O Diabo e o Bom Deus

Se eu já não amasse o Pedro, passaria a amá-lo por ter me emprestado O Diabo e o Bom Deus, de Jean-Paul Sartre. Trata-se de uma peça de teatro ambientada (existe isto, “ambientada”?) na Alemanha Renascentista. Mas isso é só desculpa para provocar no leitor (ou expectador ESPECTADOR) uma profunda reflexão sobre a natureza do Bem e do Mal. Soa pesado? Pois não é! Leitura agradabilíssima, com momentos muito engraçados (a cena da venda das indulgências me fez rir sozinho no ônibus; eu sempre pago esse mico). E há um trecho no final que me fez chorar (e engasgar com uma fatia de pão com requeijão):

[…]Supliquei, pedi um sinal, enviei mensagens ao Céu: nenhuma resposta. O Céu ignora até o meu nome. Eu me perguntava, a cada minuto, o que eu poderia ser aos olhos de Deus. Agora, já sei a resposta: nada. Deus não me vê. Deus não me ouve. Deus não me conhece. Vês este vazio sobre nossas cabeças? É Deus. Vês esta brecha na porta? É Deus. Vês este buraco na terra? É Deus, ainda. A ausência é Deus. O silêncio é Deus. Deus é a solidão dos homens[…]

A leitura vale a pena. Recomendo uma garimpagem pelos sebos.

13 comments

  1. Há uma patrulha crédula, que exige dos pensadores uma fé em Deus. Qualquer que seja esse deus, desde que se configure uma “entidade superior”.
    Por questões que envolvem pressões religiosas (logo, pressões financeiras), e manobras de grupos fechados (Opus Dei, Maçonaria etc), pensadores de muito vulto já assumiram a “crença em Deus”.
    Guardadas as proporções, é uma circunstância relativamente similar à de Galileu quando desmentiu aquela bobagem de que a Terra fosse redonda. Onde já se viu tamanho absurdo? É claro que a Terra é um plano que divide o Céu do Inferno. E por aí vai…
    Os ateus são cobrados como são cobrados aqueles que duvidam de qualquer “unaminidade”.
    O grande problema é que o “ônus da prova” está com quem alega. E quem alega a existência de um Deus, seja ele uma entidade cósmica incorpórea ou um velhote gente-boa de barbas brancas, deveria provar a existência desse Deus.
    Ou então guardar sua crença para si.
    Os ateus não propõem nada. Tão-somente recusam a proposição daqueles que trazem os deuses de uma maneira, segundo os ateus, simplória demais e, claro, ridiculamente refutável.
    E culpam os que não concordam, em vez de levantar suspeitas sobre os que alegam sem provas…

  2. Falando em críticas pertinentes e bem fundamentadas, “expectadores” seriam aqueles tuberculosos que não gostam da peça e ficam cuspindo e expectorando nos atores?
    PS: Há ateísmos que se tornam verdadeiras religiões..

  3. Ai, Marcuaurélio, descobriu meu fraco: amo livros!!! Vou procurar rapidinho, mas ele vai entrar na fila junto com os outros 8…

  4. Taí, brigadão pela dica!
    Sabe de que livro você iria gostar (só que não é lá muito leve)? Os Versos Satânicos, do Salman Rushdie, que eu estou lendo.
    Crendo em Deus ou não, é uma leitura para pessoas críticas e inteligentes – nem sei como eu tô lendo! 😉
    Beijos!

  5. não me farei de rogado e irei procurar por este livro. mas se todos que estão dizendo aqui que irão atrás dele, realmente forem aos sebos para procurá-lo, fodeu. não restará um sequer pra contar estória.
    Marco Aurélio, maldito! eu te ODEIO! =)

  6. Ao contrário do “O Ser e O Nada”, também do Sartre que é bem pesadão! Recomendo também a trilogia “Sursis”, “Com a Morte na Alma” e “A Idade da Razão”
    Abraço e boa leitura!

  7. É engraçado, né? Quando eu li A Idade da Razão (tinha uns 16 anos) eu achei o livro sensacional, mudou minha vida, e coisa e tal! Era o melhor livro que eu já tinha lido na vida!!
    Eu reli o livro faz pouco tempo (no máximo um mês), e achei apenas regular. De regular pra bom, no máximo. A historinha é interessante, tem lá sua discussão filosófica, e tal, mas não é nada de extraordinário.
    MORAL DA HISTÓRIA: o que importa não é o livro; é o leitor.

  8. Walter, não sei quantos anos vc tem mas os prismas pelos quais a gente vê a vida (ou os livros/filmes que a gente lê/assiste) mudam e consequentemente, nossa opinião a respeito deles.

  9. É, também li A Idade da Razão na adolescência, e acho que se eu o reler hoje não sofrerei o mesmo impacto. Acho que quanto mais a gente se aproxima da idade da razão, menos o livro faz sentido.

  10. Noooooossa, Marco, vc quer mesmo me matar de tesao! Jean Paul Sartre foi demais! Acho que te amo, ate ja te pedi em casamento, mas vc nao respondeu…

  11. Comigo aconteceu a mesmíssima coisa com “A Idade da Razão”. Aos 16 anos era o livro mais fodido do mundo. Aos 20 foi um reencontro com velhos amigos. Aos 24 foi a prova de que eu era uma adolescente estranha.
    (Mesma coisa com “Os Dados Estão Lançados”.)

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