O saco do travesti

Aconteceu há alguns anos. Estava de carona com um amigo (não lembro qual, provavelmente o Risadinha) e passávamos pelo Tatuapé. Eu estava no banco de trás com a Bárbara, então minha namorada. O carro parou num semáforo e eu, distraído, olhei para o lado.
Não entendi de imediato o que estava vendo. Era uma bunda, sem dúvida nenhuma, semicoberta por uma microssaia. Só que ao final da caneleta central, ao contrário do que se poderia esperar de uma bunda tão feminina e delicada, havia um saco. Sim, um saco. Tratava-se de um travesti que, debruçado sobre a janela do carro vizinho, deixava na minha cara aquela visão horrenda. E ainda bem que havia um vidro entre nós. Levei um susto, olhei depressa para o lado, mas já era tarde: surgia mais um trauma.
Estava pensando nisso porque agora estou numa situação ruim (de novo). Eu não sei como me portar com as pessoas, não sei quando é hora de pegar pesado e quando é hora de ser suave. Só eu não conheço as regras do jogo em que todos estão. Sinto-me deslocado do mundo, sinto-me bizarro.
Eu sou o saco do travesti.

22 comments

  1. Essa comparação foi foda, mas de certo modo muito sensata 🙂
    Bom, pelo menos você não se comparou ao cu do travesti, né? Aí sim seria uma insensatez fodida, e bota fodida nisso 😉

  2. Até bem pouco tempo eu era o maior “fio desemcapado”. Por qualquer coisinha eu descarregava nas pessoas todas as minhas frustrações e vivia mal-humorado; o meu patrão sempre se referia a mim como “o cara que nunca ri”. Achava quem quisesse gostar de mim tinha que gostar do seu que eu era, que a minha agressividade vinha incluída no pacote. Até que pouco a pouco fui perdendo o carinho das pessoas que eu gostava mas que nem sempre tinha coragem de dizer isso pra elas por achar que era pieguice. Aí, como diz uma canção da Angela RoRo, “As vezes até na vida é melhor ficar bem sozinho, pra gente sentir qual é o valor de um simples carinho”. Foi o que aconteceu comigo: fiquei só, sem amor e sem amigos nem dentro da minha própria casa. Só então pude perceber que todo o esforço que eu fizera pra afastar as pessoas de mim tinha dado certo, e que eu estava mais infeliz do que nunca. Hoje eu entendo que agir agressivamente não passa de uma maneira equivocada de atrair a atenção das pessoas. Entendi que mais do que precisar ser amado, eu estava precisando era amar. Enfim, vou parar por aqui porque esse comentário tá ficando uma baboseira só. Se dizer que eu também estou passando por uma má fase, mas a maneira como estou conseguindo lidar com isso está me deixando muito satisfeito lhe ajuda, eu fico feliz. Não vale a pena pegar pesado. A mansidão de ser é o que liga.

  3. Faz parte das dores de ser diferente esta sensação de não saber onde vc se encaixa… saber que vc poderia fazer muita coisa boa mas não saber ao certo onde, como se algo maior que vc o impedisse de ir e concretizar seu potencial….
    Neste caso vc é um pinto de padre 🙂

  4. MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMPPPFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF…
    MMMMMMMMMHAIhaiHhaihahaHIUhhiuahaIUahuhiuhaIUhaIuhAIUhaUiHAiuHuHIAIUhahaHIUa!
    (snif)
    ai, chorei de rir agora…
    Poxa, você está assim tão fora dos padrões?
    HIuAhahuaihAiuHAiuHAauihaIUhaiuHIUHUHAiuhauhhiaHihahiaihuaIhu

  5. Dependendo do Traveco, saco nenhum… Agora se você está se sentindo o saco de um travesti, faça contigo, o que eles fazem com o saco: se esconde.
    Quanto a saber regras de jogo, a gente tem que lembrar que não dá pra jogar sozinho, pergunte aos participantes do jogo quais são… E se você já joga há muito tempo com algumas pessoas, elas já devem ter percebido que você é um péssimo jogador e não dão a mínima pra isso. Garanto que se dessem, já tinham caído fora da partida.

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