Os espiões (Números 13)

Pois muito bem: O povo estava acampado no deserto de Parã. Dêem uma olhadinha no mapa aí ao lado. Localizaram? Então, um pouco ali para o norte, nas cidades de Gaza e Jericó já começa Canaã. O povo estava chegando perto da Terra Prometida, portanto, e era hora de se começar a pensar em estratégias sérias e providências práticas para a invasão. E foi nisso que deus pensou quando chamou Moisés:
— Moisés, está chegando a hora da tomada de Canaã. Mas antes disso vocês precisam de informações sobre aquela terra.
— T-tá bom, Ja-Javé. P-pode f-falar.
— Falar o quê? Tá doido? Vocês que se virem para pegar informações, tá pensando que tomar a terra dos outros é moleza, que deus ajuda e pronto? Oras! Você vai é escolher espiões para irem até lá. Escolha um de cada tribo e me traga a lista.
Moisés assim o fez: Escolheu dentre os líderes das tribos aqueles que achava mais aptos ao trabalho de espionagem. E esta foi a lista que entregou a Javé:

Como sempre, um monte de caras com nomes estranhos. Tinha até um Setur, vê se pode. Setur parece nome de agência de turismo. Pois não é que no meio de todos esses aí, Moisés foi implicar justo com o nome mais normal, Oséias? Verdade! Mudou o nome do cara pra Josué, sabe-se lá por quê…
Bom, discussões onomásticas a parte, os espiões partiram de Parã com instruções claras: Deveriam ir pelo sul e subir as montanhas. E lá chegando deveriam prestar atenção em tudo: como era a terra, se o povo era forte ou fraco, se eram muitos ou poucos homens, se as cidades eram muradas, se a terra era boa para o cultivo, se havia matas. Deveriam também trazer algumas frutas da terra.
Com essas indicações em punho, foram para Canaã. Espionaram a terra de cabo a rabo. Subiram pela região sul e foram até Hebrom, onde encontraram três caras não muito comuns com nomes piores ainda: Aimã, Sesai e Talmai, que eram descendentes de uma raça de gigantes chamados anaquins. Muito cuidado aqui: quando a Bíblia fala em “gigantes”, não se refere a seres descomunais. Os três anaquins deviam ser da altura de jogadores de basquete. Mesmo assim, o suficiente pra assustar uma dúzia de israelitas baixinhos e narigudos. Depois os espiões desceram para um vale para colherem amostra de uvas. E cortaram um cacho tão grande que foi necessário pendurá-lo numa vara, que foi levada nos ombros de dois homens. Ficaram tão impressionados com o tamanho do cacho que botaram naquele lugar o nome de vale de Escol, que significa “cacho de uvas”.
Depois de 40 dias espionando a terra, os 12 líderes voltaram ao deserto de Parã para contarem as novidades. E as notícias que eles traziam não eram das mais animadoras:
— Moisés, você e Arão tão doidos se acham que a gente vai invadir aquela terra.
— P-por quê? A t-terra é r-ruim?
— Não, muito pelo contrário: a terra é excelente, olha o tamanho do cacho de uvas que trouxemos.

[Pausa para admiração de Moisés e Arão ante o tamanho do cacho dos caras.
DO CACHO DE UVAS, SEUS PODRES!]

— E-então q-qual o p-problema.
— O problema, Moisés, é que os caras de lá são grandes, fortes, sarados, espadaúdos, uma loucura! AFE!
— Menos, Nabi. Deixa que eu continuo. Mas então, os caras são grandes lá. Vimos até uns gigantes em Hebrom. As cidades deles são fortificadas, nem o capeta entra lá. Os amalequitas vivem ao sul, os heteus, os jebuseus e amorreus nas montanhas, os cananeus perto do Mediterrâneo e às margens do Jordão.
— P-perto do M-Mediterrâneo? M-moram bem e-esses c-cananeus, o c-condomínio lá d-deve ser uma f-fortuna. Mas q-quer dizer e-então que t-tem a-até ET n-naquela t-terra?
— ET? Que ET, Moisés?
— N-nas m-montanhas. V-você que d-disse.
— HETEUS!
— Ah… M-menos m-mal.
— Menos mal mas não ajuda em nada. Essa invasão é impossível, Moisés. Melhor a gente desistir.
Os curiosos, como era de se esperar, foram se juntando ao redor dos líderes conforme a conversa prosseguia. Não demorou para começarem os rumores. “O que ele disse?”. “Fala mais alto, porra!”. O desconforto ia aumentando enquanto os espiões despejavam seu balde de água fria. E o povo começou a fazer o que mais sabia: reclamar. E a reclamação toda podia se resumir em “Xi, fodeu…”. Mas Calebe, o espião da tribo de Judá, pediu a palavra e conseguiu se fazer ouvir no meio da balbúrdia geral:
— Ô, cambada, não é bem assim. Esses caras tão exagerando! Se a gente for agora e atacar de surpresa, vai dar certo. Eles são fortes, é verdade, mas nós também somos. Bora atacar aqueles mequetrefes!
— Cê andou fumando aquela planta lá deles, né, Calebe? Tá bem louco? Os caras acabam com a gente! Sem chance.
O discurso de Calebe, embora cheio de boas intenções e fé, não surtiu efeito. O povo preferiu acreditar nas informações trazidas pelos outros. E como sempre acontece nessas ocasiões, a notícia ia ficando pior conforme corria de boca em boca:
— Parece que a terra não produz o suficiente nem para os moradores de lá, imagine pra nós.
— E os caras são grandes, gigantes, pelo que disseram.
— É isso mesmo, gigantes! Um dos espiões me disse que eles se sentiam como gafanhotos perto deles.
— Nossa!
— Pois é, menina.
Como podemos ver, a rádio-peão existe desde aquela época. O desânimo do povo logo transformou-se em revolta. Mas falaremos disso no próximo capítulo.

9 comments

  1. Calebe não era aquele careca que fazia os comerciais das Lojas Americanas?
    Já Oséias eu sei quem é: aquele jogador que tinha um penteado bizarro – mullets com Soul Glo – e jogava se não me engano no Cruzeiro.

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