All the lonely people, where do they all belong?

Demorou, mas ela veio. Como um resfriado cuja chegada você adia com remédios, e quando chega vem com força redobrada, a tristeza que eu vinha evitando abateu-se sobre mim com todo seu furor estúpido.
Não sei o porquê. Nada de especial aconteceu hoje. Tive motivos fortíssimos para tristeza esta semana, e continuo muito triste com o que aconteceu. Mas esta é a outra tristeza. A que tem razão de ser: Algo ruim acontece, você fica triste. Causa e conseqüência. Algo com lógica.
A de agora é a velha tristeza, minha companheira desde sempre. Não tem razão de ser, apenas é parte das minhas características, tanto quanto a calvície, os dentes ruins ou o gosto pelas palavras. Às vezes eu mando nela, às vezes ela manda em mim. E hoje ela resolveu tomar as rédeas com toda a força.
E olha que eu tentei evitar. Mantive a mente ocupada o dia todo. Depois fui para a aula de volante (que foi uma lástima). Ainda sentindo o espreitar da melancolia, fui ao happy hour com o povo do Neurônio Descontrol. Muito bom, como de hábito. Mas nem encontrar esse pessoal espantou a tristeza. Mesmo a presença de Camila foi insuficiente.
Yadda yadda yadda, JMC virou diarinho, a avó do Panda de cueca.
Então vim no metrô ouvindo Aretha Franklin no meu discman. Quando desci na minha estação, Aretha começou a cantar Eleanor Rigby. E aí juntou tudo e eu comecei a chorar. Sim: Um gordo careca chorando numa estação do metrô. Não precisam me dizer nada, sei que é patético.
Comecei a pensar na minha solidão absoluta. Rob Fleming, personagem de Alta Fidelidade, diz que somente pessoas com uma determinada inclinação têm medo de ficar sozinhas pelo resto de suas vidas aos vinte e seis anos de idade. Eu sou, sem dúvida alguma, uma dessas pessoas. Sempre desconfiei que a solidão seria meu destino. Aos vinte e cinco anos, tive certeza. E às vésperas dos vinte e oito, o pouquinho de dúvida que eu tinha sumiu de vez. Hoje eu sei que vou morrer sozinho num apartamento barato no centro da cidade. E levará dias para alguém saber disso, só mesmo quando o cheiro do meu corpo em decomposição se tornar insuportável mesmo para minha vizinhança sórdida.

E a guerra, hein? Que coisa…

42 comments

  1. é fogo! quando a dor vem e ataca não há muito o que fazer, apenas aguentar firme e esperar, que ela passa ..
    pode ser que leve muito tempo ou pouco, mas passa. Eu acho ainda que as pessoas sofrem muito devido ao apego com a felicidade, alegria ou seja lá o que for.. Mas não há outro remédio senão sofrer e sentir a dor, depois BUM!! sobe de novo, pq qnto mais vc desce, mais vc sobe depois!!
    Falou Marcão!!! Um abraço!!

  2. Pois é, Marco
    Você sabe bem que não vai ser assim não. Por isso mesmo você pode dizer, pois tem nossos colos para a sua tristeza.
    Paz pra ti, meu amigo. Foi muito bom ver você hoje.

  3. A tristeza intermitente, que vai e volta, que mais volta e sempre volta. É como se estivesse tatuada em você e em mim, não na pele porquê seria fácil escondê-la ou apagá-la, mas na medula, onde qualquer tentativa de remoção implicaria em uma mudança drástica de estado. Gosto de ser triste. Penso menos em coisas insignificantes. Reflito mais antes de falar. E, mesmo negando até o último momento, seremos nós que seremos lembrados por estarmos sempre com um semblante sóbrio, enquanto as hienas passarão apenas como mais um sorriso insosso na vida.

