Banca de jornal

Comprar “aquelas” revistas é sempre uma tarefa complicada. E não venham me dizer que são outros tempos, que tudo hoje é natural, que já não vivemos numa sociedade moralista, que etcetera. Porque o fato é que certas publicações não são, digamos, socialmente aceitáveis.
Ontem mesmo precisei comprar uma revista. Tratei logo de ir a uma banca longe tanto de casa quanto do trabalho. Entrei na banca, e já dei de cara com um obstáculo: A balconista era uma mulher. Mas achei que não ficaria bem dar meia volta e sair. Além do mais, não pretendia voltar lá mesmo. Então botei meu plano em prática.
Para começar, peguei a Playboy. A moça do balcão sorriu pra mim.
— Linda essa moça, não?
— Pois é. Peitões.
— Verdade! Lindos!
Devolvi o sorriso e continuei pegando revistas. Peguei a Sexy e a Ele & Ela. Olhei em volta, como se estivesse em dúvida. Cheguei mesmo — ah, eu sou um ator! — a pegar algumas revistas e devolvê-las à prateleira, como se estivesse mesmo escolhendo. Mas ainda estava longe do meu objetivo real, então continuei disfarçando. Peguei um exemplar da Raspa Brazil e uma Hustler. Para reforçar mais ainda as aparências, juntei à pilha uma G Magazine e uma Travestis.
Considerando que já era uma quantidade razoável, dirigi-me ao caixa. No meio do caminho, vendo onde estava a publicação que era a única que me interessava mesmo, parei e fingi procurar dinheiro na carteira. Para facilitar, botei minhas revistas sobre onde estavam os exemplares da Veja. Quando peguei a pilha de volta, trazia uma Veja sob ela. Gênio! Gênio!
A moça continuava sorrindo.
— Puxa, a Sexy está demais esse mês, não? Olha a carinha de safada dessa menina…
— Pois é.
— Hum… Raspa Brazil, boa escolha. UAU! Esse rapaz da G Magazine desse mês é super bem dotado.
— É, fiquei sabendo.
— Nossa, e o Mauricio Suellen na capa da Travestis, nem tinha visto! Ela faz um sucesso danado em Madri. E…
O sorriso sumiu repentinamente de seu rosto. Gelei e me preparei para a reação de intolerância.
— Olha, acho que o senhor pegou isto aqui por engano…
“Isto aqui” era a Veja, que ela segurava na ponta dos dedos com visível repugnância.
— É que… Er… O… É que tem o Verissimo, sabe?
— Sei. Verissimo. É o que todos falam.
— Mas é verdade! Juro!
— Tudo bem, não tenho nada com sua vida.
— Não, não! Eu faço questão de esclarecer! Voto no PT desde sempre! Tenho até um autógrafo do Suplicy em casa. Leio Sergio Buarque de Hollanda e Celso Furtado.
— Ahan. E deve ter um pôster do Marco Maciel na parte de dentro da porta do guarda-roupa.
— Moça, por favor, é sério! Eu…
— Senhor, não vou discutir.
Falou o valor da compra. Paguei e nem esperei o troco: Saí da banca todo ressabiado, olhando para os lados com receio de que mais alguém tivesse visto a cena.
Estão vendo? Não é fácil!

71 comments

  1. Da proxima vez, leva umas duas revistas veja antigas, disfarça, pega umas novas (que não seja veja), anda pra lá, anda pra cá, coloca tudo em cima das vejas novas, devolve as que você pegou (novas), e pega as velhas e uma da nova. Fácil não?!.

  2. O texto é bom mas você deve ser um daqueles “esquerdistas-sem-causa”, daqueles que odeiam a Rede Globo, a revista Veja, mas se te perguntarem, não sabe nem responder o porquê.

  3. podia ser pior. Imagina se a reportagem do Verissimo estivesse na Correio Universal,o jornal da Igreja Universal. Acho que a Veja é muito melhor do que aquilo.
    um abraço.

  4. E eu, que tive que me explicar pro meu marido por comprar uma Veja com matéria de capa sobre os evangélicos! Até entender que era pra uma pesquisa…

  5. pq todo esse preconseito contra a VEJA, eu acho uma ela uma das melhores revistas que existe, possui um ponto de vista nas materias que nenhuma outra aborda, vasculha a fundo os fatos e os publicam, tem o Verissimo, que eu considero um dos melhores colunistas no Brasil, apesar de não ser PTista como o nosso amigo Marcaurelio…

  6. Cara,
    Melhor que esse seu post só os argumentos dos caras que tomam as dores e vem defender a revista, cada um mais inteligente que o outro,no primeiro post em que vc fala que da dita cuja um tal Comentarista(acho que foi esse) escreveu um texto tão grande e engraçado quanto esse seu post de agora, nota-se na hora na (pelos argumentos) que é leitor da “ÓIA”.

  7. Realmente, é difícil saber o “porquê” de a Veja ser uma bosta, né? Nunca pensamos nisso…
    Por quê? Por quê? Por quê?
    E por que a Rede Globo também é um cocô? Caramba!
    Difícil quando nos deparamos com questões assim… rárárá
    Seu “esquerdista-sem-calças”.

  8. Eu sou assinante da VEJA e tals, naum acho uma boa revista(poluida de anuncios).
    A GLOBO e a VEJA saum um coco pq tudo que eh meio de comunicacao que se direciona pras “massas” acaba ficando assim…Primeira regra da mídia:”Dê às pessoas o que elas querem.”
    Essa regra fala por si soh…Logo, a TV eh uma bosta pq o povo naum sabe escolher outra coisa ou naum conhece o botão POWER do controle remoto…(quem naum tem controle remoto aperte o POWER no televisor…Se naum achar puxe o fio da tomada)

  9. ok. ok. NOW, THIS IS FUNNY: the worst thing in the world for you shall be this stupid people commenting your blog.
    cambada de ananás que provavelmente te fazem sentir feito um mangolão. meus pesames.
    pior coisa do mundo é não ser entendido, e não ter o feedback à altura.

  10. Semi Deus… Simplesmente as matérias da Veja são patrocinadas, pra nao dizer compradas, e são redigidas segundo os interesses de quem está pagando.
    Ela é completamente parcial. E vira e meche está se contradizendo

  11. Marco, lembrei de você hoje. Aqui em casa assinak a Veja (e confesso que rio muito ao ler :). Tenho, há algumas semanas, um filhotinho de periquito, que crio solto. Aí, hoje de manhã, soltei-o enquanto tomava café na sala. Tinha uma Veja em cima do sofá. Ele voou da minha mão até em cima da revista, fez cocô e vôou de volta.
    Juro que não é mentira 🙂

  12. Aliás, a risada desse mês foi com a matéria sobre a soja. Já que você comprou a revista, dá uma lida. E tenha em mente tudo que eles já falaram de mal quanto a transgênicos. Na matéria, transgênico virou sinônimo de modernidade…

  13. Marco, você não acredita nesses comments todos, acredita? Engolir todos esses elogios pode fazer mal. Pode ser um conselho desnecessário, pelo que peço desculpas de antemão, mas, por favor, não perca a autocrítica – ou transforme-se lenta e dolorosamente no Jô Soares.

  14. Porra! Há tempos que leio seus textos. Soube, inclusive, da festa de 1 ano do JMC, quase que fui (o Central é do lado de casa) de bicão, mas sempre refutei, tímido, até.
    Mas diante desse seu sensacional texto escalavrando a mequetrefe Veja, não resisti! Sou obrigado a congratulá-lo!
    Parabéns, Marco Aurélio!!!
    Abraço e valeu pelo site!

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