Sobre Garcia Márquez, a Grande Guiana e a Farsa do Maracanã

Terminei esta madrugada de ler Viver Para Contar, do Gabriel Garcia Márquez. No meio de tanta coisa para se notar, percebi algo que me incomodou bastante: a quase absoluta ausência de qualquer alusão ao Brasil. Só quando fala de uma reportagem sobre futebol, menciona um jogador brasileiro então contratado por um time colombiano. De resto, são citados diversos países da América Latina: Peru, Argentina, Chile, Equador, México, Cuba, até o Panamá. Brasil? Que é isso? O que é aquele pedação de terra no qual as pessoas não falam espanhol como as pessoas normais? Quem são esses mulatos que preferem consumir a cultura européia e norteamericana a tentar ao menos conhecer o que é produzido na vizinhança?
Assim, para nossos irmãos de continente somos uma espécie de Guiana com mania de grandeza, um Suriname que pensa ser os Estados Unidos. O idioma é um obstáculo, claro, mas há um problema de identidade nacional e contextualização: se nossa geografia correspondesse à nossa mentalidade, o Brasil seria uma faixa de terra pouco mais larga que o Chile ao longo da costa Atlântica. Os outros? Ah, os outros são cucarachas, são latinos, são hispânicos. E ainda reclamamos quando somos confundidos com eles. “Pera lá! Eu sou BRASILEIRO! Eu falo PORTUGUÊS!”. Um orgulho besta que só nos afasta de nossos “países irmãos”, como nos referimos a eles com uma boa carga de ironia. E enquanto isso ensina-se inglês nas escolas públicas, sem que sequer se avente a possibilidade de cursos de espanhol em larga escala.
Blablablá. Estava pensando em tudo isso e então me lembrei que ontem vi Roberto Rojas no shopping center Morumbi. Rojas, para quem não sabe, é técnico do meu glorioso São Paulo Futebol Clube, que agora ocupa uma honrosa terceira colocação no campeonato nacional. Mais que por isso, porém, ele será sempre lembrado como um dos protagonistas da Farsa do Maracanã, ao lado de Rosemary Fogueteira.
3 de setembro de 1989, Rio de Janeiro, estádio do Maracanã, eliminatórias para a Copa do Mundo. Brasil e Chile estão jogando. O Chile precisa ganhar a partida para ainda ter chances de classificação, mas a seleção brasileira vence por 1 X 0, gol de Careca. Aos 23 minutos do segundo tempo, a então anônima torcedora Rosemary Mello — depois foi capa da Playboy e hoje é evangélica — usa um sinalizador da marinha como rojão, atirando-o no campo. O foguete cai dentro da grande área chilena, e Rojas, o goleiro, se joga no chão, simulando ter sido atingido. Para dar maior realismo à cena, ele corta o supercílio com uma lâmina que levava escondida na luva, causando abundante sangramento. Um dramalhão bem ao gosto dos cucarachas…
O jogo foi cancelado e começou a polêmica: quem ganhou? Haverá outra partida? Ficamos nesse impasse até a farsa ser descoberta. O resultado de 1 X 0 ficou valendo e a seleção chilena foi punida, proibida inclusive de disputar as eliminatórias seguintes, para a Copa de 94. Para Roberto Rojas foi pior ainda: o goleiro foi execrado por todo o mundo, e especialmete aqui en Latinoamerica. Era reserva do São Paulo na época, mas não podia jogar. O que fazer? Era desprezado em seu país natal e odiado no país de adoção. A solução foi dada pelo próprio São Paulo: o chileno foi contratado como preparador de goleiros, e pelos resultados — Zetti e Rogerio Ceni, quem precisa mais que isso? — foi muito bem sucedido.
Depois de uma série de acontecimentos, e juntando competência a golpes de sorte, Roberto Rojas chegou finalmente ao cargo de técnico do clube mais importante da história do futebol brasileiro, quiçá mundial. Então eu me pergunto: e se fosse o contrário? Se um goleiro brasileiro aprontasse a presepada que Rojas aprontou naquela ocasião, teria alguma oportunidade no Chile? Duvido muito que sequer estivesse vivo.
Ah, pau no cu desses cucarachas então!
BRASIIIIIIIIIIIIIIIL, Ê-Ô!
BRASIIIIIIIIIIIIIIIL, Ê-Ô!
BRASIIIIIIIIIIIIIIIL, Ê-Ô!
BRASIIIIIIIIIIIIIIIL, Ê-Ô!

32 comments

  1. “O problema da inserção do Brasil na América Latina encontra restrições geográficas e culturais, pois faltam a nós dois dos grandes elos que unem toda a America Latina: O idioma espanhol e os Andes.”
    Eu disse isso uma vez, bêbado, num albergue no Chile, e quase fui aplaudido de pé…

  2. Smos diferentes mesmo, somos metidos e arrogantes, não sabemos nada dos paises ao nosso lado, mas conhecemos profundamente os USA…
    Mas apesar disso perdoamos ums marginal da maior marca que é o Rojas, e que hj em dia se acha pra caralho, como se nunca tivesse feito merda na vida..