  4. Li uma frase hoje que combina muito com a melancólia, depressão ou seja lá que joça deprimente for. A frase:
    “Eu prefiro arriscar. O medo inibe e infelicita. Só os que ousam conquistam a felicidade.”
    Tá, eu sei que na prática é foda. Mas porra, vamos tentar.
    Essa guerra é uma merda, já que vc tocou no assunto.
    Beijos

  5. Acho que não posso dizer “não fica assim, vai passar”. Isso é clchê demais.
    Mas tenha a certeza que a sua presença ontem me fez bem. Viu?!
    Hey, não esqueça que no livro, Rob termina feliz!
    E páre com a morbidez, vai… A parte da decomposição foi foda. Ganhou até do ranho… (desculpe… era só pra vc lembrar e rir)
    Beijo

  6. Você é um romântico cara!
    Se é que você me entende… No real sentido da palavra.
    Não há só um ser pensante (de verdade) que não cultive uma certa melancolia, a tristeza de uma existência é tão bela quanto a alegria.
    Melhor uma tristeza genuina, que um riso fútil.
    Mas meu melhor comentário seria um respeitoso silêncio.

  7. Música, meu velho, o que me tira desses estados de melancolia crônica é a música. Ou, pelo menos, ajuda. Permaneça ouvindo Aretha que já já ela te tira dessa.
    A propósito, Cá, vc acabou não contando a estória do seu famoso amigo Xícara…

  8. Sempre acreditei que a vida tem dois caminhos. Você pode escolher qual dos dois quer seguir. Nossa jornada diária é consequência das escolhas que você fez nas “bifurcações” anteriores. Num momento como este, quando a tristeza se apodera de você, é difícil voltar atrás e tomar o “outro caminho”. Mesmo assim, não podemos deixar de tentar. É muito duro saber que não somos donos do nosso destino, mas, pior ainda, é saber que a tristeza se apoderou do pouco de controle que nos resta.
    Tende derrotá-la, levante a cabeça e opte pelo caminho mais feliz!
    Beijo

  9. Corélio,
    o jeito qdo ela se apodera é deixar rolar, assumir a condição de que “eu estou muito tristee e sozinho agora” e chorar mesmo, no metrô, debaixo do chuveiro……..curte essa tristeza pra ela te ensinar alguma coisa…….aos poucos ela vai melhorar e te trazer uma sensação boa….se estiver demorando muito, come um chocolate…rs…..talvez ajude!

  10. situaçãozinha patética a sua…
    mas não se aflija, um dia ela passa, tempos piores virão… mas com eles, os melhores também…
    pára de esquentar a cabeça com tudo… abandone seus pensamentos por um tempo. Comigo isso funcionou…

  11. eu poderia dizer “sei como é isso, sinto a mesma coisa”, ou “obrigado por dizer exatamente o que sinto”, mas seria muito babaca. Justamente porque sei que nunca é a mesma coisa. Cada um tem sua própria tristeza, sua própria solidão, que nunca é igual.
    E o que é pior: descobri que não sou o único a me sentir assim. E nem você.
    Não temos sequer o direito da exclusividade.
    Merda de vida.

  12. -Ola,Marco Aurelio!
    porra cara,acho que vc tem que procurar ver os porquês da sua tristesa,sua auto estima está em baixa,saiba que vc sempre terá a seu lado seus amigos e sua família para dar apoio,jamais ficarás sozinho.acho que o que vc está passando é um processo natural de uma pessoa de uma sensíbilidade muito grande
    é aquele sentimento de não estar conseguindo conectar-se mentalmente a o que vc acredita!
    -Força Véio!!
    um abrç

  13. Eu acho que você vai terminar sua velhice com um bigodão bem estilo do Nietszche e vai divertir todos os seus sobrinhos-netos com o tão afamado [balançabigode- balançabigode- balançabigode]…

  14. As últimas duas linhas dessa parte melosa vc chutou o balde, mas blz!…
    Pois então…qd a trsiteza vem desse jeito e a gente acha que tudo acabou, o que menos queremos é um “Força Marco”, estamos é afim mesmo é de curtir a dor, de ver como somos melodramáticos.
    Eu qd to assim eu oucço legião, naum gosto de legião mas essa frase me faz chorar mais ainda..:”Tudo é doooooorrr e toda dooooor vem do desejooo, de não sentirmos dooooor…”
    divirta-se…bjocas

