Os israelitas partem do Sinai (Números 10)

O povo não agüenta mais ficar parado na planície do Sinai esperando alguma coisa acontecer. Sabedor disso, deus orienta Moisés nos últimos preparativos para a partida:
— Moisés, eu quero que você faça duas trombetas de prata.
— V-vai m-montar um n-naipe de m-metais, Ja-Javé?
— Mané naipe de metais, vê lá se eu tenho tempo pra essas coisas! Essas trombetas vão servir pra reunir o povo. Quando as duas forem tocadas ao mesmo tempo, todo o povo virá para a entrada do Tabernáculo. Quando só uma for tocada, é sinal para reunião do staff, apenas os chefes dos grupos virão.
— S-só i-isso?
— Não, tem mais. As trombetas servirão também para sinalizar a partida da caravana, pra não embolar todo mundo e virar aquela zona. Então quando vocês forem levantar acampamento, as trombetas deverão ser tocadas assim: Pá-pá-pá-pá. Ao ouvirem esse som, as tribos acampadas no lado leste deverão sair. Aí as trombetas serão tocadas novamente: Pá-pá-pá-pá, e então será a vez das tribos acampadas ao sul, e assim por diante, seguindo a seqüência determinada.
— T-tá. M-mas co-como é que o p-povo v-vai sa-saber q-quando é pra v-vir se r-reunir aqui e q-quando é pra p-preparar a p-partida?
— Ah, bem lembrado: Eles vão saber pela diferença do toque. O toque para reunião do povo será mais longo, algo assim: Parapapáaaaaaaaaaaaaa. Entendeu?
— E-entendi. P-p-p-p-parap-p-pa-páaaaa.
— Hum. Ainda bem que não vai ser você o corneteiro, ia demorar pra caralho…
— Hu-humpf… Q-quem vai t-tocar as t-trombetas?
— Pois é, acho que vou deixar isso pros filhos de Arão.
— T-tá bom. S-só i-isso?
— Tá apressadinho hoje, Moisés? Calma, cês já tão aqui há mais de um ano, meia horinha não vai fazer diferença. Se você continuar assim vou te dar uma boa sugestão do que fazer com as duas trombetas cruzadas…
— …
— Assim que eu gosto. Bom, as trombetas serão tocadas também durante a batalha. Porque, sabe como é, eu gosto de tirar meus cochilos e pode ser que eu esteja dormindo na hora que vocês estiverem guerreando. Aí os sacerdotes tocarão as trombetas bem alto, para garantirem que eu esteja acordado para acudir vocês. E nas festas as trombetas também deverão ser tocadas, que é pra eu lembrar que é dia de festa e botar uma roupa maneira. Beleza?
— B-beleza.
— Então já manda uma mala direta pra todo mundo explicando o negócio das trombetas, que amanhã mesmo cês vão picar a mula daqui.
E assim fez Moisés. No dia seguinte, a fumaça sumiu de cima do Tabernáculo.
— A-Arão, o Ja-Javé apagou o b-baseado. F-fala p-pros s-seus fi-filhos co-cornetarem pra a-avisar o po-povo da p-partida.
— Podexá. Ô, seus songo-mongos! Ao meu sinal, toquem Pá-pá-pá-pá.
— Em que tom, pai?
— Como assim, em que tom? Porra, sei lá. Sol.
— Maior ou menor?
— QUE IMPORTA O TAMANHO??? Toquem logo e não torrem!
Então os filhos de Arão tocaram as trombetas em qualquer tom. Eles não tiveram tempo para tomar aulas de música, então vocês podem imaginar o sonzinho de taquara rachada que saiu. Mas o povo já estava preparado, e todos começaram a marcha seguindo a ordem estabelecida: Primeiro saiu o grupo que marchava sob a bandeira da tribo de Judá, acampados a leste. Então o Tabernáculo foi desarmado e os gersonitas e meraritas saíram carregando a tenda. Depois foi a vez do grupo da tribo de Rúben, seguidos pelos coatitas, que carregavam os objetos sagrados do Tabernáculo. Esse intervalo era importante, para que quando os coatitas chegassem ao novo acampamento já encontrassem os gersonitas e meraritas com a tenda armada. Sem trocadilhos, por favor. Bom, depois dos coatitas partia o grupo da tribo de Efraim, e por último o grupo de Dã.
Dã.
Dãaaaa.
Dã!
Hehehe.
Tá, parei.
Bom, no meio daquela multidão toda Moisés encontrou Hobabe filho de Jetro, e midianita assim como ele.
— Ô cu…
— Hã?
— Ô c-cu…
— OLHA O RESPEITO, MOISÉS! TE QUEBRO A CARA! JÁ NÃO BASTA COMER MINHA IRMÃ???
— D-deixa eu t-terminar, p-porra! Ô c-cu-cuuuu-cunhado…
— Ah, bom.
— A ge-gente tá i-indo prum l-lugar aí que Ja-Javé p-prometeu. E-ele p-prometeu também f-fazer de I-Israel uma n-nação g-grande e ri-rica. Q-quer ir c-com a ge-gente?
— Hum… Nah. Cês são tudo sem terra, eu não participo desses movimentos comunistas. Vou voltar lá pra Midiã, que lá eu tenho minha casinha, minha vidinha…
— M-mas que b-bobagem, r-rapaz! V-você precisa s-sonhar a-alto! O-olha, v-vamos fazer o s-seguinte: v-você é um c-cara que c-conhece muito bem o d-deserto. Se v-você topar ser n-nosso g-guia, q-quando ch-chegarmos a C-Canaã vou a-arrumar um p-pedaço b-bom de t-terra pra v-você.
— Ué, mas vocês não vivem dizendo que esse deus aí vai guiar vocês pelo deserto e coisa e tal?
— Hum. É, a ge-gente d-disse. Mas, c-cá e-entre n-nós: n-não c-confio m-muito no Ja-Javé. Capaz de e-ele se p-perder e a-atrapalhar n-nossa viagem. E aí, v-você vem ou n-não?
— Bah. Vamos aí, vai. Tô precisando mesmo viajar um pouco.
— I-isso aí, Ho-Hobabe! V-você não vai se a-arrepender.
— Espero mesmo.
E foi assim a partida do povo de Israel, depois de um ano no Sinai, agora com um guia para auxiliá-los na longa jornada até Canaã. Além do guia, tinham também a fumaça do baseado de deus, que ia à frente do povo. Essa primeira etapa da viagem foi uma caminhada leve de três dias. Toda vez que eles levantavam acampamento Moisés dizia:
— A-acorda, Ja-Javé do céu / q-que a t-trombeta já t-tocou / O p-povo já tá s-saindo / E vo-você ainda n-não a-acordou.
E quando resolviam acampar nalgum lugar, cantava outra musiquinha:
— B-bicho papão / S-sai de ci-cima do t-telhado / De-deixa o Ja-Javé / D-dormir s-sossegado.
E a viagem foi assim, feliz e harmoniosa. Pelo menos por um tempo. Porque quando o povo chegou em Taberá… Bom, depois eu falo de Taberá.

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