Sonho-Texto

Acho que todo mundo que tem esse costume feio de escrever já sonhou com textos. E o pior é que no sonho o texto é genial, aí cê acorda, lembra, e quase sempre é um puta negócio absurdo. Li uma entrevista com o Chico Buarque uma vez em que ele falava sobre isso. Sonhou com uma música prontinha, já com título: Samba da Biblioteca. Ele acordou e tratou logo de anotar a letra, que era boa demais. Bom, pelo menos no sonho. Ele só se lembra do primeiro verso: “Tem livro muito bom, tem livro muito pau”. Não precisa mais, uma música que começa assim não promete muito.
Mas eu estava dormindo no ônibus agora (sim, trabalho muuuuuuuuuito longe de casa) e sonhei com um texto que eu até que gostei. Reparem que eu não sonhei com a situação, mas com o texto já pronto. Transcrevo-o abaixo da forma mais fiel possível:
Ele dava aula para nós no primeiro grau. Bom, “dava aula” não é exatamente o termo: Ele entrava na sala, ficava olhando pras nossas caras como se estivesse se divertindo às nossas custas, e depois ia embora. Às vezes até tentava, mas se atrapalhava todo e voltava ao velho método. Fizemos abaixo-assinados para expulsá-lo da escola, mas ele era um velho amigo do diretor e permanecia lá, sempre.
Quando passamos para o segundo grau, nos livramos dele. Ou pensamos que sim, porque inventaram um tal concurso de teatro e ele foi escolhido como coordenador do nosso grupo. O homem se transformou: Berrava durante os ensaios, nos xingava de burros. Jogava longe tudo o que não o agradava: script, cenário, figurino. E quem, sem saber, aparecesse com algo que ele já havia jogado, corria o risco de também ser jogado longe. Foram três meses de inferno. No dia da apresentação, nosso grupo foi um grande sucesso, de tal forma que ele foi promovido a professor do segundo grau.
No dia da primeira aula dele, a sala estava em silêncio quando ele chegou com aquelas coisas esquisitas que os professores têm: réguas, compassos, transferidores e esquadros grandes e desajeitados. Chegou, correu o olhar pela sala e disse:
— O tempo está acabando.
Sentou-se. Ninguém respirava. Todos ansiavam pela conclusão do discurso, mas ele apenas ficou ali sentado, olhando de um para o outro e sorrindo às vezes. O silêncio constrangedor pesava sobre nós quando soou a campainha, e ele abriu a boca para falar novamente.
— O tempo acabou.
Juntou suas coisas, levantou-se e foi embora da sala.
Era o mesmo de sempre.

1 comment

  1. kra…. num sei se adianta de alguma coisa falar isso agora… jah q esse texto foi publicado a milenios… mas o texto do seu sonho ficou do caralho!!! muito bom!!!
    virei fã do jesus, me chicoteia e comecei a ler o blog desdo primeiro post… por isso soh vi esse texto agora!!!
    vlw!!!

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