  15. Marco essa sensação de solidão eterna acho que a grande maioria de nós temos, mas uns disfarçam melhor que outros… Só nos resta aprender a lidar com isso e procurar alguém que nos ajude a curar

  16. tem que lembrar quer tem gente casada, com filhos e milhões de “amigos” que se sentem muito sós tb….a questão, creio humildemente eu, é conseguir estar só e muito bem, daí você atrai o mundo todo marco…difícil sempre é. mas sozinhos sempre estamos..
    beijo, força aê.

  17. Velhão, é o seguinte: um amigo já me disse uma vez que eu tenho a mania de ficar sentindo pena de mim mesmo por puro masoquismo, que eu sou melancólico de propósito pq acho que tem algo de romântico (no sentido byroniano da palavra) nisso. Não estou dizendo que esse é o seu caso, tô dizendo que talvez seja o meu. Agora, eu tb acho Alta Fidelidade um livro do caralho, mas já vou avisando que pessoas que gostam do livro e se identificam com o personagem principal tem a tendência de só se fuderem na vida. Talvez no livro baste se deitar na lama no meio da chuva e esperar que ela venha te salvar. Na vida real, as coisas não são nem de perto assim, e vc pode se preparar para rearrumar sua coleção de discos várias e várias vezes.
    Sempre que eu fico assim, do jeito descrito no seu post, aparece alguém para me recomendar terapia. Eu nunca fiz.

  18. Cinco melhores músicas para se ouvir lendo esse post:
    1) Beatles – For no one
    2) Bob Dylan – Positively 4th street
    3) Francis Dunnery – Good life
    4) Wilco – How to fight loneliness
    5) Rogério Skylab – Motosserra

  19. Eu me identifiquei muito com esse post. Apesar de estar com 52 anos, ter casado tres vezes, ter dois filhos, ter meus pais vivos, alguns poucos grandes amigos, também tenho essa sensação, minha velha conhecida, desde muito cedo… Pensava que era coisa da adolescência, depois fui inventando novas desculpas. Mas, de vez em quando, ela(a tristeza) aparece. Acho que ajuda ouvir músicas BEM tristes, chorar muito, fumar(optativo)cigarros caretas, beber todas, morder o cotovelo, olhar pro céu, deitar no chão… Quando vc se der conta, passou. Até a próxima…
    Sempre fui um pouco a palhaça das turmas que tive. Acho que alguém já disse que os palhaços são, lá no fundo, seres muito tristes. Será?

  20. . Rob Fleming, personagem de Alta Fidelidade, diz que somente pessoas com uma determinada inclinação têm medo de ficar sozinhas pelo resto de suas vidas aos vinte e seis anos de idade. …
    Depois de falar sobre alta fidelidade o q mais posso dizer….

  21. “Sozinha atravessava o Sena, caminhava para o apartamento vermelho. Mas não era a solidão orgulhosa de outrora. Ela era apenas uma mulher perdida sob o céu” (Simone de Beauvoir, “Todos os homens são mortais”).
    Há momentos em que sentimos orgulho de nossa solidão porque estamos com a gente mesmo, outros, ela é tão cruel que chega a apavorar, ainda que estejamos acompanhados por alguém incrível, pois nesses momentos estamos perdidos de nós mesmos.

  22. Sei lá… Eu acho q solidão mesmo nao existe… Assim como felicidade e tristeza. Existem momentos solitários, tristes e felizes. Eu tenho namorada, amigos, pai, mae… mas tem horas em q eu deito para dormir e a solidao me atinge em cheio. E eu sei q isso pode ser a qualquer momento. Seja na cama ou no metrô. Uma coisa q eu sempre faço é manter minha cabeça ocupada… “Pare de pensar”, esse é a minha filosfia de vida… Força Marcão, eu sei q vc nem me conhece, mas força guri, “nunca nada é assim pra sempre” 😉

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