O bezerro de ouro

(Êxodo 32)
Opa! E aí, meu povo? Sentiram minha falta? Pois é, estive ausente esse tempo todo, mas agora já…
— Peraí, peraí, pára tudo. Quem é você, cacete?
Como assim, quem sou eu? Sou o narrador, porra!
— Narrador? Essa história não tem narrador, são diálogos entre deus e Moisés.
Ai meu saco, esses leitores de primeira viagem… A história tem narrador sim, só que os últimos capítulos foram só de diálogos. Agora voltei pra contar essa passagem que é muito importante para nossa história.
— Ah, entendi! Legal, narrador. Mas diz aí, que passagem é essa tão importante?
Puta que pariu, nego não presta atenção mesmo… Vamos começar de novo? Nosso assunto hoje é…
O bezerro de ouro
Moisés passou quarenta dias no monte Sinai. E conforme o tempo ia passando, a desconfiança do povo ia aumentando: Uns achavam que já tivesse morrido, outros que tivesse voltado ao Egito. Então alguns deles foram falar com Arão:
— Arão, cadê o teu irmão, cara? O cara tira a gente do Egito e depois some? Sacanagem! Na boa, esse tal de Javé aí que ele tanto fala deve ser invenção. Precisamos de outro deus e de outro líder para continuarmos nossa migração. E aí, que que você diz?
— Hum. Outro líder, é? Interessante… Façam o seguinte: Tirem todas as jóias de ouro que suas mulheres e filhas estiverem usando e tragam tudo pra mim.
— Nossa, Arão, a gente não sabia que você era tão vaidosinho!
— Não é nada disso, porra. Tragam lá os penduricalhos, eu sei o que tô fazendo.
Mesmo ressabiados, foram buscar as jóias e trouxeram para Arão. Ele derreteu tudo, despejou num molde e fez um bezerro de ouro.
— Valeu, Arão! Boa! Aê, galera! Esse é o nosso deus, que nos tirou da terra do Egito!
Arão, todo vaidoso de seu feito, disse:
— É isso aí! E amanhã teremos uma festa em honra ao nosso deus.
Na manhã seguinte, o povo trouxe alguns animais para serem oferecidos como sacrifício e outros para serem comidos. E, ao que consta, foram comidos nos dois sentidos: Os israelitas fizeram uma baita duma orgia, com muita comilança, bebida e putaria. O anjo Gabriel, que ia passando por ali, viu a zona toda e tratou logo de ligar para deus.
— Alô!
— Senhor, aqui é o Gabriel.
— Ô, Gabriel, diz aí.
— Tenho más notícias. Os israelitas arrumaram outro deus pra eles.
— Como é que é?
— É isso mesmo. Fizeram um bezerro de ouro e agora dizem que foi o bezerro que os tirou do Egito.
— Eles não fizeram isso!
— Fizeram, e não foi só isso: Estão oferecendo sacrifícios ao ídolo e aprontando uma puta suruba aqui embaixo.
— IMPOSSÍVEL! FILHOS DA PUTA!
E aí, como vimos no último capítulo, deus falou para Moisés descer do monte porque o bicho tava pegando lá embaixo.
— E desce depressa, Moisés. Esses filhos da puta que VOCÊ tirou do Egito me apunhalaram pelas costas.
— E-eu ti-tirei do E-Egito? Ué, n-não e-era vo-você q-que e-estava s-se ga-gabando a-até a-agora a po-pouco de t-ter li-libertado o po-povo?
— Não me contraria, Moisés, que eu já estou bastante puto sem isso.
— O q-que a-aconteceu?
— Eles fizeram uma porra de um bezerro de ouro e agora tão na maior putaria lá, dizendo que o tal bezerro é o deus deles. Puta que pariu, eu sabia que ia dar nisso! Ô povinho cabeça dura!
— Ca-calma, Ja-Javé.
CALMA É O CARALHO! Não tenta me acalmar não, que hoje ninguém me segura. Vou descer lá e acabar com a raça deles, não vai sobrar um! Mas você não se preocupe, Moisés: Vou começar tudo de novo com você, seus descendentes serão meu novo povo escolhido. Porque esse povo aí não deu certo.
— Ô, Ja-Javé, p-pensa bem. Cê te-teve a-aquele t-trabalhão to-todo pra ti-tirar o povo do E-Egito, com mi-milagres e p-pragas, e a-agora v-vai ma-matar t-todo m-mundo? S-será que va-vale a p-pena?
— Ah, Moisés, sei não, sei não. Porra, foi eu virar as costas um pouquinho e os caras já arrumaram outro deus!
— Ja-Javé, p-pelo m-menos se l-lembre da p-promessa q-que vo-você f-fez à-àqueles três ca-caras, co-como e-era m-mesmo o no-nome d-deles?
— Abraão, Isaque e Jacó. Bons tempos… Putz, e eu fiz um trato com eles, né? Cê tá certo, Moisés. Vou pensar com mais calma no que vou fazer. E você desce lá agora, pra ver direito o que está acontecendo, talvez Gabriel tenha exagerado.
— T-tá b-bom. A-até m-mais, Ja-Javé.
Moisés saiu e encontrou Josué dormindo embaixo do sofá da recepção. E ele nem se lembrava mais que tinha trazido Josué junto com ele.
— Jo-Josué? A-acorda, Jo-Josué! V-Vamos d-descer.
— Hum? Hã? Hein? Hein? Ah, oi, Seu Moisés. Terminou lá o papo com deus?
— T-terminei. E a-agora t-temos que d-descer r-rápido.
— Mas pra que a pressa?
— N-não po-posso e-explicar a-agora. V-vamos!
E lá foram Moisés e Josué descendo o monte. Moisés levava com ele as tábuas dos Dez Mandamentos. Já chegando perto do pé do monte, dava para ouvir uma gritaria que vinha do acampamento.
— Ih, Seu Moisés! Tá ouvindo o barulho lá embaixo? Parece barulho de guerra.
— G-guerra na-nada. T-tô o-ouvindo ge-gente ca-cantando.
— Porra, como são desafinados!
Quando chegaram perto do acampamento, viram o povo dançando e cantando em volta do bezerro de ouro. E Moisés, que tinha achado que a história toda fosse exagero do Gabriel, ficou muito puto: Deu um berro, quebrou as tábuas dos Dez Mandamentos e acelerou o passo na direção do bezerro. O povo, assustado com a repentina aparição do líder que eles julgavam morto ou desertor, deu passagem a ele. Moisés pegou o bezerro, queimou no fogo e moeu até virar pó. Depois espalhou o pó na água e fez o povo beber. Dado esse castigo, foi falar com Arão.
— Po-porra, A-Arão! Q-que me-merda vo-você f-fez a-aqui???
— Er. Hum. Veja bem, Moisés.
— Ve-veja b-bem é o ca-cacete!
— Calma, Moisés! Não fique com raiva do seu irmão. Não tenho culpa disso aí. Cê sabe como esse povo aí é mau. Vieram pra cima de mim com um papinho que achavam que você tivesse morrido. E, porra, cê ficou quarenta dias lá em cima sem dar sinal de vida, acabamos pensando o pior. E então eles queriam outro deus, e não sei o quê, e não sei que mais… Trouxeram para mim as jóias de ouro deles e aí… E aí…
— E a-aí…?
— E aí eu joguei as jóias no fogo e saiu esse bezerro! — Não estou inventando isso, podem conferir no versículo 24.
— Po-porra, A-Arão, co-conta o-outra!
Moisés ficou enfurecido. Para não descer o braço no irmão, saiu dali, foi para a entrada do acampamento, pegou um microfone e anunciou:
— Q-Quem é a-amigo d-do Ja-Javé, pa-passe p-para o la-lado de cá!
O povo estava com muita vergonha do que tinha feito, então ninguém se mexeu. Depois de um tempo, com a situação ficando muito constrangedora, os homens da tribo de Levi (que era a tribo de Moisés e Arão) se reuniram em volta de Moisés.
— Ah, e-então os le-levitas são a-amigos do Ja-Javé?
— Somos, Moisés!
Então Moisés deu a eles uma ordem tão cruel que nem Javé faria melhor: Mandou que saíssem pelo acampamento matando a sangue frio suas famílias, seus amigos e seus vizinhos. Eles obedeceram, e naquele dia mataram cerca de três mil homens. Moisés, que ao que parece tinha adquirido de deus a sede de sangue, ficou muito orgulhoso deles e disse que a partir daquele dia os levitas seriam sacerdotes de Javé. É justo: Para um deus sanguinário, nada melhor que sacerdotes sanguinários.
Depois da carnificina, Moisés voltou ao monte Sinai para falar com deus.
— Ô, Ja-Javé. E-eu vi o q-que a-aconteceu lá e-embaixo. N-não era e-exagero do G-Gabriel não. M-mas p-perdo e-eles, Ja-Javé.
— Que perdoar o quê, Moisés! Pensei bem e vou mesmo sair matando geral.
— S-se vo-você n-não v-vai p-perdoar o po-povo, po-pode r-riscar m-meu no-nome d-da s-sua a-agenda.
— Porra, Moisés, aí cê tá pegando pesado. Riscar seu nome da agenda de telefones? Mas você é meu amigo, Moisés! Vai deixar de ser meu amigo por uma bobagem dessa?
— V-vou.
— Cáspita. Tá bom, tá bom, deixa pra lá. Mesmo porque você já deu um bom castigo pra eles, com aquele papo de fazer eles beberam água com ouro em pó e depois ainda obrigar os levitas a saírem matando as pessoas mais próximas deles. Parabéns, estou orgulhoso de você. Mas agora trata logo de levar esse povo para a terra que eu prometi a vocês. Vou mandar aquele anjo lá, o segurança, pra guiar vocês. É melhor que eu não vá junto, porque estou com muita raiva dos israelitas, não vou agüentar. E, de uma forma ou de outra, vou castigar esse povo.
Então deus castigou o povo de Israel com uma doença. A Bíblia não diz que doença foi essa, mas não deve ter sido coisa suave, afinal estamos falando de um deus cruel.

