Os animais puros e os impuros

(Levítico 11)
Com Arão um pouco mais calmo depois da conversa, era hora de deus botar em prática seu novo método de trabalho, falando com os dois irmãos, e não só com Moisés.
— Muito bem, chamei vocês aqui pra gente começar a se aprofundar nas leis e rituais que eu tô bolando cá dentro da cachola. Tá ficando uma beleza, cês precisam ver. E pra começar, nada melhor que a lista de animais puros e impuros.
— Animais puros e impuros? Que palhaçada é essa? Os bichos vão ter que tomar banho agora? Ou é outro tipo de pureza? Vamos ter que manter as fêmeas virgens?
— Arão, Arão… Você precisa ser mais tolerante.
— Eu sou tolerante. Tolerante até demais. Nunca saí por aí matando os filhos dos outros, veja você.
— Ô, rapaz, cê nunca vai esquecer essa história? Fala com seu irmão, Moisés.
— É, A-Arão. Pe-pega le-leve, se não é c-capaz do Ja-Javé ma-matar a gente.
— Não é pra tanto, Moisés. Estou tentando mudar, conter meu temperamento. Vocês vão ver, a partir de agora vou ser o Javezinho Paz e Amor.
— Sei.
— Pode acreditar!
— Tá bom. Fala logo aí o lance dos bichos sujos e imundos.
— Não. Animais puros e impuros. É importante isso aí, pra vocês se diferenciarem dos outros povos. Pois muito bem, vamos lá: Vocês poderão comer a carne de todos os ruminantes que têm o casco dividido em dois. Vaca, cabra, essas coisas.
— Q-que po-porra de re-regra é essa, Ja-Javé?
— Ah, sei lá, pombas! Não tive tempo de fazer uma classificação decente das espécies, então resolvi adotar essa regra. Não me torre. Humpf. Como eu ia dizendo: Vocês estão proibidos de comer carne de camelo ou coelho, por exemplo. E sabem por quê?
— Porque começam com a letra “C”?
— Porra, Arão, também não precisa esculhambar. Cês não vão comer esses animais porque eles são ruminantes, mas não têm o casco fendido. Percebem? E também não vão comer porco, por quê?
— P-porque é u-um pu-puta bi-bicho s-sujo?
— Não.
— Pra não pegar solitária?
— Claro que não.
— E-então p-por quê?
— Porque o porco tem o casco fendido mas não é ruminante. Entenderam agora?
— A-acho que s-sim.
— Vejam só que bela regra. Agora para os peixes: Vocês podem comer todo peixe que tiver escamas e barbatanas. Qualquer bicho aquático que não tiver escamas e nadadeiras está riscado da dieta de vocês a partir de agora.
— Podemos mudar o nome do acampamento para “Spa do Javé”, que tal?
— Ah, Arão, quanta amargura no seu coraçãozinho… Anime-se, tudo isso é para o bem de vocês. Quanto às aves: São imundos os urubus…
— I-isso n-nem p-precisava di-dizer…
— Posso continuar?
— …
— Humpf. São imundos: Os urubus, as águias, açores, falcões, corvos, avestruzes, corujas, gaivotas, gaviões, mochos, corvos-marinhos, íbis, gralhas, pelicanos, abutres…
— Vixe, não vai sobrar nada…
— DEIXA EU FALAR, PORRA! Hum… Abutres, cegonhas, garças, poupas e morcegos.
— HAHAHAHAHAHAHAHAHA.
— Que foi?
— HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.
— QUE FOI, CARALHO???
— D-desde q-quando mo-morcego é a-ave, Ja-Javé?
— É ave se eu disser que é ave, ok? Eu que fiz o bicho e classifico como quiser. Não me encham o saco! Olhaí, perdi o fio da meada… Ah, faltam os insetos.
— Insetos? Quem é que vai querer comer inseto, Javé?
— Querer mesmo ninguém quer, Arão. Mas sabe como é a necessidade… Então fica assim: Os insetos que andam e voam são imundos. Vocês só poderão comer os insetos que saltam, ou seja, grilos e gafanhotos. E dos animais que eu não citei aqui são impuros todos os répteis, inclusive lagartixas, além dos ratos e toupeiras. Anotou tudo aí, Moisés?
— A-anotei. É s-só i-isso?
— É. Aí entram as regras complementares: Quem tocar no cadáver de algum desses animais impuros será considerado impuro até o pôr-do-sol. E qualquer coisa que tocar o cadáver de um desses animais, será impura. Bom, pega aqui a lista com maiores detalhes, tem aí o que fazer se um bicho morto cair dentro d’água, ou de uma panela, ou onde se guardam as sementes.
— Putz, é BEM detalhista mesmo, hein?
— É assim que eu quero, Arão. Quando vocês chegarem a Canaã, os povos que lá vivem vão comentar: “Puxa, que povo diferente, esses israelitas”.
— Vão é chamar a gente de esquisito.
— Pois que seja. Pelo menos não serão iguais aos outros.
— E-então tá b-bom, Ja-Javé. É s-só i-isso m-mesmo?
— Claro que não! Tenham paciência, que ainda tenho um monte de rituais malucos aqui pra vocês.

16 comments

  1. oProfeTa!
    Apesar dessas leis parecerem loucura nos dias de hoje, foi apartir delas que o povo judeu se diferenciava dos outros povos. Essas leis os fizeram mais saudáveis que os outros povos…

  2. oProfeTa!
    Talvez naquela época os judeus tenham ficado inveja dos povos que comem lagosta… Mas hoje, ao saber que a lagosta é como um ‘urubu’ dos oceanos, que se alimenta dos defuntos de outros peixes, que é responsável por muitos casos de intoxicação alimentar… Talvez eles não tenham tanta inveja assim…

  3. Puta que pariu,Profeta!!!
    Desde quando matar as pessoas a pedradas,cortar o pinto fora,comer pão sem fermento,se achar “a bolachinha recheada” do mundo,roubar terra dos outros e dizer que foi “deus que mandou” e venerar esse Moisés escroto,que era o Osama da época em que se amarrava cachorro com lingüiça,é coisa que se faça :0)

  4. Então é por isso que minha amiga disse que não come carne de porco…Sabe, Marco, a gente sempre acha que a religião que seguimos é a que está certa, a que conduz a Deus(qualquer que seja o nome que se dê a Ele). Lendo suas “escrituras” eu reforço minhas convicçoes cada vez mais. Acho que uma religião tem que se preocupar menos com o que comem ou bebem seus seguidores, e mais com o que eles podem dar de comer e de beber para os que precisam… Menos com o os “salamaleques” e rituais e mais com o que pensam, sentem e nas lágrimas que possam ajudar a secar e nos sorrisos que possam despertar.
    Ah, e vc é um dos ateus mais religiosos que conheço… Um beijo.

Deixe uma resposta para jess Cancelar resposta