Para enlouquecer

Eu não sei como é que ainda não enlouquecemos todos. Comece a pensar em qualquer coisa; logo os pensamentos tomarão um ritmo vertiginoso. Você tenta pará-los e não consegue, e acaba sendo levado por eles, como que tragado por um buraco negro.
Agora há pouco, por exemplo, estava eu fazendo um esforço de depuração em busca de alívio para minha agonia intrínseca. Resumindo: tava cagando. E aí comecei a pensar em Jorge Luis Borges (vejam como sou pretensioso). Comecei a pensar que todo matemático, físico ou astrônomo deveria ser obrigado a ler Borges, pois ele é o único autor que eu conheço que consegue, através da literatura, dar uma idéia do que seja o infinito, tanto o infinito “grande” quanto o infinito “pequeno”. Os números, por exemplo.
Aí fodeu: sempre que começo a pensar nos números tenho a impressão de chegar ao limiar da loucura e só escapar dela por acaso. Se não vejamos: primeiro a gente aprende o 1, depois o 2, e o 3, e assim por diante. Um dia perguntamos a um adulto quando é que os números acabam e ele responde, como se fosse a coisa mais normal do mundo que não acabam. “Como não acabam?”, pensamos, “Como é que esse cara fala isso como se fosse pouca coisa?”.
Mas a seqüência numérica ser infinita em ambas as direções é até compreensível. O que sempre me fundiu a cabeça é a infinitude que há em qualquer intervalo numérico. Entre o 1 e o 2, por exemplo, que aprendemos tão cedo, existem infinitas frações. INFINITAS! São infinitos números, mas como, se há limites claros para eles??? Começa no 1, termina no 2, TEM QUE TER UMA QUANTIDADE CERTA, PORRA! Trace uma reta. Ponha o 1 numa ponta e o 2 na outra e tente aceitar que há infinitos números na reta. Aposto que você vai rasgar o papel.
Aí nego vai vir com a definição geométrica de ponto. O ponto geométrico é um trocinho tão pequeno, mas tão pequeno, que nem dimensões tem. Há infinitos pontos numa reta, ou semi-reta, ou segmento de reta, ou em qualquer figura geométrica com mais de uma dimensão. Mas peraí: como é que se pode do nada criar tudo? Quer dizer que se eu pegar um número infinito de zeros terei um número? Então os números nada são do que uma quantidade muito grande de nada? E isso se aplica a tudo que é infinito? Então tudo o que é infinito não passa de abastração? Quer dizer então que os números não existem? E deus? E o universo?
Bah, depois não sabem porque eu demoro no banheiro.

35 comments

  1. Adoro essas discussoes.
    Quando vc diz “Trace uma reta. Ponha o 1 numa ponta e o 2 na outra e tente aceitar que há infinitos números na reta.” eu entendo seu questionamento. No entanto, ha infinitos numeros somente porque ela sempre pode ser dividida mais uma vez. Essa eh uma das maneiras de entender esse fato. Outro eh que ela eh finita, composta de uma certa quantidade de pedacos menores, finitos. Ajudou?
    E dos zeros nao se faz nada. Mas a partir do momento em que algo nao eh mais zero, mas algo um pouquinho acima, ja da pra juntar bastante desses e fazer numeros que vao ao infinito grande. Zero mais zero eh zero.
    Nao acho assim tao intrigante. E acho bem legal, vc, uma pessoa tao voltada a palavra, pensar nisso. Eh por causa do trampo?