12 comments

  1. Sabendo do seu interesse em visitar uma favela no RJ, devo deixar alguns conselhos.
    1º= arranje um guia na entrada da favela pra subir com vc
    2º= na˜o leve nada ale´m da roupa do corpo e va´ de chinelo de prefereˆncia, Tim Lopes morreu pq tinha uma caˆmera e na˜o pq era da Globo
    Conselho de Carioca

  2. Ah, e´ claro que vc na˜o vai chegar na boca e mandar, “Me veˆ um guia ai´, cumpade!” O que eu quero dizer e´ pra vc explicar pra um morador na entrada o que pretende fazer la´ e pedir pra ele ou algue´m te acompanhar.
    Lo´gico, isso se vc quiser mesmo subir a favela!

  3. HAHAHAHAHA esse capitulo pra mim foi o mais foda de todos AHAHAH o bezerro q saiu do nada das joias DE OURO dos EX-ESCRAVOS do egito tb foi muito foda ahahah

  4. Ta´, essa eu na˜o entendi… O bezerro na˜o era de ouro? Como e´ que o Moise´s conseguiu queimar, moer e dar pro povo beber com a´gua??? Ou o bezerro era de madeira com detalhes em ouro? Ou foi milagre?

Deixe uma resposta para Daniel, o Profeta Cancelar resposta