Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

(Carlos Drummond de Andrade)

Sim, eu sei que já postei esse poema. Mas é que o último post da Fer (cujo blog, aliás, tá de cara nova) me fez lembrar dele.

8 comments

  1. A folha fez um entrevista com ele algumas decadas atrás e ele acreditava muito no povo brasileiro. Também antigamente não tinha ACM, COLLOR, Enéas, Luiza Helena, Babá e Marta Suplicy

  2. Markinhu…
    Nem sei se vc vai ler isso…
    Mas, seguindo seus ‘conselhos’ (sim, JMC tb eh cultura!) resolvi me esforçar pra me tornar uma blogueira de verdade e, quem sabe um dia, entrar na lista de profetas…
    Vc pode conferir a 1ª mudança no meu ultimo post… Espero que eu consiga mudar, esse negocio de ‘diarinho’ ta me cansando…
    Beleja?
    Bjim pru ce…

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