  2. sabe marco …
    eu tambem ficava me perguntando isso .. até começar a estudar engenharia …
    aí fodeu de vez … agora simplesmente eu uso os numeros .. naum tento compreende-los pq eles estão no patamar das mulheres em facilidade d compreensao

  3. O bacana é pensar que sabemos que tudo é formado por átomos, e átomos são formados por prótons, nêutons e elétrons e mais uma caralhada (adoro essa expressão, apesar de ser feio falar isso) de partículas sub-atômicas, mas ninguém sabe do que tais partículas são feitas. Pior ainda, agora tem essas teorias do tipo supercordas que falam que a matéria é vibração de cordas na décima dimensão ou algo perto disso. Tudo bem, mas vibração de quê? No quê? Do que são feitas as malditas cordas? Também me assusta bastante saber que tudo – pretensamente – é formado por átomos. A partir do momento em que você enfia isso na cabeça, de verdade, as coisas ficam bem interessantes. Meu, no fundo, no fundo, a meleca do seu nariz, um carro e uma estrela são formados de átomos! Tudo é uma coisa só, no fundo. ARGH!
    É por essas e outras que eu tenho pensado seriamente em fazer faculdade de Química.

  4. Certa vez pedi para um professor explicar novamente porquê não existe distância 0 (zero), pois qualquer distância pode ser dividida por dois infinitamente, então nunca chegaria a zero. Ele explicou e não entendi. Então pedi p/ ele explicar de novo e ele disse: “Não precisa entender, apenas aceite como verdade!”
    Hoje, passados vários anos desse episódio, tenho apenas uma convicção: zero não existe. Distância zero não existe, massa zero não existe, velocidade zero não existe. Podem ser infinitamente pequenas e até desprezíveis para o uso que se quer delas, porém NUNCA iguais a zero. O zero é utopia.

  5. Bem, se o tudo é feito de nada e o zero não existe, o nada é feito do tudo. Mas o nada é mais real do que o tudo. Hm…se meu cérebro não tiver travado, posso arriscar dizer que nada existe de verdade. Só há energia concentrada em diversas porções.

  6. Poke, deve ser o banheiro da Progress que eh inspirador. Uma vez o Konatu (ex-progress) tava com um problema, me contou exatamente no momento que tava indo ao banheiro. Apos sair do banheiro eu voltei com a resposta….. e aconteceu o dialogo:
    – Miro, o que vc foi fazer no banheiro?
    – Tava dando uma mijadinha.
    – Po, o que vc faria entao se estivesse gagando?
    Na epoca, nao respondi nada pq fiquei com vergonha de dizer q pensava em intervalos infinitos.

  7. Blasfêmia! Pelo amor de deus, seu Mercorélho: KAUFMAN escreve-se com um “N” apenas, assim: ANDY KAUFMAN e não assim: (NÃO) ANDY KAUFMANN – pelo amor de deus, quer fazer referências, faça-as da maneira certa! Ou então passe a escrever “Chico Boarque”, “Bele E Sebastiann” e seja justo com todos, seu inútilo.

  8. Corélio… no próximo cagão, pense sobre o seguinte:
    “Luz ocupa espaço?”
    Físicos me disseram que não, pois luz é energia e energia não ocupa espaço.
    Mas se como algo que se desloca no espaço não ocupa espaço? Como é possível algo se mover sem ocupar o espaço por onde se move?
    Por outro lado, se ocupasse espaço, uma bola transparente, por exemplo, ocuparia mais espaço num ambiente iluminado que num quarto escuro, pois a luz transpaçando seu interior deveria deixá-la mais inflada.
    Alguém aí sabe me convencer de alguma das teorias?

  9. Noooossaaaa, muito profundo, seria a conclusão: nada é nada que é tudo, que por sua vez não é nada vezes nada, então eu não existo, logo, não penso e não sei quem sou nem prá onde vou.
    Beijim.

  10. Só falou uma merda: não dá pra comparar um ponto com zero e falar que já que retas são formadas por pontos, que não tem dimensão, números são formados por zero. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, porra.
    Uma reta tem uma dimensão. Um ponto tem zero dimensões, e pode ser definido por exemplo como o encontro de 2 retas concorrentes. Assim como uma reta pode ser definida como o encontro de dois planos concorrentes.

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