mais um pouco / lalalalalalalalalalaaaaaaaaalaláaaaaaa. Ok, brincadeira. Muito bom te conhecer, moça) fomos ao cinema hoje assistir ao maravilhoso O Filho da Noiva. E não sei onde é que eu estava com a cabeçorra que ainda não o tinha visto: excelente, excelente!
Uma cena em particular me chamou a atenção: Juan Carlos, amigo de infância de Rafael Belvedere (o protagonista), conta uma história. Fala de como ficou depois que perdeu a mulher e a filha num acidente de automóvel:
— Comecei a beber, beber. Faltava ao emprego. Os amigos se afastaram de mim. Não os culpo: eu vivi um tango de dois anos de duração. Até que um dia acordei no meio de uma poça de vômito. Nojento! Levantei e fui tomar banho. Na banheira, olhei para o espelho que fica do lado, para fazer a barba durante o banho. Fiquei olhando meu rosto por meia hora, pelo menos. Olhando, olhando… E nesse momento… Tchan, tchan!
— …
— …
— E…?
— E nada, oras! Tchan, tchan!, acabou o tango, voltei a viver.
Que beleza! A vida é assim mesmo, não é? Vivemos tangos de um dia, uma semana, três meses, um ano, dois, uma década. E quando passa é assim mesmo: Tchan, tchan! É claro que essa ou aquela seqüência de acordes, ou uma tendência a voltar ao tom inicial meio que antecipam o final. Mas acaba mesmo é assim, de repente. Num momento você está lá dançando com uma flor há muito morta entre os dentes; no momento seguinte é o silêncio abençoado. Tempo para dançar um samba, um baião, um foxtrote, um twist, ou mesmo sentar-se um pouco e ficar assistindo aos outros dançarem.
Eu mesmo já dancei muitos tangos na vida, uns curtos, outros que pareciam versões canhestras de Faroeste Caboclo. Muitas vezes achei que aquele bandonéon ficaria tocando para sempre, mas o tchan, tchan! sempre veio. Hoje estou dançando alguns tangos, mas não reclamo: vão todos acabar com exceção de um. Este vai fazer assim:

… de mi corazóoooooooooon!

TCHAN, TCHAN!

[emenda com a introdução de Asleep on a Sunbeam]

When the half light makes for a clearer view
Sleep a little more if you want to
But restlessness has siezed me now, it’s true
I could watch the dreams flicker in your eyes
Lying here asleep on a sunbeam
I wonder if you realise you fascinate me so.

Então eu terei parado com esse negócio de dançar sozinho, e terei talvez um par de olhos azuis a menos de um palmo dos meus.

23 comments

  1. Boa sorte para todos nós, que estamos à procura de um par ideal para seguir esse ballroom da vida (aliás, não sei como tem gente que acha graça em dançar sozinho, sem contato corporal).
    Falando em tangos, nem todos acabam no “tchan, tchan!”. Procure ouvir os tangos dançantes de Astor Piazzolla, em especial o inacreditável “Fuga y Misterio”. Uma pauleira!

  2. Notícia de Última Hora:
    “Crescem abruptamente as vendas de lentes azuis na região de SP, por motivo ainda não conhecido”
    Eu adoro Tchan Tchans, eles fazem um bem danado às vezes.

  3. Grande filme!
    Tem também aquele diálogo impagável entre Rafael e o padre (mais ou menos assim):
    – Mas, padre, Deus é velho como meus pais.
    – Meu filho, Deus não é velho nem jovem; não é homem nem mulher; não é preto nem branco…
    – Não! Este não é Deus! Este é o Michael Jackson!
    De fato, um grande filme.

  4. Eh Marco!
    Há séculos eu não lia seu blog. Mas caramba! Nunca me decepciono!
    Adorei o tango, o tchan tchan, os eternos bandoleóns.
    E se, o tango ainda dançado sozinho, já anda neste grau de inspiração, torço muito para que o par de olhos azuis se junto logo à dança. Assim, seus leitores poderão, com certeza, serem brindados com tangos , mais que divinos.

  5. pq eu me sinto uma estúpida quando leio seus posts?
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    porque vc me emociona, e nada que eu faço com emoção fica bom. não mesmo. desculpa, tá? vou tentar me controlar.. hohoho =/

  6. Que declaração!!
    Sou fã do seu blog e espero que fique com o par de olhos azuis.
    E enquanto esse olhos azuis assombram sua vida, eu tenho um par de olhos verdes assombrando a minha.

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