Sonho doido

Dormi só três horas essa noite, mas valeu a pena pelo sonho. Que começa assim: Um cara vem andando pela Avenida Paulista à noite, uma garrafa de refrigerante na mão. Magrinho, pálido, cheio de espinhas na cara, de camisa de mangas curtas e gravata (ARGH!). De repente percebe algo estranho: A música que está ouvindo, sem saber de onde vem, fica mais alta a cada gole que toma. É um funk carioca daqueles bem ruins, e o volume já é ensurdecedor. Mas ninguém à volta dele parece incomodado, então ele deduz que a música está dentro da cabeça, e que é efeito do refrigerante. Joga a garrafa no lixo e continua andando.
Está naquele trecho da Paulista entre o Paraíso e a Brigadeiro, que é sempre meio deserto à noite. Vê um sujeito que vem em sua direção. Bem maior que ele, parece mal intencionado. Para se garantir, ele atravessa para o canteiro central. O cara faz o mesmo. Ele volta para a calçada, no que é imitado pelo sujeito. Desesperado, vê as luzes do SESC e entra.
— Que SESC, Chicoteia? Não tem SESC nenhum na Paulista!
Pois no meu sonho tinha. E era um SESC chique pra caralho, todo iluminado, cheio de seguranças. E nosso herói foi pedir ajuda a um dos seguranças, mas o cara respondeu que só era responsável pelo patrimônio do SESC, ele que procurasse a polícia. E ele deu sorte, porque tinha um PM logo ali na porta. Foi falar com ele, mas o policial disse que não era o departamento dele, que o negócio era ligar pro 190.
Muito puto, o magrelo entrou na banca de jornal que fica em frente ao SESC inexistente da Paulista. A banca tinha uma chaminé (é claro). Ele entrou pela lareira e saiu lá em cima, na chaminé. Desceu da banca mandando porrada pra todo lado. Derrubou os seguranças todos, o PM e o cara que o perseguia.

* * *

Corta para uma sala de cinema de shopping. Um moleque de uns oito anos e sua irmã pouco mais velha estão comprando refrigerantes. Ele compra uma marca nova para experimentar, ela compra uma fanta. Assistem ao filme, tomam seus refrigerantes e voltam pra casa sem que nada anormal aconteça.
À noite, as duas crianças estavam no quintal de casa quando o moleque olhou para o céu.
— Olha que avião esquisito.
— Que avião? Não tô vendo avião nenhum.
— Ali, ó.
— Cê tá doido.
Olhando com mais atenção, o moleque viu que não era avião coisa nenhuma: Era um ônibus espacial. Mas pelo que ele sabia, os ônibus espaciais costumam viajar a altitudes beeeeem maiores que os aviões, então ele não deveria estar vendo um. Foi quando resolveu olhar o céu com mais atenção. Ficou assustado com o que viu: cometas enormes, os anéis de Saturno, as luas de Júpiter, as crateras da lua. Contou para a irmã o que estava vendo.
— Mentira.
— Juro.
— Jura mesmo?
— Juro.
— Hum… Será que funciona ao contrário?
— Como assim?
— Como microscópio.
— Posso tentar.
— Peraí.
A irmã foi lá pra dentro e voltou trazendo uma caixa de sucrilhos. Na caixa havia um carro de fórmula 1 desenhado e o anúncio de um concurso mundial: Um cientista alemão conseguira gravar uma mensagem na superfície de um átomo.
(Estou imaginando a Bárbara revoltada com esse negócio de “superfície do átomo”. Hehehe)
Seria ganhador de uma quantia altíssima quem dissesse o que havia gravado no átomo. Então o moleque começou a se concentrar no desenho. E foi vendo o carrinho cada vez mais de perto, depois a fibra do papelão da caixa, viu um protozoário que se locomovia pela caixa, viu moléculas diversas. Quando estava vendo cada átomo isoladamente (ai!), viu a palavra “teste” gravada entre eles. Aprimorando mais ainda a visão, viu na superfície de um átomo de CARBONO (vai ter sonho detalhado assim na puta que pariu!) o desenho de três dentes, dois verdes e um vermelho, com uma linha preta no meio e “Parabéns” escrito em alemão (não me perguntem como é).
— Pronto. Achei a mensagem.
— Cê consegue desenhar?
— Acho que sim.
Então o menino desenhou os dentes e copiou a palavra em alemão e os dois saíram para buscar seu prêmio.
* * *

Manhã seguinte. Os pais das crianças estão na sala com uma vizinha. Sabem que os filhos sumiram, mas não parecem preocupados. E nesse ponto a verossimilhança do sonho, que já não era grande coisa, se perde de vez: o pai é o ator Pedro Cardoso.
A vizinha pergunta o que pode fazer para acabar com uma crise de soluços. A mãe, que parece não gostar muito dela, receita um copo água sanitária, que a vizinha toma de um gole só. Os soluços não passam, mas a mulher não morre nem nada. Estão naquela conversa besta quando a mãe ouve uma música meio abafada:
— Sorriiiiiiiiiia, meu bem! Sorriiiiiiiiiiiaaaaaaaa!
Procura por todo lado para saber de onde vem a voz. Estranhamente, parece vir de uma garrafa de regrigeranta. Ela abre a garrafa (que está quase vazia) e o volume aumenta muito:
— Sorriiiiiiiiiia, meu bem! Sorriiiiiiiiiiiaaaaaaaa! Porque a felicidade lalalalalalalaláaaaaaaaa!
Olhando dentro da garrafa, ela vê que quem está cantando é uma mosca que tomou um pouco do refrigerante.
* * *

A bagunça toda é interrompida pelos avós que entram na sala. E os avós são iguaizinhos aos pais, só mais velhos. O avô é o Pedro Cardoso de óculos. Eles mandam todo mundo calar a boca e a vizinha ir embora.
* * *

Cai o pano.

19 comments

  1. Qual é a marca do refrigerante mesmo? Seria “Acid Coke”?
    Essa história de escrever no à tomodeve ser coisa de quem cola em provas, coisa que eu nunca fiz e nem tenho interesse em repetir…

Deixe uma resposta para moskito Cancelar resposta