  3. Quanto ao jogo Brasil e Chile, a narração está perfeita. Faltam apenas dois detalhes que explicam porque o jogo era especialmente tenso:
    1) Na Copa América, poucos meses antes da Eliminatória, o Brasil havia tomado uma enfiada de 4×0 dos chilenos.
    2) No jogo do Chile, nas eliminatórias. O Chile venceu o Brasil num lance muito interessante. O juiz marcou falta contra o Brasil dentro da área. Se não me engano, sobrepasso do Taffarel. O time brasileiro ficou meio bundamoleante. O jogador chileno pegou a bola da mão do Taffarel, colocou-a no chão e tocou pro lado, onde um companheiro fez o gol. O juiz apitou pro meio validando o gol. Pronto: estava declarada a guerra pro jogo de volta. E eles vieram armados. De gilete, mas armados
    Faltou dizer também que o Zagueiro Astengo, então zagueiro do Grêmio pegou uma punição de 20 anos. Como se fosse voltar a jogar depois dos 40. Não era o Mauro Galvão nem nada…
    E faltou dizer também que esse Rojas é um baita enganador. Se não fosse o Luis Fabiano o São Paulo ia estar lá na rabeira.
    Enfim, faltou quase tudo.

  4. O Nelson Rodrigues tem uma crônica muito boa, chamada “O Brasil, esse imperialista”. Tá publicada em O Reacionário, acho que da Cia. das Letras.
    A propósito, perdoar o pau no cu do Rojas é coisa de são paulino safado que ainda acredita (perdoai-os, Senhor, eles não sabem o que fazem) que é o “time mais importante do Brasil” (RáRáRáRáRáRáRá)

  5. Só pra constar, que eu me lembre, não era sangue aquele líquido vermelho que estava espalhado pelo rosto do Rojas aquele dia, mas sim Mercúrio Cromo, que o médico chileno levou pra ele. Pelo menos a versão que eu pensava era assim. E o Rojas foi proibido de jogar qualquer coisa relativa a futebol pela própria FIFA.

  6. Retificação: O Zetti já era um goleiro formado quando saiu do Palmeiras (mais de 200 minutos sem tomar gol num campeonato por aí) e foi treinado por um ex-goleiro do Santos que formou os principais goleiros do Brasil, entre eles Rogério Ceni, Marcos, Fabio Costa, Carlos, Ronaldo.
    Fora isso, Salve o Tricolor Paulista!!!

  7. acho que o preconceito vem um pouco deles também….. não somos só nós que nos excluímos…. eles tb nos excluem…… enfim, ficamos todos separados quando deveríamos estar juntos!!!!! muito bem galera!!!!!

  8. Acho que nós somos meio assim por uma espécie de vocação terceiro-mundista, aquela síndrome de quem-nasceu-pra-lagartixa-nunca-vai-chegar-a-jacaré, que faz a gente ficar embevecido com as tais ‘maravilhas do primeiro mundo’. Pura bobiça nossa, todo mundo sabe.
    Mas nossos companheiros cucarachas são bem diferentes…é justamente o inverso…não admitem ninguém que não eles…o portenho então, não admite nem quem tenha nascido fora de Buenos Aires…
    A gente xenófilo demais, eles xenófobos além da conta… a solução seria um meio termo globalizante ?

  9. Potrésto: povinho mais besta e Odete Roitman do que argentino aqui nesta latinoamerica não há. Sou vizinha destas pragas aqui do lado e só deus sabe o que eu aturo.
    Nóis é um povo fofo.

  10. Retificando. O Brasil foi goleado pelo Chile por 4 a 0 na Copa América de 1987, gols de Letelier e Basay (2 cada).
    Nas eliminatórias de 89, o Chile não ganhou do Brasil. O jogo lá em Santiago foi 1 a 1. O gol de empate saiu, sim, num sobrepasso de Taffarel

  11. Retificando. O Brasil foi goleado pelo Chile por 4 a 0 na Copa América de 1987, gols de Letelier e Basay (2 cada).
    Nas eliminatórias de 89, o Chile não ganhou do Brasil. O jogo lá em Santiago foi 1 a 1. O gol de empate saiu, sim, num sobrepasso de Taffarel

  12. Retificando. O Brasil foi goleado pelo Chile por 4 a 0 na Copa América de 1987, gols de Letelier e Basay (2 cada).
    Nas eliminatórias de 89, o Chile não ganhou do Brasil. O jogo lá em Santiago foi 1 a 1. O gol de empate saiu, sim, num sobrepasso de Taffarel

  13. Retificando. O Brasil foi goleado pelo Chile por 4 a 0 na Copa América de 1987, gols de Letelier e Basay (2 cada).
    Nas eliminatórias de 89, o Chile não ganhou do Brasil. O jogo lá em Santiago foi 1 a 1. O gol de empate saiu, sim, num sobrepasso de Taffarel

  14. Retificando. O Brasil foi goleado pelo Chile por 4 a 0 na Copa América de 1987, gols de Letelier e Basay (2 cada).
    Nas eliminatórias de 89, o Chile não ganhou do Brasil. O jogo lá em Santiago foi 1 a 1. O gol de empate saiu, sim, num sobrepasso de Taffarel

  15. Retificando. O Brasil foi goleado pelo Chile por 4 a 0 na Copa América de 1987, gols de Letelier e Basay (2 cada).
    Nas eliminatórias de 89, o Chile não ganhou do Brasil. O jogo lá em Santiago foi 1 a 1. O gol de empate saiu, sim, num sobrepasso de Taffarel

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